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A menina da Guarda que veio parar à beira Tejo

Virgínia Estorninho, 63 anos, nasceu em Souropires, uma aldeia de Pinhel, distrito da Guarda, mas o destino levou-a a cruzar o país. Da Beira Alta ao Alentejo, passando por Azambuja, onde hoje reside. Na aldeia nortenha teve o primeiro contacto com a natureza. O fio que transformou em pó de ouro na mó e lhe valeu uma repreensão da mãe ainda está guardado na sua memória. Depois do terreno sobressaltado da Guarda, Santarém. Mais tarde o Alentejo. O gerúndio que por vezes lhe entrecorta o discurso denuncia a estada longa. Aos 12 anos foi obrigada a rumar a Lisboa. O dinheiro que ganhava a tomar conta de crianças ajudou a pagar o Seminário dos dois irmãos. Completou o liceu à noite. Para ocupar as noites antes do 25 de Abril tirava cursos. De relações públicas e recursos humanos. Em vez de ir ao café ou às compras. Não consegue viver longe da natureza. Quando estava em Lisboa escapava-se para o mar. Em Azambuja espraia a vista na imensidão do Tejo. Depois das tempestades vai até ao rio. Respirar e respigar restos de madeira tosca a que depois dá contornos artísticos. A madeira das árvores das quintas dos amigos é matéria-prima para as obras da escultoraA vivenda que tem em Azambuja, onde foi vereadora do PSD, permite-lhe coexistir com a oficina que nunca teve no quarto andar de Lisboa. Aí aprofunda os baixos-relevos e liga a serra eléctrica. Com a mesma naturalidade que planta a horta de couves, hortelã e salsa. Não é crente fervorosa, mas é a arte sacra que a ocupa. Vai duas vezes por semana a Lisboa. Uma para a assembleia municipal onde é eleita e outra para organizar o trabalho como secretária geral dos autarcas sociais-democratas. Todos os dias telefonemas são encaminhados a partir de Lisboa. É pessoa organizada e metódica. Fruto de muitos anos de trabalho como assessora governamental e secretária de administração. O seu tempo está sincronizado. Quase poderia ser separado em dossiers. Terça à noite reunião da direcção do Centro Cultural Azambujense. Às quartas ensaios de teatro. Os livros de história espalham-se pela casa. Escreve e encena peças de teatro histórico com meninos da vila. Está a trabalhar na revolução de 1640 – restauração de Portugal. “O país está a ficar muito Ibérico. Há que criar algum sentimento pátrio”. Defende a cultura à frente da direcção do Centro Cultural Azambujense e debate-se diariamente com as dificuldades do associativismo. Adaptou-se bem às novas tecnologias. Manda mensagens de telemóvel a Marcelo Rebelo de Sousa sempre que não gosta de algum comentário. Sabe distinguir as amizades das posições políticas e tem alguns inimigos de estimação. Mas assume-o de forma natural. Acha que a política deve ser assim. O filho, de 28 anos, designer gráfico de formação a residir em Lisboa, não está ligado à política. Bastaram-lhe muitas horas passadas na alcofa por baixo da mesa do conselho nacional do PSD. Tem no marido, um delegado de propaganda médica reformado, um dos seus maiores apoiantes. Cumpriu dois mandatos à frente de uma junta de freguesia de Lisboa: Alto do Pina. Participou na fundação do Sindicato de Seguros e passou por comissões políticas distritais, assembleias distritais do PSD e na mesa do congresso. Move-a apenas as causas em que acredita.

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