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Dois torrejanos na subida a uma das maiores montanhas do mundo

Dois torrejanos na subida a uma das maiores montanhas do mundo

Ana Santos Silva e Rui Canto fizeram parte da expedição de João Garcia

Uma enorme paixão pelas montanhas e um forte gosto pela aventura e pelo desafio foram os principais motivos que levaram dois torrejanos a participar na escalada ao monte Shisha Pangma (8013 metros), situado nos Himalaias, Tibete

O que levará uma jovem professora e um fotógrafo a deixar o conforto de uma vida citadina e a percorrer milhares de quilómetros para subir uma das montanhas mais inóspitas e mais altas no mundo? A passar uma semana sem tomar banho e vários dias a dormir em sítios onde a temperatura se mede sempre abaixo de zero? Ana Santos Silva, 32 anos, licenciada em Ciências do Desporto e professora de Educação Física, e Rui Canto, 28 anos, fotógrafo, ambos naturais de Torres Novas, têm a resposta na ponta da língua: o gosto pelas montanhas, pela aventura e pelo desafio.Ana e Rui foram dois dos elementos que integraram uma equipa portuguesa que no final do ano passado tentou subir várias das montanhas mais altas do mundo, entre elas o monte Shisha Pangma (8013 metros), nos Himalaias, Tibete. A equipa incluiu o mediático alpinista João Garcia e ainda Rui Rosado e Bruno Carvalho, este último que viria a falecer na sequência de uma queda próximo do cume do monte. Um momento marcante que ficará para sempre na memória dos dois ribatejanos. “Nós na altura tínhamos montes de coisas para fazer. Tínhamos de telefonar para Portugal, tratar das nossas coisas, fazer descer os nossos equipamentos e essas tarefas ajudaram-nos não a esquecer a morte do Bruno mas a continuar”, recorda Ana Santos Silva.Da expedição ao Shisha Pangma, que em português quer dizer qualquer coisa como “crista sobre as planícies verdejantes”, venerada pela população local como sendo o trono dos deuses, Ana Silva trouxe também outras recordações, sobretudo das paisagens e dos habitantes da região. O frio, as dificuldades para dormir e respirar em altitude, os nevões e os riscos de avalanche não foram uma novidade para a alpinista ribatejana, que já tem uma grande experiência de escalada nos Alpes, América do Sul e Alasca.Nesta experiência no Tibete Ana Santos Silva chegou apenas aos 7 mil metros, o que lhe deixa vontade de voltar para uma segunda experiência para saber se consegue ou não escalar os últimos mil metros. “Nós não pensamos desistir mas quando começa a ficar mais frio e passamos mal a noite pensamos sempre o que é que estamos ali a fazer”, reconhece a alpinista que se iniciou no montanhismo um pouco ao acaso. Na adolescência foi jogadora de basquetebol e chegou a fazer parte das selecções nacionais. Quando foi para a faculdade teve duas ou três experiências de actividades ao ar livre mas foi já como professora que fez a primeira escalada a sério e nunca mais parou.Para estar nas melhores condições na altura em que vai subir as montanhas, Ana Santos Silva treina praticamente todos os dias. “Às vezes é complicado depois de um dia de trabalho arranjar forças para ir treinar à chuva e ao frio”, admite, acrescentando no entanto que com sacrifício e uma rigorosa gestão do tempo consegue conciliar o montanhismo com os treinos e a actividade profissional. Actualmente, como reside em Lisboa, não vem muito à região a não ser para matar saudades da família e dos amigos. O seu próximo objectivo, talvez já neste Verão, é participar no Big Wall, a escalada de uma enorme parede que demora vários dias e onde os montanhistas põem à prova todas as suas qualidades técnicas.Um cigarro aos seis mil metrosAo contrário da sua conterrânea, que preparava esta subida há vários meses, Rui Canto foi ao Tibete um pouco de surpresa. Como é fumador há vários anos pensava que não ia aguentar e sempre disse sempre aos colegas que não ia. Só que eles compraram a autorização e só lhe disseram depois de terem a licença na mão, o que impediu qualquer tentativa de dizer que não ia.Rui trabalha para uma empresa de equipamentos desportivos que comercializa produtos na área do montanhismo e dos desportos radicais há 8 anos e faz fotografias desse tipo de actividades o que o levou a ser o fotógrafo de serviço da expedição. Já esteve em Marrocos e nos Alpes e no passado foi ao Nepal mais como viajante e para conhecer aquela região. Um dos momentos que registou no Shisha Pangma foi precisamente aquele em que chegou aos 6.168 metros, onde fumou um cigarro para mostrar aos amigos que conseguiu chegar ali e também porque o vício já estava a apertar.Do Tibete trouxe um novo “irmão”, um jovem carregador local que os acompanhou na subida. Rui deixou-lhe praticamente todo o equipamento que levou e agora terá de comprar novo material. Para o ano quer voltar porque já sente saudades. Esta viagem proporcionou-lhe uma lição que fez questão de partilhar com os amantes do montanhismo que no dia 3 de Março estiveram na sede da Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia, em Torres Novas, onde foi mostrado um vídeo da escalada e onde estiveram também Ana Santos Silva e Rui Rosado, que com João Garcia chegou ao cume do Shisha Pangma. “Há tanta coisa aqui, dos telemóveis aos carros, que nós achamos que necessitamos mas que basicamente não nos faz falta nenhuma”, testemunhou Rui Canto.
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