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De vassoura na mão para limpar a cidade

Jorge Coelho é cantoneiro de limpeza da Câmara de Santarém há 20 anos

Independentemente do que vier a surgir, não pensa mudar de profissão nem está arrependido da opção tomada. Mesmo que já lhe tenham dito que tinha jeito para ser polícia.

Jorge Coelho puxa o carrinho com a vassoura e a pá e vai limpando a via pública e passeios da avenida Bernardo Santareno e ruas adjacentes. É sábado de manhã sob o sol de Novembro e o dia já corre desde as seis horas para acabar perto das onze. Nesta época as folhas amarelas, caducas, vão caindo e quando todo o trajecto está concluído parece que o cantoneiro de limpeza nem lá passou. “É uma coisa da natureza”, não estranha o profissional.Não foi o emprego de sonho que Jorge Coelho agarrou há 20 anos mas uma oportunidade numa altura em que grassava a falta de emprego. Ficou-se pelo oitavo ano em matéria de estudos e não pensou duas vezes. Lembra-se de ter sido entrevistado pelo então presidente da câmara Ladislau Botas. Anteriormente só tinha trabalhado através do programa de ocupação de tempos livres do Instituto da Juventude. Jorge Coelho não teve preconceitos em trabalhar como cantoneiro de limpeza. Que o mesmo é dizer lidar com o lixo que todos produzem e despejam no contentor. O que não significa que tenha sido fácil. “Não estava habituado a lidar com lixos e os maus cheiros pendurado num camião e a mexer em contentores. Até custou adaptar-me às dores nos músculos das mãos e de ir agarrado no camião”, recorda. Até um valente trambolhão deu num dia em que se lançou para agarrar na viatura e escorregou. Felizmente sem consequências de maior. Amigos e familiares nunca o criticaram por ter acedido a fazer semelhante trabalho. Que em seu entender continua mal visto apesar de ser em beneficio do público. Nos primeiros tempos andou pelo Sacapeito, passou pela Ribeira e outras zonas. Até há pouco tempo fez a limpeza nalgumas ruas de S. Domingos, antes de se mudar para a avenida Bernardo Santareno. De segunda a sexta trabalha das seis da manhã ao meio-dia. Ao sábado fica até às onze. Jorge tem como missão apanhar toda a sujidade que vai encontrando. Folhas, papéis, maços de tabaco, sacos, dejectos de animais e não só. Nestes últimos casos o cantoneiro continua a ter razões de queixa do comportamento de alguns cidadãos. “Há pessoas que continuam a não colaborar. E é ver os donos de cães que os levam a fazer as necessidades nas ruas e espaços relvados. Deviam cair com o nariz em cima do serviço”, graceja. O cantoneiro diz mesmo já ter sido ofendido verbalmente. Mas não consegue ficar indiferente a quem tem um contentor e deixa sacos ao lado ou em cima ou até atira objectos pela janela. Outro problema é a alimentação de animais – cães e gatos vadios. Cada vez que recolhe a comida colocada atrás de prédios ou entre carros recebe observações de quem alimenta os animais. Jorge Coelho diz que, independentemente do que vier a surgir, não pensa mudar de profissão nem está arrependido da opção tomada. “Daqui não saio”, sentencia. Mesmo que já lhe tenham dito que tinha jeito para ser polícia. E mesmo que o ordenado não seja o melhor e de se viver apertado. “Com tanto aperto de cinco e tanto furo não vai haver cinto que aguente”, acrescenta.O profissional não gostaria de voltar aos camiões, até por causa de uma arreliante lombalgia. Mas já há outras máquinas no terreno. Como a varredora conduzida que percorre certas ruas da cidade com escovas e jactos de água. Ou o Gluton, a maquineta que aspira papéis e todo o tipo de pequenos objectos como um aspirador. Ainda assim, e apesar de já ter andado na varredora, Jorge gosta da companhia do carrinho, vassoura e pá. Uma boa notícia chegou no início de Outubro com a inauguração das novas instalações dos Serviços de Higiene e Limpeza da Câmara de Santarém. Jorge Coelho considera que finalmente foi feita justiça aos funcionários que trabalhavam em condições degradantes. “O que espero é que as pessoas se consciencializem que é do seu interesse manter a cidade limpa, em benefício de todos”.

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