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Banzado Manuel Serra d’Aire

Dos enigmas mais indecifráveis dos portugueses está a atracção do nosso povo por filas ou bichas, sendo que ambas para mim são sinónimas. Ainda um dia destes passei perto de uma repartição de Finanças e deparei-me com mais de cem pessoas com cara de carneiro mal morto, a aguardar vez para entregar a declaração de IRS. É verdade que uma ida às Finanças não é motivo para dar saltos de alegria, mas também não percebo o porquê de tanto cenho carregado. Que se saiba há carradas de dias para entregar a declaração. Na maior parte desses dias as Finanças até estão às moscas. E no entanto são poucos os que lá vão. Portanto é sinal que a maioria prefere o último dia. E se prefere o último dia e consegue cumprir essa ambição de guardar tudo para a última, qual a razão para estar toda a gente tão carrancuda? É verdade que se podiam organizar umas actividades de animação para entreter a populaça que espera na rua pela sua vez. Uns jogos de chinquilho, umas partidas de dominó, uns concursos de ponto cruz ou até mesmo uns jogos florais. O tempo de espera dava para tudo isso. Mas só o facto de conseguirem cumprir um desígnio desse calibre devia ser motivo de satisfação. Afinal de contas quantos de nós conseguem atingir as suas metas pelo menos duas vezes por ano, como essa rapaziada que guarda para os últimos instantes a compra do selo do carro e a entrega da declaração de IRS?Confesso que hoje estou virado para questões metafísicas. É o que dá beber daquelas “pomadas” ribatejanas ao almoço. Aquilo põe-me a delirar. Outra coisa que me intriga são aquelas cerimónias de beija-mão como as que a presidente da Câmara de Vila Franca de Xira organizou recentemente para distribuir os subsídios a associações e colectividades do concelho. Maria da Luz Rosinha parece aqueles velhotes na Praça da Figueira a distribuir milho aos pombos. É verdade que praticamente todas as câmaras gostam de distribuir milho aos pombos, mas pelo menos há algumas que não os obrigam a ir comer à mão evitando-nos aquelas autênticas odes à pedinchice que como espectáculo estão ao nível do Preço Certo em Euros.E por falar em espectáculos, confesso que já não tenho paciência para as manifestações por causa das urgências, dos centros de saúde, dos médicos de família e não sei que mais. Isto é o que dá ter um povo mal habituado com um posto de saúde em cada esquina. Manifestantes: lembrem-se das mezinhas do tempo dos vossos avós, vão à bruxa ou ao endireita, mas, por favor, deixem de ser queixinhas. Que raio de povo afinal somos nós? Se os cavaleiros de D. Afonso Henriques fossem dessa raça ainda estávamos governados pelos mouros e as gajas nem sequer com as fuças andavam à mostra, quanto mais com o umbigo e outros atractivos epidérmicos que já se começam a vislumbrar com a chegada da Primavera.Confesso mesmo que tenho regalado a vista nestes primeiros dias de calor. Não são só as andorinhas que cada vez chegam mais cedo. Felizmente os decotes e as mini-saias também. Abençoadas emissões gasosas que produzem estas alterações climáticas. Sem elas ainda estávamos na invernia, a passar revista a sobretudos soturnos e a camisolas de gola alta andróginas. O Al Gore que vá pregar o seu evangelho ecológico para outra freguesia, que eu prezo muito esta qualidade de vida.Uma despedida à francesa do Serafim das Neves

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