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A arte de cortar vidro

Maria do Rosário Almeida trabalha na vidreira de Aveiras de Cima

Cortar vidro à medida do cliente, com a ajuda de uma régua e esquadro em tamanhos gigantes, faz parte do dia a dia de Maria do Rosário Almeida, funcionária da Vidreira Fernandes, em Aveiras de Cima, Azambuja.

Maria do Rosário Almeida dobra-se sobre um pedaço de vidro crepe pousado na mesa de trabalho. Com a ajuda de um esquadro, régua e de uma lâmina de diamante traça um risco incisivo sobre o material. O golpe vinca o vidro e Maria do Rosário parte-o com toda a naturalidade. Como se separasse dois quadrados de chocolate.Para a funcionária da loja da Vidreira Fernandes, na Rua 25 de Abril, em Aveiras de Cima, concelho de Azambuja, o corte de vidro é uma rotina que se repete há já cinco anos. Maria do Rosário Almeida começou por acaso a cortar vidro na loja. Foi totalmente autodidacta e hoje não se vê a fazer outra coisa. “Há pessoas que hesitam e não conseguem fazer o risco direito para cortar o vidro. Sempre fiz este trabalho de forma espontânea e sem qualquer dificuldade”, descreve a profissional de 36 anos, residente também na vila de Aveiras de Cima.A função de Maria do Rosário Almeida é cortar pedaços de vidro à medida das necessidades dos clientes particulares. As utilizações são várias. Janelas, quadros, lanternas e até visores para o sector metalúrgico. São sobretudo os clientes particulares que se dirigem à loja. Mas também carpinteiros e serralheiros que acorrem aos serviços da loja para concluir os seus trabalhos.Os pedaços de vidro que Maria do Rosário Almeida trabalha são retirados de rectângulos de vidros gigantes, de 2 por 1,7 metros, arrumados à entrada da loja em suportes de metal. A profissional trabalha vidro de 2 a 4 centímetros de espessura. As dimensões superiores, destinadas a portas de roupeiro e de duche, são tratadas na unidade industrial da empresa. Maria do Rosário Almeida manipula todo o tipo de vidro. Desde o liso ao crepe, passando pelo vidro fosco que está muito na moda, garante. Tal como o vidro especial para molduras que não agarra à fotografia e evita o reflexo. O transporte das placas de vidro para a mesa de trabalho é uma das dificuldades deste tipo de actividade, garante a profissional que corta e também arredonda as arestas ao material para o cliente não se cortar. Os acidentes acontecem e às vezes Maria do Rosário Almeida não consegue evitar os golpes. São os ossos do ofício, reconhece conformada. As peças têm que ser cortadas milimetricamente, mas isso não é problema para quem é apaixonada por matemática. As contas dos clientes são feitas automaticamente no computador e por isso as questões administrativas não a ocupam muito tempo.Os restos de vidro não morrem ali. São reencaminhados para o vidrão e tomam mais tarde o contorno de outros objectos. Não se desperdiça pedaço de vidro porque o material custa 21 euros por metro quadrado ao cliente final. “E o mercado está um pouco difícil”, garante.A profissional também está habituada a trabalhar com espelhos. Faz retrovisores à medida para os automóveis dos clientes que procuram a loja. É neste nicho de mercado que a empresa se diferencia, embora os proprietários da firma possuam uma unidade industrial na Lapa, no concelho vizinho do Cartaxo.Maria do Rosário também aplica vidros com massa em pequenas janelas de madeira de casa antigas ou remodeladas. E termina as fechaduras e as peças que metálicas se aplicam nas portas de vidro interiores. “Uno um pedaço de cortiça à peça de ferro com cola de contacto. São objectos que seguem depois para a empresa. Sem estas peças a porta ao fechar partia o vidro”, ilustra a profissional multifacetada. A remuneração é a que a empresa tem possibilidade de oferecer, mas Maria do Rosário Almeida compreende as dificuldades que o sector atravessa. Tenta contrariá-las todos os dias com o trabalho à medida das necessidades do cliente. Disponibilidade e motivação são ingredientes que não lhe faltam.

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