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Mãe e cinco filhos lavam-se num alguidar

Mãe e cinco filhos lavam-se num alguidar

Família espera há treze anos por habitação social da Câmara de Vila Franca

Mãe e cinco filhos vivem numa casa sem condições no Bom Sucesso, em Alverca. Tomam banho num alguidar, estudam sobre os joelhos por falta de espaço e lutam todos os dias contra a invasão de baratas e roedores do andar de baixo.

Uma mulher vive com os cinco filhos menores, um dos quais portador de deficiência, num apartamento do Bom Sucesso, Alverca, sem condições dignas de habitabilidade.As frágeis paredes do primeiro andar da casa branca estão carcomidas pela humidade que avança cada Inverno que passa. O chão de madeira é um alvo fácil para as baratas e roedores que abundam no rés-do-chão abandonado pelo inquilino de baixo. Na pequena casa de banho não existe bidé e a banheira está danificada pelo desgaste do tempo. “Os meus meninos tomam banho num alguidar de plástico”, diz Eteldina Santinha Fortes, 39 anos, uma autêntica mãe coragem que há 17 anos se debate com graves dificuldades para criar os cinco filhos.A casa é pobre, mas limpa até à exaustão. O local do banho é lavado com lixívia para evitar que os micróbios atinjam as algálias do filho mais velho, 16 anos, doente de espinha bífida. Apesar do problema de saúde é ele “o homem da casa”. Leva os irmãos ao infantário quando a mãe entra às cinco da manhã. Para fazer três horas na cozinha de um restaurante antes de ir para o trabalho. À hora do jantar todos ajudam. Os livros e dossiês arrumam-se, apertados, numa gaveta à cabeceira. A casa é demasiado pequena para acolher uma mesa onde todos possam abrir as páginas dos cadernos. Os trabalhos de casa são feitos sobre os joelhos. Na mesma cama onde dormem as três irmãs. Os rapazes ocupam o beliche que já vai cedendo e que é demasiado pequeno para o tamanho do corpo. O sofá, amolgado pelo tempo, acolhe Eteldina nas poucas horas de sono.Eteldina Santinha Fortes vive na casa alugada que durante vários anos partilhou com o pai dos seus filhos. Foi vítima de agressões violentas até que decidiu mudar de vida. Chegou a dormir na rua com os filhos (ver caixa), mas a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima que a acolheu num refúgio para vítimas de violência e a Fundação Cebi de Alverca deram-lhe a mão.É na fundação que trabalha há cerca de dois anos como auxiliar de limpeza. “A Cebi é o nosso lar”, diz a mulher que garante que só graças à instituição a família tem sobrevivido. É lá que estão três dos cinco filhos. As refeições são tomadas na cantina da Cebi e todas as semanas mãe e filhos levam um reforço alimentar para casa. Massa, arroz, iogurtes.Já bastou o tempo de crise em que a mãe tinha pouco que oferecer ao pequeno-almoço. “Chegava a dar-lhes esparguete de manhã. E havia semanas que não tinha leite para lhes dar”, confessa de mãos postas sobre o rosto com uma dor que transborda.Hoje o estômago está aconchegado graças à Cebi. Os meninos estão na escola e o ordenado da mãe chega para a renda da casa de 284 euros. A família só espera a oportunidade para começar uma nova vida. A inscrição já está nos serviços da câmara há 13 anos. Em 2003 os papéis perderam-se e Eteldina voltou a pedir ajuda. Desde essa altura que esperam um lar condigno, distante da humidade e das baratas. “De preferência bem longe daqui”, pede o filho mais velho. À mais pequena das meninas apenas ocorre uma pergunta: “Oh mãe, será que esta casa está assombrada?”Segundo apurou O MIRANTE a atribuição de uma habitação social à família poderá estar para breve. A directora do Departamento de Habitação, Saúde e Acção Social, Carolina Carvalho, adianta que a autarquia está a negociar a saída de uma idosa de um apartamento camarário para a valência de lar. A casa fica situada em Alverca e enquadra-se na tipologia exigida para o tamanho do agregado familiar. Carolina Carvalho diz que já houve vaga em casas de habitação social fora da zona de Alverca, mas salienta que a família pediu para ficar na cidade onde a mãe trabalha e os filhos estudam.Ana Santiago
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