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Os livros e os jornais noite dentro

São três da manhã de uma terça-feira e acabo de devorar uma dúzia de jornais e revistas comprados durante o fim-de-semana, todos eles bem pesados e com vários e variados suplementos.Entre as dezenas de notícias que li, as dezenas de artigos por onde passei os olhos e os inúmeros artigos de opinião onde queimei as pestanas, guardo esta recordação: duas edições de fim-de-semana de dois diários portugueses contêm informação superior a todo o conhecimento que uma pessoa teria durante uma vida inteira no século XVIII.Depois de devolver os jornais aos sacos de plástico, recupero um livro de entrevistas a Miró, comprado durante o fim-de-semana, numa daquelas tentativas de salvar a memória de tanto alimento precário. Miró é uma das figuras mais importantes do último século e, um dia, numa conversa em casa de um seu amigo e companheiro das artes, ouvi dizer dele aquilo que eu não digo dos poetas populares da minha terra: que ele tinha dificuldade em entender alguma da melhor poesia que os companheiros iam partilhar ao seu atelier de Barcelona.Este fim-de-semana perdi a oportunidade de ir ouvir uma figura ilustre da cultura portuguesa num debate sobre literatura. Entretanto já tenho marcado para daqui a dois dias uma viagem a uma cidade da Europa para visitar duas exposições de pintura de dois artistas do século passado que só conheço dos livros. No próximo fim-de-semana vou ler os jornais franceses como alguns dos meus concidadãos ainda lêem os jornais portugueses: vendo as fotografias e soletrando aqui e ali meia dúzia de palavras.Na segunda-feira hei-de chegar a casa com mais livros debaixo do braço e com os dois volumes dos catálogos das exposições para não perder a memória do que fui ver. Vou levar o Miró debaixo do braço mas sei que vou ler pouco e que, quando chegar da viagem de dois dias, vou ter o mundo à minha espera nos suplementos imperdíveis do El País, do ABC, do Público e de muitos outros jornais. Mas, hoje, o meu dia ficou marcado pela participação numa sessão na casa Fernando Pessoa onde fui como observador e para pedir batatinhas a um velho editor para que editasse um amigo, poeta com Obra feita mas que, não sendo pessoa para comprar e vender a honra e o corpo, como agora é moda, só editará em vida se alguém se interessar por ele e pela sua Obra. Sabe, Emídio, a poesia não vende, é poesia, se fosse romance!! blá blá blá. Dez minutos depois de termos falado, e ao iniciar a sessão, a velha raposa ( tem nome mas eu não lhe dou publicidade) disse que ia editar em Fevereiro um dos maiores escritores da língua portuguesa de sempre, um dos poucos que escrevia como os poetas.Já são cinco e meia da manhã. Tão tarde para perceber como é que há tanta gente a levantar-se a esta hora para ir trabalhar sem levar livros debaixo do braço. JAE

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