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A empregada de escritório que sonha com o serviço social

Deixou de estudar cedo e entrou no mundo do trabalho apenas com doze anos

Célia Duarte começou a trabalhar aos 12 anos mas diz que nunca é tarde para aprender. Aos 35 anos e com o 12º feito sonha em ingressar na faculdade. Nem que seja quando estiver reformada.

Célia Leal Duarte é o exemplo de uma mulher cheia de garra e com uma enorme força de vontade. Deixou a escola ainda no ensino básico e começou a trabalhar aos 12 anos mas não se acomodou e acabou por perceber que sem estudos não conseguia vencer na vida. Hoje, com 35 anos e o 12º ano feito, Célia sonha mais alto e diz que quando os filhos crescerem, pensa inscrever-se na universidade. Até lá, vai trabalhando como empregada de escritório numa empresa de exploração florestal, em Tomar.O dia a dia de Célia Duarte não tem grandes alterações. Sendo a única empregada no escritório da empresa, é ela que vai organizando as suas funções diárias. A documentação necessária ao sector contabilístico é uma prioridade, além do atendimento telefónico. Há também sempre cartas para escrever e não são raras as vezes em que a empregada elabora também propostas para apresentar aos clientes, embora neste caso tenha sempre a ajuda de um superior. Quando é preciso vai ao apartado buscar o correio e despacha o expediente mais urgente.“Organizo o meu próprio trabalho, vejo o que é mais urgente resolver e passo-o para a frente”. O resto vai-se fazendo entre as 09h00 e as 13h00 e depois de almoço, entre as 14h30 e as 18h00. Mas há dias de mais azáfama, nomeadamente na altura de apurar a facturação. “Nesses dias, a meio e no final de cada mês, o tempo é sempre curto”. O mesmo acontece quando, uma vez por ano, a empresa é alvo de uma auditoria externa, no âmbito da certificação ambiental que possui.O pior de tudo, diz Célia, é o facto de trabalhar sozinha num gabinete. “Às vezes gostava de ter alguém com quem conversar, que trocasse umas ideias comigo”, diz, adiantando que, quando se sente mais sozinha e o trabalho permite, navega um pouco na Internet “para ficar actualizada”. Ainda tem tempo para fazer ela própria a limpeza do escritório e, quando é necessário, também dá um jeito no estaleiro de máquinas que a empresa possui perto da albufeira de Castelo do Bode. Célia não se arrepende das opções que fez na vida, à excepção de uma – ter deixado de estudar muito cedo. Depois de terminar a antiga telescola (hoje sexto ano) a empregada de escritório decidiu que não queria estudar mais e entrou no mundo do trabalho com apenas 12 anos. Aprendeu a fazer malhas, comprou uma máquina de tricotar e começou a fazer fatos de bebé para uma empresa. “Eles forneciam-me a matéria-prima e eu trabalhava em casa”. Mas ao fim de oito anos a empresa foi à falência e nunca lhe chegou a pagar os seis meses de vencimento que tinha em atraso. Durante nove meses trabalhou então numa fábrica de confecções em Minde, passando depois por uma fábrica de cerâmica em Torres Novas mas cedo percebeu que se queria ir mais além em termos profissionais tinha de retomar os estudos. Aos 21 anos inscreveu-se no Centro de Emprego e Formação Profissional de Tomar e durante três anos aprendeu a arte de marcenaria e carpintaria, que lhe deu a equivalência ao 9º ano. O estágio foi feito numa empresa de Vilar dos Prazeres (Ourém) onde esteve cerca de cinco anos, tendo passado ainda por outra empresa de móveis. Mas o bichinho do estudo não a largou e Célia matriculou-se entretanto no ensino recorrente, área de contabilidade. A meio, decidiu mudar de área por não conseguir fazer a matemática e acabou por fazer a equivalência ao 12º ano na área de secretariado, conseguindo emprego na empresa onde actualmente trabalha. O casamento e o nascimento de dois filhos não lhe retiraram o sonho de um dia se inscrever na universidade. “Gostava de tirar um curso de serviço social, uma área que também gosto muito e ainda tenho esperança de o conseguir, nem que seja quando estiver reformada”. Só para ter o gosto de voltar a estudar porque, como diz, ninguém deve morrer sem tentar realizar os seus sonhos.

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