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Comprou e plantou pinhal incentivado pelo Estado que agora o quer abater

Proprietários sentem-se enganados

O Estado aconselhou a plantação de pinhais e agora exige abate por causa de praga. Os proprietários estão revoltados.

“O pinhal era uma espécie de mealheiro que tinha ali para os meus netos ou para o caso da doença chegar inesperadamente”. O desabafo é de um agricultor reformado de Manique do Intendente, Azambuja, José Miguel da Silva Marques, 74 anos, que possui um milhar de árvores na zona que será sujeita a abate para evitar a propagação da doença nemátodo da madeira do pinheiro, uma praga que surgiu na zona de Setúbal. Há cerca de nove anos, José Miguel da Silva Marques, garante que foi incentivado pelo Estado a proceder ao arranque da vinha que tinha no local e a plantar eucaliptos e pinheiros. “Quando ficámos sem as colónias do Ultramar diziam que o futuro seriam os pinhais. Foi o Estado que incentivou a reflorestar. Comprei os pinheiros no viveiro do Estado em Aveiras de Cima.”, recorda o agricultor que lamenta que seja proprietário para pagar impostos, mas não para ser notificado em como o seu pinhal está prestes a ser arrancado. A faixa de pinheiros que tem vale algumas centenas de euros, mas o proprietário tem pouca esperança em reaver o que quer que seja. O agricultor concorda que se elimine a praga, mas não compreende por que razão os proprietários foram avisados tão tardiamente por edital e sem ter a certeza se serão ressarcidos do investimento. “É uma zona essencialmente agrícola e as pessoas vivem com uma miséria de reforma”, diz José Miguel da Silva Marques que à pensão de ex-funcionário público de 200 euros, junta outro tanto como agricultor. “Se é verdade o que dizem – que há praga – que seja eliminada, mas paguem às pessoas. Não é só invadirem as propriedades”, afirma o agricultor que teme que muitos proprietários se rebelem. O agricultor foi alertado para a situação através de um edital afixado na vitrina da colectividade onde passa as tardes. Por mero acaso. “Há pessoas que nem sequer ler sabem”, espanta-se. O pinhal, localizado no sítio dos Brejos, foi plantado pelo agricultor com a ajuda de duas pessoas a quem pagou. “Tinha até o cuidado de o amanhar regularmente por causa do risco de incêndios”, continua o agricultor que garante que não quer ser força de bloqueio para estancar a praga, mas que considera injusto avançar com o corte sem garantir que os proprietários recebam o que lhes pertence. Na aldeia não se fala de outra coisa. A conversa ocupa os habitantes nos jardins e nos cafés. O barulho das moto-serras ecoa pelo ar. Foi assim que Salazar Gomes, 72 anos, descobriu que o arranque já tinha avançado na sua propriedade, no Vale do Coito, onde tem hectare e meio de pinhal. “Já cortaram mais de meio pinhal e depois pararam porque disse alto. Exijo um documento em como a madeira sai da propriedade”, justifica o proprietário que já tinha recebido uma proposta para vender a madeira que ascendia a 3.500 euros. “São pinheiros já muito antigos. Alguns até consigo abraçá-los”, explica. Salazar já impediu um camião de carregar a madeira e está disposto a ir até ao fim. “Era um pé-de-meia que ali tinha”, lamenta o reformado que aufere 350 euros de pensão como agricultor. “Não dependo disto para comer, mas muitas vezes evitei comer melhor e passear para poder ter o pinhal”, assevera. Grande parte do concelho de Azambuja está incluído na zona de pinhal a abater, tal como outros concelhos do Ribatejo e Oeste, até ao Alentejo. A União Europeia impôs o corte das árvores para evitar que a doença alastre ao território. A operação deverá estar concluída até fim de Março. Se o prazo não for cumprido poderão estar em risco as compensações para os proprietários, como explicaram os técnicos da Direcção Geral dos Recursos Florestais (DGRF), durante uma sessão de esclarecimento na aldeia, realizada em final de Fevereiro. O MIRANTE contactou a DGRF para obter mais esclarecimentos, o que não foi possível até ao fecho desta edição.

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