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A paixão pela pesca transformou-se em negócio

A paixão pela pesca transformou-se em negócio

Jorge Gomes tem uma loja de artigos de pesca no centro histórico de Coruche

É pescador há muitos anos e explora o único estabelecimento especializado na actividade no concelho de Coruche. Jorge Gomes vende de tudo um pouco e tem muitas histórias para contar.

“Tens cá disto, ó Evaristo?”, questiona um cliente da loja Riana Sport, em Coruche, mostrando na palma da mão um fio de pesca de certa marca e características. Nem todos os clientes têm este à vontade com Jorge Gomes, proprietário do estabelecimento de artigos de pesca situado no centro histórico da vila. O rio Sorraia fica a cerca de 100 metros.É a única loja especializada em pesca desportiva de competição e para amadores na vila, no concelho e em bastantes quilómetros em redor. A loja, situada num rés-do-chão, quase não tem espaço disponível nas prateleiras, vitrinas e paredes. Há um pouco de tudo - anzóis, carretos, fios, bóias, canas de pesca, chumbos, engodo, além de muitos acessórios, como bancos, redes.Passados cinco minutos, entra outro cliente, que pede duas caixas de “bichinhos”, para se ir entreter para o açude da Agolada de Baixo. Jorge Gomes vai a outra divisão da loja e abre uma gaveta de uma grande câmara frigorífica para tirar o asticot. Ao todo são mais de 140 litros de isco armazenados, a baixa temperatura, entre um grau positivo e um grau negativo, para o bichinho ficar quieto. Jorge Gomes, 59 anos, tem a casa de pesca há 20 anos. Nos primeiros seis anos foi a mulher a olhar pela loja mas acabou por tomar conta do negócio a tempo inteiro. Para trás ficou uma vida de mecânico de máquinas industriais no porto de Sines, na barragem do Fratel, além de ter estado ligado ao sector da construção em países como a Nigéria, México e Camarões, em grandes hidroeléctricas.Federou-se como pescador aos 21 anos, actividade que exerce há quase 40. Ganhou muitas provas. Interclubes nacionais, a Taça Vila de Coruche em várias ocasiões e foi campeão nacional de clubes pelo Grupo Desportivo Coruchense. “Até a secção deixar um clube marcado pelo futebol para se transformar em Coruche Pesca Desportiva, uma associação que organiza provas federadas de pesca desportiva desde 1986, além de campeonatos nacionais, da Europa e do mundo”, realça Jorge Gomes. À custa da pesca conhece grande parte dos rios do país, especialmente a norte. Arrecadou mais de 300 taças, algumas delas, as mais velhinhas, foram para o lixo numa limpeza recente. Apesar de ter grande afinidade com a pesca ,Jorge Gomes já lidou com animais de maior porte. Foi um dos fundadores dos Forcados Amadores de Coruche, em 1971. Foi forcado durante 12 anos. O actual presidente da câmara, Dionísio Mendes, foi em algumas ocasiões o seu primeiro ajuda a pegar toiros. “Como numa corrida em Cascais, em 76, ou outra no Campo Pequeno em que fiquei maltratado. As mazelas desse tempo sinto-as hoje com estas mudanças de tempo”, diz Jorge Gomes com um sorriso.O carteiro chega cerca das 11h00 para deixar correspondência. Aproveitam para combinar uma pescaria para domingo, na barragem do Cibarro. Um grupinho habitual de 10-12 elementos que aproveita para passar um bom bocado a ver se a bóia vai ao fundo, enquanto vai picando grelhados, tinto, cervejas e uma sardinhas de Salvaterra (entremeadas).Pára uma carrinha à entrada na loja, na travessa do Monteiro, para mais uma compra de isco. Segue-se um cidadão ucraniano que leva o mesmo. Na loja Jorge Gomes recebe clientes de todo o país. Se num dia normal da semana os clientes vão entrando aos poucos, durante as competições à beira do Sorraia é um corrupio de entradas e saídas com pescadores à procura de anzóis, bóias e afins. Há canas de diferentes preços, de pouco mais de 20 euros a algumas centenas. E clientes a condizer, desde o que compra o simples isco ao que não tem medo de investir a sério para se iniciar na actividade. Alguns, os de competição, chegam a ter mais de 20 canas de pescas para as diferentes provas e locais.Há ainda iscos como asticot, minhocas da terra, do mar e coreanas, além dos mais diversos para atrair os peixes. De fundo vermelho, amarelo, especial carpas, e outros especiais à base de milho, trigo e produtos do género. Até com sabor a morango. Quase todo o material vem de fora do país. Só o asticot, engodos e chumbos são nacionais. “Apesar de tudo já não se pesca tanto peixe como antigamente. Muito devido às curas de campos agrícolas que invadem os cursos de água, mas também devido à introdução de espécies carnívoras e vorazes, como o lúcio, peixe-gato ou achigã”, explica Jorge Gomes. A pesca desportiva tem acompanhado essa evolução e, na competição ou no amadorismo puro, o pescador já se habituou a devolver o peixe à água. Recorda o comerciante e pescador que antes o peixe era metido em sacas ou baldes até ser pesado durante as provas. Entretanto morria e tinha de ser enterrado. Actualmente é deixado nas mangas (redes) dentro de água e devolvido ao habitat. Só os antigos mantêm o hábito de levar o peixe para comer.A loja de Jorge Gomes está aberta de segunda a sábado. A abertura aos domingos de manhã depende da época do ano de pesca. De resto, a quarta-feira é o seu dia de eleição para descomprimir na zona do Couço ou Santa Justa. A pescar, obviamente.
A paixão pela pesca transformou-se em negócio

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