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Pedro Góis nasceu em Santarém e o seu sonho de criança era voar

Pedro Góis nasceu em Santarém e o seu sonho de criança era voar

Na adolescência vendeu a prancha de surf para pagar uma viagem num avião de acobracias

Pedro Góis, comandante de bordo de um Airbus 310 da SATA Internacional, tem 31 anos. Nasceu e vive em Santarém. A paixão dos aviões é antiga. Aos 12 anos não se cansava de dizer que queria ser piloto. Aos 16 vendeu a prancha de surf para pagar uma viagem num avião de acrobacias. Agora tem o seu próprio aparelho e participa em provas.

Como é que surge a paixão pelos aviões?O meu avô queria ser piloto mas nunca o foi, porque o pai, meu bisavô não deixou. O meu é médico da Força Aérea. Tenho papéis escritos aos 12 anos onde dizia que queria ser piloto. Nunca houve um desvio desse objectivo.Aconteceu tudo em Santarém…Sim, penso que se não tivesse aqui um aeródromo ao pé de casa não ganharia esta paixão. Ainda hoje recordo vir de bicicleta e ficar aqui a ver os aviões. Era tímido mas vinha tanta vez que as pessoas começaram a conhecer-me e a dar-me boleia. Actualmente também venho muitas vezes de bicicleta, mas chego e pego no meu avião para voar. Quando surge o gosto pelas acrobacias?Foi uma das componentes que me despertou para a aviação. A sua espectacularidade. Tinha 16 anos quando voei num Pitts pela primeira vez. Dediquei-me totalmente à aviação. Com 16 anos vendi a prancha de surf para poder andar como passageiro num Pitts Special de dois lugares. O que custava na altura 38 contos. A prancha tinha custado 61 contos na altura. Vendi tudo por 40 contos e concretizei o sonho.Fazia surf?Sim, desde os 15 anos e ainda hoje faço. Mas nunca fui muito bom. Havia miúdos dez vezes melhores que eu. Do gosto pelos aviões a tirar um curso de piloto de aviação comercial foi um passo lógico.É um curso muito vasto que inclui conhecimentos de legislação e navegação aérea, inglês, comunicações, planeamento de voo, meteorologia. São diversas temáticas que são ministradas de forma condensada e que durante o percurso profissional vão sendo aprofundadas. Por isso nas companhias áreas vamos encontrando padrões mínimos que temos de ultrapassar, de 75 por cento. Quem tem 80 por cento já fica na dúvida e quem tem abaixo disso tem de repetir. Quem tira o curso pilota aviões para a vida?A minha licença de voo como a dos demais pilotos dura apenas seis meses e tem de ser renovada sucessivamente nesse período. Deixo mesmo de receber ordenado se a licença não for renovada. Quando olhamos para os comandos de um avião aquilo é uma confusão imensa de botões. O painel de instrumentos de um avião é uma coisa vastíssima.É um mundo de comandos e gestão de sistemas. Um piloto tem que ser capaz de garantir segurança máxima e controlo sobre todo o tipo de situações.Andou muito de avião como passageiro antes de ser piloto?Fiz muitas viagens de lazer, em férias, mas nessa altura o mais longe que fui foi aos Açores. Aliás, os Açores são outra das minhas paixões. Apesar de termos uma companhia conhecida, como a TAP, nunca me senti atraído por ela. A SATA Internacional está estabelecida em Lisboa, o que me permite uma qualidade de vida excelente.Como é que foi o seu primeiro voo comercial?O primeiro voo como piloto comercial aconteceu a partir do Funchal com destino a Glasgow, Newcastle e regresso ao Funchal, num total de nove horas de voo. Lembro-me de ter tido muitos nervos, muita ansiedade, mas essa ansiedade até é benéfica em termos de concentração.Tinha medo de errar? Há uma sensação de responsabilidade, peso e consciência situacional. Sabemos sempre que em situações de mau tempo não podemos encostar como fazemos com os carros. Entrei com 500 horas de voo, que é o mínimo, mas correu tudo bem. Quem pilota regularmente um Airbus muda facilmente para um avião em acrobacias?São aviões completamente diferentes. O único ponto comum é voarem. No voo acrobático pede-se a interacção máxima do piloto. Tudo é importante, pés, mãos, cabeça, motor. No outro lado tenho até o piloto automático, o acelerador automático… nas acrobacias trata-se de avião duro e os azares podem acontecer e propiciar acidentes. Há que não descurar nada porque em 98 por cento desses casos a culpa é humana. Está casado há três anos e tem uma filha. Nunca lhe pediram para não se aventurar demasiado?Nunca houve o temor pela opção profissional e lúdica de Pedro Góis. Pelo contrário, a minha mulher Catarina até me apoia e gosta de voar. E os sustos, também já fazem parte da sua experiência de voo?Os sustos acontecem. Mas o risco faz parte da vida. Temos é que estar bem preparados. Cada voo é diferente e vou sempre feliz para casa quando acabo de voar. É como se tivesse nascido outra vez. Cansado em termos físicos e psicológicos, mas feliz e realizado a 100 por cento. É um sonho e não é fácil chegar aqui. Somos muitos a concorrer e ficam muito poucos.Gosta tanto que comprou um avião.Comprei um Pitts Special nos Estados Unidos, um modelo que me apaixona desde sempre. Pensei que só o ia conseguir lá para os 40 anos mas aconteceu agora. Ainda bem, foram perto de 100 mil euros. Tem desenho, carisma e história de um campeão nacional dos Estados Unidos em 1986. E há episódios engraçados enquanto se tripula um avião?A nível comercial acontece bastantes vezes nas viagens para os Açores. Sucedem-se as conversas com políticos que pedem para ir ao cockpit. Ministros, secretários de Estado. Os presidentes da República também costumam voar na Sata.
Pedro Góis nasceu em Santarém e o seu sonho de criança era voar

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