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Sal de Rio Maior nas padarias da Alemanha

Sal de Rio Maior nas padarias da Alemanha

Única mina do género em Portugal continua a ser explorada por cooperativa

É um sal puro que vem das profundezas da terra em Rio Maior. Uma grande quantidade vai para a Alemanha onde é utilizado no fabrico de pão.

A Cooperativa Agrícola de Produtores de Sal de Rio Maior, único local no país onde se explora "sal sem mar", produziu no ano passado 1.700 toneladas de sal, 300 das quais foram para a Alemanha, disse o seu presidente à agência Lusa.Casimiro Ferreira disse ainda que a cooperativa vai começar a participar em eventos internacionais para dar a conhecer um produto que, apesar de milenar, é ainda pouco conhecido. Os próximos destinos serão Turim, em Itália e Barcelona, em Espanha. O objectivo é mostrar o sal "completamente natural, sem aditivo de químicos", de Rio Maior, em certames que visam a divulgação de produtos alimentares artesanais.O sal de Rio Maior, cidade afastada do litoral, provém de uma extensa e profunda mina de sal-gema, situada a 60 metros de profundidade, que é atravessada por uma corrente subterrânea de água doce. "Ao contrário de outros sítios, onde se retira o sal directamente da sal-gema, aqui, a água que é salgada ao passar pela mina chega por gravidade a um poço, com nove metros de profundidade", de onde é retirada para ser espalhada por uma área de mais de 20.000 metros quadrados, explicou o dirigente da cooperativa.Essa água "é sete vezes mais salgada que a água do mar", afirmou Casimiro Ferreira, sublinhando que o sal daqui retirado é puro, com perto de 98 por cento de cloreto de sódio. "Sal que possua menos de 97 por cento de cloreto de sódio é impróprio para consumo humano, por isso fazemos análises regulares", afirmou.Tendo em conta a exigência dos clientes alemães, o produto que se lhes destina é higienizado totalmente à mão, havendo três mulheres em permanência, oito horas por dia, a retirarem todas as impurezas e colocando o sal já limpo para sacas de uma tonelada. Esse sal é depois moído e ensacado em sacos de 25 quilos cada, com destino essencialmente às padarias alemãs.Cada quilo deste sal é vendido a 45 cêntimos, preço bastante acima dos 12 cêntimos tabelados para o sal vendido para o mercado nacional e que se destina a panificadoras, salga do bacalhau, higiene pessoal ou para retirar o calcário da água, adiantou Casimiro Ferreira. A safra de 2006 deu no total um lucro de 75.000 euros, divididos pelos 71 associados da cooperativa consoante a quantidade de sal retirado dos talhões de cada um dos proprietários.Classificadas como "imóvel de interesse público", as salinas de Rio Maior são, nas palavras de Casimiro Ferreira, "um museu vivo com mais de mil anos". Mantendo as cerca de 80 casas de madeira onde cada salineiro em tempos guardava o sal que retirava das salinas, e que eram dimensionadas consoante o sal que cada um produzia, o lugar de Marinhas do Sal, a cerca de três quilómetros de Rio Maior, é actualmente um ponto de atracção turística. Muitas dessas casas, distribuídas por ruas estreitas com nomes alusivos ao lugar, transformaram-se em lojas, cafés e restaurantes, ou albergam associações e empresas de turismo na natureza, na maioria abertos apenas ao fim-de-semana.O primeiro documento escrito que faz referência às salinas de Rio Maior data de 1177, uma declaração de venda à Ordem dos Templários de um quinto do poço. No século XV, D. Afonso V era dono de cinco "talhos" (palavra que designa os terrenos delimitados por cada proprietário para a evaporação da água), recebia um quarto de toda a produção e detinha o monopólio da venda. Até há poucos anos, a água era retirada do poço através de duas picotas (um legado árabe), substituídas recentemente por um motor.Nesta altura do ano, os talhos apresentam uma água lodosa, que Casimiro Ferreira explicou ir começar a ser limpa a 20 de Abril, para depois ser aí colocada a água retirada do poço, que na época do calor (entre Maio e Outubro) evapora, deixando as típicas pirâmides de sal. É uma representação desta paisagem - as pirâmides de sal, as casas de madeira, as picotas - que a cooperativa leva, em maqueta, para os certames em que participa com a função de divulgar algo que "é único no país", sublinhou.A Cooperativa Agrícola dos Produtores de Sal das Marinhas do Sal foi criada em 1979, quando a crise que se instalou obrigou os produtores a juntarem-se, adiantou.
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