Era uma vez duas irmãs que nasceram e viveram a infância numa pequena aldeia do interior chamada Bemposta. Quando cresceram, Ilda e Julieta, foram morar para a capital mas nunca esqueceram a terra. E já velhinhas decidiram que toda a sua fortuna seria gasta em prol dos habitantes daquela pequena aldeia onde nasceram. Este podia ser um conto de fadas mas é uma história verdadeira. E no sábado cumpriu-se mais um capítulo, com a inauguração de uma biblioteca na aldeia do concelho de Abrantes. O terreno onde está instalada e o edifício ali implantado foram dádivas das duas irmãs, que custearam também todas as obras de recuperação do imóvel, no valor de 250 mil euros. Metade do acervo bibliográfico (cerca de dez mil livros) e todos os computadores já ali colocados foram também doados pelas beneméritas. Nada mais justo que o equipamento ostentasse o nome de família das duas benfeitoras. E assim, no 1º de Dezembro, nasceu na Bemposta a biblioteca Lisardo Leitão.A Câmara de Abrantes não ficou insensível à iniciativa e ajudou a concretizar o sonho. O novo espaço passa a ser uma extensão da Biblioteca Municipal António Botto, servindo prioritariamente a Freguesia de Bemposta, mas estabelecendo-se também como plataforma de apoio à leitura para as freguesias vizinhas de Vale das Mós e São Facundo. “Um belíssimo equipamento à disposição da população, numa clara aposta na cultura, leitura e elevação dos níveis de educação na região”, como disse o presidente do município, Nelson Carvalho (PS).Que não seria possível sem “a capacidade mental e nobreza de espírito” de Ilda e Julieta Leitão, reforçou o presidente da junta, Francisco Bentes. Que anunciou aos conterrâneos a concretização, para breve, de mais uma iniciativa – a criação de um espaço contíguo à biblioteca para albergar uma casa da cultura, com uma área etnográfica, numa parceria entre a junta, a câmara e a Tagus, Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Interior.Para o funcionamento da biblioteca foi estabelecido um protocolo de colaboração entre Julieta Lisardo Leitão (a única irmã ainda viva), a Câmara de Abrantes e a Junta de Freguesia de Bemposta, mediante o qual, o município tem a seu encargo a renovação dos fundos documentais, a catalogação e disponibilização da informação bibliográfica relativa à biblioteca e ainda a definição e manutenção de padrões de qualidade para o serviço de leitura. Garante também a integração total da biblioteca de Bemposta na rede de bibliotecas públicas do concelho, com total partilha dos recursos bibliográficos, nomeadamente através do empréstimo inter-bibliotecas. A junta de freguesia, responsável pela criação do espaço, assumiu os encargos com o equipamento audiovisual e tem a seu cargo o pessoal, gestão e manutenção do espaço.O acto de nobreza das duas irmãs não começou no último sábado. O terreno onde está hoje implantado o centro de dia da Bemposta também foi doado por Ilda e Julieta Leitão, que ainda apoiaram financeiramente a sua construção. “Tudo o que a família Lisardo Leitão tinha na Bemposta, além de uma propriedade em São Facundo, foi doado a esta freguesia”, disse a O MIRANTE o presidente da junta. Que salientou a “raridade”, nos dias de hoje, de actos como estes.