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“Este Ministro da Saúde é um Átila que destrói tudo por onde passa”

O seu pai era médico. As filhas tinham que ser obrigatoriamente médicas? Não foi por imposição, foi por vocação. Inicialmente a minha irmã até foi para Física. Queria ser a Madame Curie (risos). No segundo ano mudou para Medicina. Eu sempre quis ser escritora e acabei por ir para medicina. E gosto de medicina. Só que agora estão a dar cabo do sistema. A dar cabo do sistema?!Isto era para ser tendencialmente gratuito. E agora é preferencialmente privado. E eu não tenho jeito para a clínica privada. Inventar situações, eu não invento. Se as pessoas não estão doentes mando-o embora. Sabe a história da carraça? Um médico velho tinha um doente que ele atendia no consultório privado há muitos anos. Veio o filho, que era médico novo, viu o doente, encontrou-lhe uma carraça e tirou-lha. Quando encontrou o pai disse-lhe: “Então o homem andava aqui há tanto tempo e o problema era uma carraça?!”. E ele perguntou: “Tu tiraste a carraça?!! Fizeste mal. Assim ele nunca mais cá volta!”.O que vai mudar? Queres tratar-te, pagas. Não queres pagar, morres. As pessoas idosas têm reformas que não dão para comer quanto mais para pagar consultas e medicamentos. E o Estado português já é o Estado que vende mais caro os seus serviços médicos, não sei se sabia.É contra a medicina privada?Não tenho nada contra. Nem critico os meus colegas que têm boas clínicas privadas. Nem todos são desonestos. Pelo contrário, a maior parte é gente boa e honesta. Mas a saúde não deve ser preferencialmente privada. Continuo a defender que deve ser tendencialmente pública e gratuita. Como é a sua relação com os doentes? É uma boa relação. Estou sempre disponível. Muitos deles até têm o meu número de telemóvel. O meu marido zanga-se comigo porque acha que eles deviam era telefonar para o Ministro da Saúde. A maior dificuldade que eu tenho é ao nível da comunicação. A maior parte dos meus doentes não sabe ler. Agora repare o que é. Eles estão a tomar comprimidos que são perigosos. Os medicamentos são todos perigosos. Nós não sabemos se eles estão a tomar as doses que nós prescrevemos. Nós falamos línguas diferentes. É mentira quando dizem que todos falamos português. Mesmo os que sabem ler não percebem bem o que estão a ler. Os médicos ainda são vistos como Deuses?As pessoas acham que nós sabemos qualquer coisa que elas não sabem, mas já fomos mais bem vistos. O que se está a passar começou com a Leonor Beleza. Tratava os médicos abaixo de cão. Depois ainda tivemos a Maria de Belém e a Manuela Arcanjo que quiseram fazer alguma coisa pela dignidade dos médicos. Agora este Ministro é uma coisa…destrói tudo por onde passa. Este homem é pior que o Átila. Quem quer saúde que vá ao privado. Quem quiser filhos que os tenha em casa…O que faz falta na medicina? Mais médicos e melhores médicos. Melhores condições para o exercício da medicina. A dignificação da profissão. Um médico de família que, no século XXI, só tem como instrumento de trabalho o estetoscópio não pode fazer nada. Ele tem que ter à disposição no centro de saúde um raio xis, análises básicas. No mínimo.

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