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Fogo destruiu anexo de uma casa onde viviam dois idosos de Tomar

Incêndio pôs a nu a precariedade da habitação onde mora Fernando Baptista

Casa foi arrendada há mais de 30 anos pelo avô de António Lourenço dos Santos, ex-secretário de Estado do Governo de Durão Barroso, agora responsável pela gestão dos negócios da família.

Fernando Baptista abana a cabeça enquanto olha para o amontoado de peças retorcidas e tecidos queimados pelo fogo que no azarado dia 13 destruiu a barraca que lhe servia de cozinha e sala, situada num terreno junto à casa que arrendou em Montalvo (Constância). Duas televisões, uma aparelhagem, um fogão, um frigorífico, vários sofás, uma bicicleta e uma motoserra foram rapidamente consumidas pelas chamas. Restaram as panelas e tachos de alumínio e pouco mais. “Como é que agora vou viver, sem ter uma cozinha?”, questionava-se a mulher, Maria da Glória. A barraca, construída em madeira e coberta com chapas de zinco, foi erguida sem licença há mais de uma década por Fernando, para colmatar a falta de uma cozinha na pequena casa que alugou a Joaquim Silva na década de 70. Na minúscula divisão que poderia servir de cozinha não há espaço sequer para pôr uma mesa e a chaminé há muito que foi tapada pelo senhorio.O funcionário mais antigo da Junta de Freguesia de Montalvo mostra-se revoltado com a falta de condições em que vive e aponta o dedo a Joaquim Silva e ao filho, António Lourenço dos Santos, ex-secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, que diz ser quem actualmente gere os negócios do pai. “Eles nunca se importaram com a falta de condições que temos. Taparam-me a chaminé e as janelas dos quartos com cimento, a casa de banho tinha apenas uma sanita e chove dentro de casa”, refere Fernando Baptista enquanto mostra as exíguas divisões. A falta de condições levou-o a alugar, ao mesmo proprietário, há cerca de 12 anos o pedaço de terreno em frente à habitação. Era para uma garagem mas o espaço acabou por ser alargado para funcionar também como cozinha e sala. Era ali que o casal passava a maior parte do tempo. “Só íamos ao outro lado para dormir”.Nessa quarta-feira Maria da Glória apagou bem o lume da lareira antes de sair com o marido para levar uma encomenda de azeite à aldeia de Madeiras. Já vinham de regresso quando o neto lhes telefonou a dar conta do incêndio. “Quando aqui cheguei já não pude fazer nada”, diz Maria da Glória com os olhos marejados de lágrimas. Os Bombeiros de Constância acorreram prontamente ao local mas o fogo já tinha alastrado a toda a divisão. O comandante dos bombeiros confirma que a lareira estava devidamente apagada e que nada no local indiciava onde o incêndio teria começado. Com a cozinha e os respectivos equipamentos completamente destruídos, o casal tem-se socorrido de familiares, que lhes têm fornecido as refeições. A junta de freguesia decidiu dar-lhes também um apoio financeiro pontual para fazer face aos gastos com a alimentação. A Segurança Social e o serviço social da Câmara de Constância já se deslocaram ao local, estando actualmente a analisar as formas de apoio a dar ao casal.“Não quero mais barracasnaquele espaço”Em declarações a O MIRANTE António Lourenço Santos ressalvou que a casa foi alugada há mais de 30 anos pelo seu avô e que nunca lá entrou. “Não sei se tem condições para cozinhar, o que sei é que o senhor transformou tudo em quartos e transferiu a cozinha para uma barraca que edificou em frente, sem o consentimento do proprietário”, diz, admitindo no entanto que a casa é pequena.António Lourenço Santos lembra ainda que quando o inquilino alugou a casa “sabia o que alugava” e que já lhe disse verbalmente que não quer mais barracas construídas no terreno. Fernando Baptista diz que a sua única solução é pôr um fogão na garagem. “Se fosse Verão punha-o na rua em frente ao portão da casa dele. E depois chamava a televisão para ele ter alguma vergonha na cara”.

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