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De ama de crianças a mulher de confiança de Sá Carneiro

Virgínia Estorninho, autarca, dirigente associativa, escultora, mulher de causas

Foi o pensamento do fundador do PSD, Sá Carneiro, que atraiu Virgínia Estorninho para o partido. A menina que começou a trabalhar aos 12 anos em Lisboa substituindo-se ao pai que partiu para o Brasil. A ex-vereadora do PSD de Azambuja, eleita na Assembleia Municipal de Lisboa, defende a cultura à frente do Centro Cultural Azambujense. A terra à beira Tejo que escolheu para dar asas à sua alma de artista.

Vive em Azambuja, mas nasceu numa aldeia do norte. Foi uma criança feliz?Naqueles tempos sim, porque tinha o meu pai e a minha mãe juntos. Depois o meu pai foi para o Brasil e, como muito português da altura, esqueceu. Formou outra família lá. O meu pai foi para lá com ideia de mudar a vida. Venderam-se os terrenos que até eram de herança da minha mãe para ele poder ir. Porque era uma viagem cara, de barco… O meu pai tem agora 92 anos. Mantém alguma ligação?Há 24 anos fui lá. Conhecer os irmãos. Somos três cá e três lá. Eu estava na Secretaria de Estado da Imigração como assessora da Manuela Aguiar. No gabinete dividíamos as viagens. Na imigração há muita saída e cabia-me os Estados Unidos. Três meses depois havia o Brasil. Disse que não tinha interesse em ir aos Estados Unidos, mas que gostaria de ir ao Brasil até para localizar o meu pai. Quando chego o meu pai estava convidado na recepção. Ele e a minha irmã. Foi um bocado traumático. Não era assim que esperava o encontro ao fim de tantos anos. Não pude expandir-me e tive que agir educadamente como assessora da secretária de Estado. Do norte foi para o Alentejo.O meu pai é alentejano. A minha mãe queria que o meu pai nos conhecesse antes de ele ir para o Brasil. E foi assim que ficámos por ali. Eu vim-me embora quando o meu pai deixou de mandar dinheiro. Fui para casa de uns padrinhos e depois tomar conta de crianças. E fiquei por Lisboa. Até vir para aqui [Azambuja].Aos 12 anos foi para Lisboa?Tomar conta de crianças. Vivia com os patrões. Mais tarde passei para o escritório dessas pessoas. À noite estudava. No Externato Gil Vicente, na Avenida Almirante Reis. Um colégio privado. Eram eles que pagavam…Tratavam-na como uma filha…Sim, levava descomposturas e tudo. Foi com eles que despertei para a política. O meu patrão era da oposição. Tínhamos sermões. Quando apareceu a televisão – foi uma coisa muito gira – ele sentava-nos a todos no chão e explicava as notícias. O que estava mal e o que estava bem. Comecei a ser politizada desde muito cedo. Teve ali um pai.Substituiu a figura de pai que eu não tinha. Trabalhei muito, mas o meu patrão foi uma pessoa a quem devo a forma independente de ser, o querer sempre superar-me a mim mesma, o espírito de luta e o sentido de liberdade e responsabilidade. E o resto da família?Os meus dois irmãos foram para o Seminário. A minha mãe não pôde tratar de nós todos. O que eu ganhava era para pagar o Seminário dos meus irmãos. Eles saíram por volta do quinto ano e foram trabalhar no escritório dos meus patrões. Depois fomos viver todos para Lisboa.Está na pré-reforma, mas continua activa. Onde fica o tempo para si e para a família?Agora o meu marido está reformado. Estamos aqui todos [mãe e marido]. Eu não consigo compreender aquelas pessoas que dizem: ‘eu não tenho tempo’. É tudo uma questão de programação, de disciplina e há tempo para tudo. As mulheres refugiam-se muito na desculpa da família?Não creio que dêem mais apoio do que aquele que dei ao meu filho apesar das actividades. Estou sempre disponível quando ele precisa de mim. E quando o Tiago era bebé não tinha carro. Vinha de autocarro de Santo António dos Cavaleiros para Lisboa. Saía às seis e meia da manhã com o bebé, ia pô-lo no infantário, ia para o emprego, saía do emprego, ia buscá-lo e nunca me atrapalhei. Acho que é uma desculpa e falta de organização. Depois são capazes de perder horas sentadas no café onde não consigo estar. A não ser que esteja a ler o jornal.

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