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Solidário Serafim das Neves

Convido-te a celebrar a maioridade de mais um Partido Político Português. Falo do Bloco de Esquerda, pois claro. Do famoso BE. A caminhada foi longa mas proveitosa. Sexta-feira passada fizeram o seu primeiro jantar de desagravo. Inscreveram o seu nome no livro de honra da política à portuguesa. Um jantar de desagravo é coisa séria. Revela apurado sentido de Estado. No BE já não se brinca aos partidos. A UDP enquanto existiu nunca organizou um jantar de desagravo. Nem o PSR. Um jantar de desagravo é um sinal de maturidade de crescimento. Depois de um jantar de desagravo um partido político está pronto para tudo. Até para integrar um Governo. Ergo a minha taça e saúdo o dr. Louçã. Afinal foi ele que oficiou a cerimónia em Salvaterra de Magos. Ainda não foi desta que usou gravata mas lá chegará. Demos tempo ao tempo. O BE já tinha deputados, uma presidente de câmara e uma superioridade moral superior à da igreja católica e à dos comunistas do PCP. Agora também tem no currículo um jantar de desagravo. É obra, Serafim! É obra! E tudo isto em meia dúzia de anos. A evolução do partido tem sido meteórica. Faz-me lembrar aquela história da dona Umbelina que nunca na vida tinha cometido um pecado. Quando ela se finou a alma, de tão leve que estava, passou à velocidade da luz frente às portas do Céu, obrigando o S. Pedro a gritar desesperado. “Dona Umbelina, dona Umbelina, diga merda, se não entra em órbita!”. Eu confesso-te que quando oiço o dr. Louçã falar me apetece parafrasear o S. Pedro.Mas deixa-me voltar aos jantares de desagravo. Esses momentos sublimes e raros que aproximam os políticos do eleitor comum. É nestas alturas que eu me reconcilio com a política. Que até sinto remorsos de tanto desancar em deputados, ministros e autarcas. Quando os vejo ali à mesa com ar feliz, aos abraços e beijinhos no desagravado companheiro vítima de grande cabala, emociono-me. Sempre me emocionaram aquelas fortes palmadas nos lombos dos homenageados. Ver saltar a poeira dos casacos é coisa épica. Apela ao sentido patriótico. Ao contra os canhões, marchar, marchar. E há lá coisa melhor para desagravar que umas boas travessas de bacalhau ou de lombo de porco regadas a tinto de garrafão? Os jantares de desagravo entroncam na grande tradição nacional dos jantares do totoloto de todos os escritórios e fábricas de Portugal. O nosso desporto mais popular nem sequer é o futebol. É a jantarada. Ou a almoçarada. Tudo se resolve à mesa. À mesa o país funciona e funciona bem. Os livros de memórias dos mais ilustres filhos da Pátria estão repletos de jantares e almoços. Tudo se combina à mesa entre a sopa de peixe e o cozido. Entre o pudim flan e a amêndoa amarga. Onde pensas que foi decidida a localização do novo aeroporto internacional de Lisboa?!!! Se queres que te diga temos que combinar um almoço para um dia destes. Nem que seja para discutir o sexo dos anjos.Um abraço desagravante do Manuel Serra d’Aire

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