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Uma outra forma de contar a história

Uma outra forma de contar a história

Desconhecido Nesta Morada, a peça de teatro que o Grupo Fatias de Cá apresentou, em ante-estreia, na abertura da cerimónia de entrega dos prémios “Personalidade do Ano”, no Centro Cultural do Cartaxo, prendeu os espectadores do princípio ao fim, mais pela intriga e pelo volte-face que ocorre perto do final, do que pelo trabalho dos actores. Paulo Moura que já nos habituou a excelentes interpretações (Quem gosta do Fatias de Cá não esquece o seu fabuloso Corto Maltese, por exemplo) e Fernando Rodrigues – outro experiente actor - estiveram inseguros durante todo o espectáculo.As falhas no trabalho dos actores foram mais visíveis devido à economia de meios cénicos. O enorme ecrã que domina a cena apenas serve para projectar o papel timbrado das cartas que ambos vão trocando. Não há imagens que nos remetam para a época e a música parece ter sido propositadamente escolhida para entrar em contradição com a tensão que vai crescendo e com o drama que se desenrola. Paulo Moura e Fernando Rodrigues têm muito trabalho a fazer até à estreia oficial da peça, que deverá ocorrer dentro de dois meses no Cine-Teatro de Constância. Quem conhece o trabalho da Companhia sabe que os enganos frequentes na leitura dos textos e a insipidez de alguns momentos da representação estarão corrigidos nessa altura. Para além de não resistir a uma boa ideia nem a um bom vinho, o Fatias de Cá não resiste a uma boa caminhada a favor do perfeccionismo. Baseada num conto de Kathrine Kressmann Taylor, adaptado para teatro pelo encenador do Grupo de Tomar, Carlos Carvalheiro, a intriga de Desconhecido Nesta Morada decorre entre Novembro de 1932 e Março de 1934. Sob a forma de cartas entre um judeu americano, proprietário de uma galeria de arte em San Francisco e o seu sócio, que regressara à Alemanha, Desconhecido Nesta Morada denuncia a perversidade do nazismo.No palco, Paulo Moura, no papel de Max Eisenstein, judeu americano, proprietário de uma galeria de arte em San Francisco e Fernando Rodrigues, que encarna Martin Schulse, sócio alemão de Max que regressou à Alemanha em 1932, vão lendo para os espectadores as cartas que vão trocando entre si. Duas mesas com um candeeiro em cada uma delas que se acende de cada vez que o actor fala, um ecrã onde são projectados à vez os cabeçalhos das cartas e música de fundo. A encenação escolhida por Carlos Carvalheiro é um enorme desafio para quem está em palco. Martin Schulse começa por manifestar desconfiança em relação a Hitler. Depois deixa-se encantar e inebriar pela convivência com altos dirigentes do novo poder. Para não pôr em causa o seu estatuto social começa por impor ao amigo judeu que lhe trata dos negócios na América, Max Eisenstein, que não lhe escreva e que se limite a mandar-lhe os cheques. Mais tarde confessa que não ajudou a irmã de Max, actriz com quem tinha tido um caso extra-conjugal, permitindo que a mesma fosse assassinada pelos camisas castanhas, só para não se comprometer ao ajudar uma judia. Max urde uma vingança e Martin acaba como vítima do regime a que se colara para obter benefícios pessoais. É esta a trama de Desconhecido Nesta Morada.
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