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Incontornável Serafim das Neves

Quanto mais os deputados trabalham para fazer de Portugal um Estado laico mais o povo dá mostras de imensa fé. E como dizia o outro é a fé que nos salva. Os grandes debates nacionais são manifestações de fé maiores que as peregrinações a Fátima. À partida já sabemos que todas as grandes discussões nacionais, sejam no café ou no programa da Maria Elisa terminam da mesma maneira. “Tu ficas com a tua que eu fico com a minha” mas isso não nos impede de discutir, de debater, de confrontar ideias. Erguemos a voz, fazemos cara de chateados, estrebuchamos, não deixamos os outros falar, tapamos os ouvidos, ficamos à beira de devastadoras apoplexias, mas não damos o braço a torcer. E tudo por causa da nossa fezada. Agora temos o debate sobre o aborto. Mais uma questão de fé. Determinar se há vida antes de não sei quantas semanas de gestação é como determinar se Deus existe. É tudo uma questão de fé. Pelo que percebo – e eu não percebo nada – até os cientistas se dividem, o que me faz pensar que até a comunidade científica entrou no trilho da crença. Resumindo e concluindo. Cada um fica com a sua. Os do Não e os do Sim. Eles bem gritam e estrebucham mas não saem dali. É como os penaltis no futebol. Quando são contra a nossa equipa bem nos podem mostrar a perna partida do adversário, mesmo com fractura exposta, que continuamos a não ver nada de mal. A osteoporose ataca em qualquer idade, principalmente quando se trata de um coxo da outra equipa que nem jogar à bola sabe. O julgamento de Torres Novas da criança nascida de uma queca ocasional é outra questão de fé. E desde o princípio. O pai biológico teve fé que a senhora brasileira usasse um anticoncepcional. A senhora brasileira teve fé que ele iria perfilhar a criança. O casal que tratou da menina teve fé no processo de adopção da Segurança Social. O Tribunal teve fé que o casal entregasse a criança ao pai. O pai adoptante, o senhor sargento, teve fé que a juíza não lhe aplicasse a pastilha. E as televisões têm fé que a novela dure porque desde o tempo do processo Casa Pia que não havia animação popular assim. É a fé que nos salva dirá qualquer crente fervoroso. E se eu estiver por perto por certo direi Amén. Por uma questão de inabalável fé não vou deixar este tema até ao fim do e-mail. O que me dizes à fé demonstrada pelo Padre Borga depois de lhe terem assaltado a igreja? Mandar um abraço ao ladrão é uma espécie de versão moderna do ensinamento bíblico que recomenda dar a outra face a quem nos arrefinfa um estalo. Eu cá, verdade seja dita, sou muito ateu quando toca a esses mandamentos. Se elas me dão um estalo é só um porque prezo muito as minhas bochechas. Mas o bom do José Luís Borga provou ali que quem o acusa de dar mais à canção e à televisão do que à paróquia não sabe do que fala. É por isso que termino com um desafio a tais pecadores. Penitenciem-se, rezem uns valentes Pais-Nossos pelo padre e cotizem-se para repor o material gamado. É o mínimo que podem fazer se querem alcançar o Reino dos Céus. E mais nada!!Saudações sagradas doManuel Ímpio Serra d’Aire

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