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Tradicional Feira de São Matias em Abrantes vive momentos difíceis

Tradicional Feira de São Matias em Abrantes vive momentos difíceis

Vendedores lamentam gradual quebra de interesse por parte do público
Em Abrantes, a tradicional Feira de São Matias arrancou com muita chuva. Ao segundo dia de feira, o tempo cinzento e instável desencorajou muitas pessoas a sair de casa, principalmente a quem tem de se deslocar de zonas mais afastadas do local da feira, agora situada na periferia da cidade. Poucos são os que têm coragem para pôr pé na feira que outrora movimentava gentes de todo o concelho e concelhos vizinhos, assim que iniciava. As pessoas que por ali passeiam na sua maioria são residentes de Alferrarede, que por terem a feira à porta aproveitam para serem os primeiros a dar “uma vista de olhos às novidades”. O Tecnopólo é já o quarto espaço onde a feira é realizada, mas o primeiro fora da cidade, o que motiva pouco contentamento aos feirantes. “O espaço é melhor. O terreno é plano e há mais largueza. Mas a localização deixa muito a desejar. Durante a semana ninguém vem à feira porque estamos afastados do centro. Se estivéssemos na cidade, as pessoas que precisam de tratar de alguma coisa aproveitavam e davam um salto à feira” explica Caetano Pereiros, feirante assíduo há 38 anos. Em criança pela mão do pai e depois seguindo-lhe as passadas no negócio das madeiras. Os anos de experiência nestas andanças levam-no a dizer que “as pessoas agora não compram porque antigamente guardavam-se as compras para a feira e hoje há muitos sítios onde gastar o dinheiro”, constata. A opinião é unânime entre os restantes feirantes. O negócio tende a enfraquecer ano após ano. O espírito é outro. Nas palavras de uma feirante de loiça alentejana, há cerca de 15 anos a fazer a Feira de S. Matias, “as pessoas vêm à feira para passear”.No habitual espaço dedicado aos feirantes vende-se um pouco de tudo. Flores, carpetes, mobiliário, vergas, quinquilharias, barros, loiças, candeeiros, roupa e brinquedos. Os feirantes mais antigos deixam o seu espaço para ir colocar a conversa em dia com os vizinhos do negócio. Muitos conhecem-se há mais de 20 anos. Por entre as barracas passeiam alguns casais, que vão dando uma vista de olhos ao que por ali se vende, mas com pouca vontade de comprar. Mãos nos bolsos, olhar tranquilo e poucas perguntas revelam isso mesmo. “Viemos só ver, a feira ainda só começou agora e ainda temos duas semanas para comprar” diz-nos um casal simpático na casa dos 30 anos. Enquanto isso aproveitam para parar numa das várias caravanas de farturas e churros que dão as boas vindas aos visitantes, localizadas no corredor principal da entrada da feira. Algodão doce, pipocas, gigantescos e coloridos chupa-chupas, torrões de amendoim caramelizado fazem as delícias dos mais pequenos que também por ali passam. “É sempre a mesma coisa”As pessoas que por ali passeiam fazem-no por estarem de fim-de-semana. Durante a semana “não se vê alma viva”. Passar pela Feira de S.Matias ao domingo é já um hábito. Artur Tavares, residente em Alferrarede, tem 70 anos. Diz ser um visitante assíduo, mesmo quando a feira era realizada na cidade, primeiro junto ao tribunal, depois junto ao antigo hospital velho e ainda atrás do mercado, onde se situa o actual terminal rodoviário. Artur passeia na feira sozinho. Diz que, como mora perto, não há um dia que não vá comprar uma fartura ou passear os netos. “Antigamente vinha à feira com a minha mulher para comprar alguma coisa para casa que nos faltasse, uns tapetes, uma colher de pau. Hoje venho mais por causa dos meus netos que gostam disto” ou até para “ver as moças novas”, graceja.Elsa Pereira veio do concelho de Ponte de Sôr visitar a feira. Aproveitou para vir dar um passeio com a família e comprar uns potes de decoração para sua casa. Mas em tom de desabafo e expressão de desalento diz “ser sempre a mesma coisa”. Os sons oriundos dos vários pontos do recinto misturam-se tornando-se por vezes indecifráveis. O ambiente é de festa. Pelo menos para os grupos de adolescentes que freneticamente correm de divertimento em divertimento, tentando andar naquele que mais sensações oferece. Montanha russa, carrinhos de choque, ‘Tentáculos de Polvo’ gigantescos esperam a adesão dos mais ousados e aventureiros, havendo diversão também para a pequenada nos temáticos e divertidos carrosséis. Os preços oscilam entre os 2 e 4 euros mas ainda não existem filas nas bilheteiras. As pessoas param para apreciar o conjunto de luzes intermitentes do aparato e pouco mais. Tentamos provocar algumas pessoas perguntando se já sabiam qual o divertimento que iriam experimentar mas a resposta foi de que “só estamos a ver”. Uma resposta que nos habituamos a ouvir ao longo da tarde.
Tradicional Feira de São Matias em Abrantes vive momentos difíceis

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