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Helena Santo fala do seu desencanto com a política actual

Helena Santo fala do seu desencanto com a política actual

A ex-deputada diz que há políticos que perderam o contacto com a realidade

Helena Santo despontou para a política com a mesma rapidez com que a abandonou há oito anos, por divergências com a direcção nacional do CDS/PP, partido de que chegou a ser secretária geral. Diz que foi a única mulher a ocupar este cargo em Portugal.

Era ainda uma jovem sem qualquer experiência política quando foi eleita deputada pelo círculo de Santarém. Tinha 32 anos, já era casada e com um filho. Ninguém acreditava que pudesse ser eleita, feito que o partido não conseguia há muitos anos. Mas a convicção, a vontade de trabalhar e a campanha que fez porta-a-porta levou a mulher que “vinha da província” a sentar-se na Assembleia da República entre 1995 e 1999. Por vezes Helena Santo sente saudades e vontade de poder intervir para mudar coisas que estão mal. Só que o desencantamento da advogada de Rio Maior, que se desfiliou do partido, que vive em Lisboa e tem escritório em Alenquer, cortou-lhe o caminho da política.Está há oito anos afastada da política. É para nunca mais voltar?Às vezes quando estou a ouvir debates políticos apetecia-me estar lá para dizer que algumas coisas que estão a apregoar não são bem assim como querem fazer crer. Mas é só nesses momentos porque a política deixou gradualmente de me interessar.Desfez-se de todas as recordações do tempo em que foi deputada pelo círculo de Santarém?Ainda guardo fotografias e os primeiros requerimentos que apresentei na Assembleia da República, porque são coisas que foram feitas com muita convicção. Agora a esta distância percebo que era tudo feito com total amadorismo.Está desencantada com a política ou com os políticos?A classe política em Portugal devia ser renovada. As pessoas são as mesmas a dizerem as mesmas coisas há muitos anos. Quando estão no poder não fazem nada daquilo que continuam a dizer. Estas pessoas estão afastadas da vida real há tantos anos que é impossível, ainda que estejam de boa fé, fazerem melhor. Não conseguem porque perderam o contacto com a realidade e tornaram-se funcionários da política. Nos debates da Assembleia da República ouço coisas que não têm nada a ver com a vida prática. O que é que o cargo de deputada e secretária geral do CDS/PP lhe deu de bom e de mau?Permitiu-me conhecer pessoas, contactar com um mundo diferente e isso foi muito positivo. De mau foi todo o desencanto que a política tem. Que é perceber que as coisas não funcionam de forma tão ingénua como à partida se admite, as negociatas que se fazem porque alguém não está neste ou naquele lugar. Lembra-se dos primeiros dias na Assembleia da República?Estava muito nervosa. Lembro-me que no primeiro dia levei as pessoas que tinham estado comigo na campanha eleitoral. Era a única deputada que levava povo. Mais tarde o deputado Jorge Lacão (PS) encontrou-me nos corredores e disse estar espantado comigo porque me tinha adaptado muito bem, apesar de não ter experiência nenhuma. Ainda tem contacto com o distrito de Santarém?Todos os fins-de-semana vou a Outeiro da Cortiçada (Rio Maior) onde tenho casa e onde está a minha família. Preocupo-me em saber o que acontece. Gosto de passear pela região para ver se mudou alguma coisa. E continuo a verificar que no contexto nacional não tem a devida importância. O distrito não mudou muito. Está tudo cada vez mais na mesma, sobretudo na zona mais a norte. Os problemas são praticamente os mesmos que identifiquei quando fui deputada. Como por exemplo a desertificação de determinadas zonas. Temos um distrito muito bonito, com paisagens lindíssimas, mas continuamos a não aproveitar muito bem o turismo. O que é que representou para a região o seu mandato?Foi o período em que mais se falou do distrito na Assembleia da República.Como é que a descobriram para a política?Ofereci-me ao CDS, partido do qual sempre fui simpatizante tal como a minha família. Quando apareceu Manuel Monteiro como presidente do partido achei que era uma lufada de ar fresco no partido. Resolvi disponibilizar-me para trabalhar. E como em Santarém o CDS praticamente não existia, quando apareci agarram-me logo. Também acho que beneficiei pelo facto de ser mulher. E neste aspecto os partidos são muito hipócritas porque gostam de ter mulheres para mostrarem que são diferentes. Quando saiu custou-lhe a adaptar-se?Foi horrível. Tinha saudades de fazer coisas, de intervir. Sentia um vazio. Mas agora sinto-me muito bem a fazer advocacia. Tenho um bom leque de clientes e sinto que se hoje saísse de novo para a vida política quando regressasse já não tinha escritório. Se calhar é o que acontece com muitos políticos que não regressam porque perderam as suas profissões e hoje a política é o que lhes resta para sobreviver.
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