“Pai” da REN considera projecto da Nova Vila Franca de Xira uma “monstruosidade”
Gonçalo Ribeiro Telles é um crítico do projecto da zona ribeirinha da cidade
O arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles não poupou palavras na sua avaliação do projecto para a Nova Vila Franca, em debate promovido pelo movimento Xiradania.
“Não é possível que este projecto tenha sido aprovado por entidades competentes. Não acredito que os responsáveis técnicos e políticos o conheçam”. Foi desta forma que o arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles classificou o projecto da Nova Vila Franca num debate promovido pelo movimento Xiradania na quarta-feira, 23 de Abril, no Clube Vilafranquense. O projecto de loteamento está previsto para a zona ribeirinha da cidade a norte da ponte Marechal Carmona e é designado de UD4. Ribeiro Telles, que no início da década de oitenta foi ministro do Estado e da Qualidade de Vida e criou os conceitos de Reserva Agrícola Nacional (RAN) e Reserva Ecológica Nacional (REN), mostrou-se “absolutamente espantado com o projecto” que definiu como “uma monstruosidade”. “Este projecto é aquilo que não se deve fazer, nem a nível de localização, nem de dimensão”, defendeu.O arquitecto paisagista chamou a atenção para a construção num leito de cheia protegido pela REN. “Se o PDM permite esta construção então estamos perante uma cambada de ignorantes”, advertiu. Gonçalo Ribeiro Telles não acredita que o país tenha poder económico para construir tudo o que está previsto no projecto – quase dois mil fogos, um parque urbano e um complexo desportivo, numa área de intervenção de 57 hectares – e suspeita que a operação tenha como principal objectivo a transformação do preço do solo, de rural para urbano, situação que definiu como “a grande burla” e um “embuste”.A socióloga Luísa Schmidt, também presente no debate, considerou o projecto para a Nova Vila Franca “inarrável do ponto de vista ambiental e gravíssimo do ponto de vista social”. Para a socióloga, que na sua infância passava férias na quinta de um avô em São João dos Montes, “a própria cidade de Vila Franca vai tornar-se numa espécie de subúrbio desta nova cidade” e o caminho devia fazer-se reabilitando as casas abandonadas em vez de aumentar as zonas urbanas. “É inacreditável que seja o projecto Polis a pagar uma obra como esta”, refere.Ao arquitecto Rui Perdigão, membro do Xiradania, coube a apresentação inicial do loteamento aprovado pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira para a área designada de UD4, a Nova Vila Franca, que integrou num plano de “crescimento urbano irregular sem continuidade, com estradas que não vão dar a lado nenhum”. “O que o progresso trouxe foi um conjunto urbano muito descaracterizado, um caos urbanístico gerado no concelho por falta de planeamento”, defende. O arquitecto argumenta que o novo loteamento é “uma ilha isolada de tudo o resto” que significa para Vila Franca um acréscimo de 58 por cento do trânsito em horas de ponta e fomenta a indespensabilidade do uso do automóvel na cidade. Rui Perdigão queixa-se ainda que “os cidadãos vilafranquenses não tiveram oportunidade de participar na construção da sua cidade do futuro”.
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