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“O fado não é um xaile negro e a tradição não pode limitar a criatividade”

“O fado não é um xaile negro e a tradição não pode limitar a criatividade”

Teresa Tapadas confessa que não consegue viver longe dos palcos e dos aplausos

Não nasceu para ser fadista nem tinha o destino traçado na palma da mão. Teresa Tapadas começou a cantar no coro da igreja e também cantou no rancho folclórico onde era bailarina quando a cantadeira faltava. Encontrou-se com o fado, por acaso, num grupo de música popular. Começou a carreira há seis anos depois de tirar o curso de administração autárquica. Agora está a preparar o seu segundo disco e afirma que não pode viver longe dos palcos, do público e dos aplausos.

Participou num projecto musical chamado Raízes Rurais & Paixões Urbanas mas o facto de nunca ter ido viver para Lisboa faz entender que a sua personalidade tem mais que ver com Raízes Rurais & Paixões Rurais.É tudo muito rural em mim. Mesmo o fado. Afinal é a música com mais raízes na nossa sociedade e quando falamos de raízes vem-nos à memória a nossa ruralidade. A minha voz tem mais terra que mar. É natural que assim seja sendo eu de onde sou (Riachos, concelho de Torres Novas).Há um fado do Ribatejo?Há fadistas do Ribatejo. E um fadista do Ribatejo interpreta de outra maneira os fados que falam de cavalos, touros, touradas. Deste universo nosso, muito próprio. O fado é uma forma de cantar sentimentos e vivências. Quando cantamos algo a que estamos mais ligados esse canto ganha outra dimensão.Canta muitos fados desses?Canto alguns. Gosto de cantar Mimela Cid, por exemplo. Gosto de cantar “Um Homem na Lezíria”. “Deixaste Uma Vida de Outrora”. De vez em quando canto o “Cavalo Russo” e o “Fado do Toureiro” que a Fernanda Baptista celebrizou.Quando gravou o seu primeiro CD, “Meu Grão de Paraíso” acreditava que ele lhe iria abrir algumas portas? Isso aconteceu?Abriu algumas mas a maior parte delas já estavam entreabertas. Hoje em dia um CD não é mais que um instrumento de trabalho. Para podermos ser conhecidos. Para servir de cartão de apresentação. Não se gravam CD para vender muito e fazer dinheiro que o mercado discográfico, hoje em dia, não dá para isso. Nem sequer servem para passar na rádio porque as rádios raramente passam fado. Um CD não faz grande sentido para além disso. Porque mesmo a nível de distribuição não segue o mesmo circuito de outras músicas. Quanto muito serve para um mercado próprio de música do mundo no estrangeiro. O seu primeiro CD saiu em Dezembro de 2004. Ainda gosta dele? Está razoavelmente bem cantado. Passou já tanto tempo. Mas isto é um problema nosso. As pessoas continuam a ouvir e a dizer que está muito bem mas para nós é diferente. Gravamos hoje, amanhã ouvimos e já há alguma coisa que não está muito bem. Se ouvimos uma semana depois já estamos capazes de regravar dois ou três temas. E passado um ano, então…acontece com todos os artistas. Um escritor, um pintor…todos queremos evoluir. Fazer melhor. Procurar a perfeição. Está a preparar a gravação de um novo CD. Sentiu necessidade ou foi-lhe sugerido?Foi-me sugerido que gravasse outra vez. Não pela editora mas pelas pessoas que fazem os contratos, que tratam dos espectáculos. Lá está. É um instrumento de trabalho, é um cartão de visita. E ninguém quer andar a distribuir um cartão de visita desactualizado. Precisamos mostrar a nossa imagem actual. A nossa voz, o nosso som, a nossa forma de cantar.Pessoalmente não sentiu necessidade de gravar?Não. Porque o que se passou com o primeiro CD foi um pouco…não digo frustrante porque é uma palavra pesada, mas ficou muito aquém das minhas expectativas. Não fez “boom”. Não mexeu. As discográficas sabem que um disco de fado raramente chega a ouro ou platina e por isso não fazem muito esforço. Não o colocam onde podiam colocar. Não batalham por ele. Não insistem. Se vender, vendeu. Se não vender, não faz mal. E esquecem-se que há uma pessoa. Um artista com o seu ego. Com sentimentos. Com vontade de ver o seu trabalho divulgado, avaliado, discutido.Tem pouca presença na Internet. E também não tem um video clip. O vídeo clip fazia parte do contrato. Era gravado a partir de um certo número de vendas que foi ultrapassado mas acabou por não ser feito. A partir do próximo CD as coisas vão alterar-se. O site e blogue estão a ser construídos. Calculo que tenha terminado a sua ligação à Vidisco? Sim e também quebrei a exclusividade que tinha com a empresa de espectáculos a C2E, antiga CC2. O resultado do trabalho deles também não foi brilhante. Tinham muitos artistas, nomeadamente artistas de fado. E quando assim é torna-se difícil. Estou a reformular tudo isso. A fazer novas escolhas. Neste momento sou eu que estou a gerir a minha carreira.E quer mais, obviamente. Já não está com o mesmo desprendimento do início de carreira?Não. Quando comecei a cantar nunca tive aquela persistência e aquela ambição de chegar ao topo; de ter um lugar ao sol. Fui subindo degrau a degrau muitas vezes sem dar por isso. Mas agora esta é a minha profissão. Tenho que dar tudo. Tenho que fazer melhor. Só assim faz sentido. Já está a trabalhar no novo CD?Sim. Estamos a escolher os temas, já começamos a ensaiar alguns. É um relançamento da sua carreira?É uma forma diferente de gestão da minha carreira. Vai continuar a privilegiar a associação a outros fadistas como fez com Entre Vozes e Agora com os Quatro Cantos do Fado?O António Pinto Bastos, a Maria Armanda, o José da Câmara têm carreiras com vinte anos eu tenho uma carreira, se é que posso falar assim, de mais ou menos dez anos mas que começou verdadeiramente em 2001. Eu agora dou por isso. E também sinto essa necessidade. Muito bem, estou nos Quatro Cantos mas quero que as pessoas me tenham como uma artista com uma carreira própria. Uma fadista que faz espectáculos a solo. Que tem os seus músicos. Quero ser a Teresa Tapadas, uma fadista que também canta nos Quatro Cantos.
“O fado não é um xaile negro e a tradição não pode limitar a criatividade”

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