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“O divórcio está banalizado na nossa sociedade”

A jovem actriz de Porto Alto, Sylvie Dias, é “Fanny” de “O Clube das Divorciadas”

Despiu os fatos de passerelle, vestiu um biquini em “Morangos com Açúcar” e agora a actriz do Porto Alto, Sylvie Dias, é uma inglesa à procura de marido numa comédia em digressão nacional – “O Clube das Divorciadas”. A personagem não poderia ser mais antagónica ao seu verdadeiro “eu”.

Deixou a série televisiva “Morangos com Açúcar” com vontade de fazer muitas coisas, inclusivamente teatro.O teatro foi uma coisa que me aconteceu e nunca esperei que fosse tão mágica. Temos um tempo enorme para preparar uma personagem. Para estudar o que pensa, o físico, o emocional. Podemos criar muita coisa. E temos sempre um mês ou mês e meio de ensaios. Depois há a magia do palco. Os nervos antes de entrar. A energia que o público nos dá quando entramos que nos faz não querer sair… É uma coisa que em televisão não existe…Na televisão é tudo muito mais mecânico. Temos 15 ou 20 cenas para fazer. São sempre 40 ou 50 páginas para decorar. E acabamos por não conseguir saborear muitas coisas. Temos que chorar e na cena seguinte rir imediatamente. Já me vi aflita para fazer imensas coisas. Quando tenho que chorar desalmadamente, por exemplo. Temos imensos técnicos à frente, estivemos a vestir-nos à pressa, chegamos ao decor e dizem-nos: ‘começa a chorar’. Não é fácil para o actor ser automático. O teatro permite-nos aprender técnicas para ajudar a controlar os nossos sentimentos.É mais difícil fazer rir ou fazer chorar? Em teatro ainda não fiz drama. Fiz duas comédias, mas pelas conversas que tenho com os actores tenho percebido que é mais difícil fazer rir que fazer chorar. É preciso estar sempre com uma boa energia. Se nós estivermos em baixo o público sente logo isso. Não é fácil estar assim todos os dias, mas os outros problemas têm que ficar um pouco para trás. No palco temos que estar a 100 por cento. Tem conseguido manter esse nível de energia?Como sei que sou a mais nova – ao lado do José Raposo e da Marina Albuquerque - sinto sempre que tenho que dar muito mais de mim. É a primeira vez que estou a trabalhar com o Joaquim Nicolau [encenador] e claro que quero que as pessoas gostem de trabalhar comigo. A energia não pode faltar e eu tenho dado tudo por tudo. Cada espectáculo tem que ser como se fosse o primeiro. Como é o nervoso miudinho antes do espectáculo?As estreias são horríveis. São às nove e meia da noite o que quer dizer que passamos o dia inteiro com um frio na barriga. Não conseguimos comer e só pensamos naquilo, na estreia. É supersticiosa?O único amuleto é um anel com golfinhos. Todas as pessoas vão buscar energia aos pontos que conhecem. A pessoas ou lugares. Eu tenho aquele animal como uma fonte de energia. Tenho imagens de golfinhos comigo no camarim e o anel que nunca largo. Se o tiver estou protegida.A peça chama-se Clube das Divorciadas. Mas não pertence à classe…Não (risos)… É engraçado porque dos três actores sou a única que não pertenço ao clube. Eu estou na fase contrária. Tenho 29 anos, pretendo engravidar este ano e talvez haja casório em breve. Tenho um bom companheiro em casa e estou na fase em que a vida é uma maravilha. Não tenho noção do que é o divórcio. A forma como as divorciadas são retratadas na peça aproxima-se da realidade?Tenho amigas mais novas - com 25 e 26 anos - que já estão divorciadas. É um fenómeno que tem acontecido muito e que é assustador. São casais que se juntam, às vezes acabam por ter uma criança e separam-se. Acho um bocado estranho. É uma família que não resultou. E uma criança que vai ficar sempre com os pais divididos. Está a acontecer cada vez mais…Isso choca-a?Sim, choca. Vou tentar ao máximo evitar que isso aconteça comigo. Não sou apologista de se sofrer 20 ou 30 anos ao lado de uma pessoa que não se gosta. É absolutamente errado. Muitos dos nossos avós terão passado por isso, mas nunca se divorciaram porque era uma vergonha. Os divórcios não têm que ser uma vergonha, mas as pessoas hoje talvez não tenham tanta vontade de lutar pelas coisas, de dar o braço a torcer, de conversar, de lutar para que o casamento continue. As pessoas não têm qualquer tabu em relação ao divórcio. Acontece. Estão separados. Acomodam-se.O divórcio é o início de uma nova vida?Já conheci muitas ‘tias’ que a partir do momento em que se separam renascem. Cuidam-se, ficam mais bonitas, emagrecem, recuperam a auto-estima que não tinham quando estavam casadas. A ‘tia’ da peça já eu vi retratada na vida real. Pessoas como a Roselinda, vindas do interior, também acredito que existam. E inglesas como a Fanny há por aí aos montes…Tem pouco a ver com a personagem que encena.Sim. A Fanny é um bocadinho esgrouviada. É uma inglesa com uma mentalidade que em Portugal não existe muito. No Verão sobretudo fala-se muito das inglesas que vêm cá conhecer homens… A Fanny já foi casada, trás a casa às costas dentro de um saco e quer é conhecer mais homens. De preferência ricos!As mulheres bonitas têm que provar duas vezes que são profissionais capazes?A mulher bonita tem muitas vezes que mostrar que tem mais do que a beleza para dar. Tem talento, como os outros. Tenho um colega com uma deficiência na perna. É director comercial. Diz que sente necessidade de provar três e quatro vezes que é tão capaz como outras pessoas... O facto da pessoa ser bonita é exterior, não tem nada a ver com as capacidades. É um aspecto irrelevante.No seu caso tem-se revelado uma vantagem?As pessoas lembraram-se de mim porque a Fanny tinha que ser uma mulher vistosa. Já tenho o aspecto exterior, agora tenho que dar a parte da alma. A parte interior da personagem. Em Portugal catalogam as pessoas. O careca gordinho faz de polícia e a menina bonita de fútil ou burra. Cabe a nós evitar que isso aconteça. Que personagem gostaria de encarnar?Alguém com problemas mentais. Deve ser muito interessante, mas muito complexo vestir a pele de alguém que sofre de distúrbios mentais por coisas do passado. Seria um desafio enorme…

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