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Inexpugnável Manuel Serra d’Aire

Como comum mortal que ainda por cima tem de preencher este espaço de 15 em 15 dias não podia deixar também de falar do caso de Torres Novas. Resisti o que me foi possível, torturei-me a ler as Câncios, Pedrosas e companhia para assim esfriar a ideia, mas o chamamento foi mais forte. Tudo ficou decidido numa noite de terça-feira, quando vi na TV o garboso sargento a sair do Tribunal de Torres Novas perante a euforia de uma multidão ululante que gritava: “É um herói!”.Não me lembrava de uma manifestação tão apoteótica desde a recepção à selecção de futebol que ficou em quarto (!) lugar no Mundial da Alemanha. Aquilo mexeu comigo. Eu estava convencido que o homem, enfim, alguma coisa tinha feito de mal para ter sentado o cu no mocho e sido condenado. Pelo menos é habitual ser assim. Mas perante a multidão que o aclamou quase como um novo Messias equipado com as cores do Exército português rendi-me. Este povo nunca se engana e raramente tem dúvidas como a História está farta de nos demonstrar. E para que as dúvidas não subsistissem no meu céptico espírito, uma simpática senhora com ar de catequista (sem ofensa para as ditas), que momentos antes estivera provavelmente a apupar o malandro do pai biológico, ajudou-me a aclarar as ideias. O senhor sargento deve ficar com a criança porque já a cria há quase 5 anos e foi ele que teve de gastar mundos e fundos em fraldas e outros artigos de puericultura. Foi aí que percebi finalmente o que fizera o homem de notável, não se lhe conhecendo jeito para o futebol, para a música ou para o cinema que justificassem tal fama. O nosso militar é um herói porque gastou uma pipa de massa a comprar fraldas, e presumo que pomadas, leite em pó, chuchas, biberões e por aí fora, para a pobre criança dada pela mãe. E ao preço a que essas coisas estão há que dar o devido reconhecimento a quem tem essa postura altruísta. Eu já passei pelo mesmo e posso assegurar que não foi fácil. As fraldas custam um dinheirão.Outro motivo de preocupação para os pais de hoje é a exibição de lutas de wrestling na SIC ao domingo à tarde. Pelos vistos aquelas sessões de cachaporra andam a dar a volta à cabeça aos putos, que no recreio tentam imitar os seus ídolos nem sempre com os melhores resultados. A situação é tão grave que a Câmara da Golegã até aprovou uma moção onde expressa a sua preocupação pelas consequências que esse programa televisivo pode ter. Aliás, já bem bastava as lutas verbais entre o presidente da câmara da Golegã e o presidente da Junta de Azinhaga como má influência para miúdos e graúdos. E por falar nisso parece-me que os efeitos negativos do wrestling na zona da Golegã já não vêm de agora. Aquela história da agressão do presidente da Junta de Azinhaga a um cunhado pode ser uma consequência da violência emanada por esses programas. Era bom que os especialistas se debruçassem sobre o assunto. E se chegassem a essa conclusão devíamos obrigar os nossos políticos a engolirem doses paquidérmicas de wrestling para ver se a coisa aquecia. O meu sonho era poder assistir a sessões de câmara ou da assembleia municipal como aquelas que às vezes vemos na televisão em alguns países asiáticos com tudo engalfinhado ao murro e à chapada. Porque isto já lá não vai com moções, falinhas mansas e deliberações da treta.Cumprimentos do Serafim das Neves

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