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Sociedade Filarmónica Payalvense teve de comprar fardamento para ir tocar domingo a Santarém

Sociedade Filarmónica Payalvense teve de comprar fardamento para ir tocar domingo a Santarém

No concerto os músicos vão vestir camisolas por não haver casacos para todos

A banda de Paialvo, Tomar, renovou-se, ganhou qualidade mas continua a sofrer do estigma de ser uma banda de aldeia. As dificuldades financeiras reflectem-se ao nível do fardamento e não só.

Há cinco anos só actuava em festas de romaria, hoje é convidada para realizar concertos em locais nobres, como a Igreja da Graça, em Santarém. Mas o concerto que irá efectuar ali no próximo domingo esteve quase para não acontecer. Por não haver fardamento suficiente para vestir os 40 músicos que compõem a Sociedade Filarmónica Payalvense Manoel de Matos. Este é o exemplo flagrante das dificuldades por que passa uma banda de aldeia. A solução encontrada pela direcção foi comprar pullovers em vez de casacos, bastante mais caros. As camisas brancas, essas, têm de continuar a ser vestidas, apesar do desgaste já evidenciado. Quando o dinheiro é pouco fica sempre alguma coisa para trás. No caso da banda de Paialvo, foi o fardamento. “É tão velhinho que já há calças e casacos com vários tons de azul”, brinca Pedro Correia, maestro da banda que em cinco anos conseguiu fazer revolucionar a filarmónica. Quando, vindo de Santarém, chegou à aldeia do concelho de Tomar, Pedro Correia encontrou uma banda de música envelhecida e sem expectativas. Os instrumentos eram poucos e de pouca qualidade e havia vícios implantados, difíceis de eliminar. A maioria dos músicos tinha mais de 40 anos, hoje só há um com essa idade e o elemento mais novo tem apenas nove anos.Contra a vontade de alguns mas com o apoio total da direcção da sociedade Pedro Correia foi moldando a filarmónica. Até ela se tornar no que é hoje, uma banda reconhecida na região e no país. Convidada para efectuar concertos ao lado das chamadas grandes bandas, com muito mais dinheiro à disposição.“A falta de qualidade da banda passava por uma estrutura humana envelhecida e pela falta de instrumentos”, refere Pedro Correia, dando como exemplo os instrumentos de percussão que, quando chegou, se resumiam a um bombo, uma caixa e uns pratos. Dos 11 instrumentos que entretanto foram comprados, cinco foram de percussão. “Foi aí onde se fez o maior investimento”, assume o maestro, horas antes de mais um ensaio.Um investimento só possível através do pequeno apoio anual da Câmara de Tomar, do dinheiro obtido em peditórios e na realização de actividades extra, como almoços convívio com a população. “As bandas de aldeia vivem muito da boa vontade das pessoas da terra”, admite o maestro. E dos músicos também, já que apenas dois residem em Paialvo.Entreajuda e dedicaçãoOs jovens músicos, alguns residentes em Santarém e Cartaxo, não faltam a um ensaio, embora não recebam um tostão pela sua perseverança. Quando foram “contratados” ficaram desde logo a saber que a sociedade filarmónica só lhes poderia pagar as deslocações. A base da banda é no entanto composta por elementos que transitaram da escola de música que a sociedade tem. “Boa parte dos músicos é fruto da escola”, confirma Pedro Correia.Entreajuda e dedicação são palavras caras na sociedade filarmónica, que conta já 110 anos. E há quem deixe muitas vezes a família em segundo plano para dar apoio aos músicos. Como Filipe, o trompetista que reside quase em frente à sociedade. É ele que muitas vezes vai buscar e levar os músicos na carrinha da banda. E que prescinde das suas manhãs de sábado para transportar as crianças que, no âmbito de um protocolo com a Sociedade Canto Firme, de Tomar, ali aprendem música.O próprio Pedro Correia admite fazer “coisas que não competem a um maestro”, como tratar da “papelada administrativa” mas diz não se arrepender. Porque tem o feedback dos seus músicos. “Há aqui uma relação de amizade, empatia e entreajuda difíceis de encontrar em bandas maiores. Fazemos muitas coisas que nada têm a ver com a música, como acampamentos ou passeios à praia, por exemplo”.
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