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O negócio da torre inacabada de Azambuja

Como provedor da Santa Casa da Misericórdia de Azambuja teve que resolver a questão da torre que esteve inacabada durante duas décadas. Foi uma tarefa complicada logo no arranque…Quando viemos para a Misericórdia definimos como ponto mais importante resolver o problema da torre. Eu conhecia bem a génese do problema, conhecia menos o facto da torre ter vindo parar como património à Santa Casa e conhecia como cidadão a vergonha que representava aquele monstro… Pusemos mãos à obra. Foi um negócio difícil?A sorte só vai ao encontro das pessoas que a procuram. E não me considero nem de perto nem de longe um afortunado. Fizemos as nossas diligências. Pensámos encontrar algumas ressalvas da Segurança Social na medida em que a torre tinha sido comprada com ajuda do Estado. Coincidiu com o Governo de Cavaco Silva que tinha um programa chamado “Idosos em lar”. Apareceu um potencial comprador muito interessado. Não obstante não ter garantias nenhumas – e desde aí fiquei a admirá-lo muito – foram fazendo projectos de alterações e de adaptações e acabámos por vender a torre a essa empresa. Não seria um projecto megalómano transformar a torre num lar de idosos da Santa Casa?Não sei se seria megalómano ou não. Existem projectos semelhantes. Este prédio tinha 10 andares. O que estava previsto era que alguns fossem destinados a lar e fisioterapia e os outros destinados a venda. No rés-do-chão funcionaria comércio. Sem que isto implique uma crítica, não vejo como seria possível no mesmo edifício conciliar esta dupla valência… De certeza que a obra seria cara e talvez não fosse bem o que melhor servisse a Santa Casa. No projecto actual que temos de apartamentos para idosos da Santa Casa temos apenas um piso, sem elevadores ou monta-cargas…O negócio permitiu que a Santa Casa arrecadasse verbas para investimento.Foi um bom negócio para a misericórdia que embolsou uma verba muito boa na época, uma boa oportunidade para o comprador e um óptimo negócio para Azambuja que se viu livre do problema. Até ali levantavam-se hipóteses de mandar implodir a torre. O que é certo é que a torre tinha vinte e muitos anos e era abrigo de marginais. Corri alguns riscos porque por detrás do negócio podiam não estar pessoas sérias…Mas tinha experiência. Já tinha sido gestor…Sim, mas há muito boa gente nesta terra que não nos perdoa que tenhamos vendido a torre. Porque não nos perdoa que tenhamos ficado com dinheiro para gerir uma instituição. E ficam muito tristes quando lhes digo: ‘ainda não gastámos um cêntimo do dinheiro da torre que está no banco a prazo’. Sempre nos tem rendido alguma coisa. Não somos uma misericórdia rica. Temos 2.500 euros de rendas por mês. Vivemos com o dinheiro que a segurança social dá para os idosos e para as crianças. Noventa e nove por cento dos idosos têm a pensão social e pagam 80 por cento. A pensão social não chega a 200 euros. As comparticipações do Estado são curtíssimas. Ainda assim no último dia do mês passamos cheques a todos os fornecedores. Não temos um cêntimo de dívidas. Onde vão aplicar o dinheiro da torre?Na ampliação do lar, cujo projecto está aprovado e cujos projectos de especialidade foram entregues na câmara municipal. Iremos aplicar fundos próprios, parte do dinheiro da venda da torre. No princípio do ano pensamos lançar concurso. E têm um projecto de apartamentos para idosos…São 17 apartamentos T0 e T1. A obra será iniciada em 2008 e irá processar-se num terreno com área de três mil metros quadrados à entrada das instalações da Santa Casa, na zona dos poisões, em área vedada junto às piscinas. Chamamos-lhe condomínio fechado. Um lar de idosos num prédio de andares é uma coisa que me confunde. Confrange-me pensar que um idoso possa viver mais uma dúzia de anos confinado a um andar a duas salas. Isto não é vida. Há normalmente uma ideia errada de que os lares de idosos devem estar no centro das terras, no âmago. Entendo que não é bem assim. Não devem estar afastados como se fossem leprosarias, mas não há vantagem em estar no meio onde depois não podem crescer e viver desafogados.

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