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Manuel Arruda

Manuel Arruda

68 anos, comerciante

Nasceu a 16 de Março de 1940, na Gançaria, em Santarém. O gosto pela electrónica levou-o a fundar a Electro Arruda. Uma loja de venda e reparação de electrodomésticos, tipicamente tradicional, que se mantêm aberta há 32 anos na Calçada do Monte.

O primeiro objecto que construí foi um rádio. Foi em 1960, tinha 20 anos. Estava a tirar um curso por correspondência e fiz o aparelho com as peças que me enviaram. Nesse tempo ainda não se falava de transístores. Tive uma grande alegria enorme quando ouvi música no aparelho pela primeira vez. Já não sei o que é feito deste rádio. O meu pai, António Augusto Arruda, só tinha a segunda classe mas ensinou muita gente a ler e a escrever. Antigamente nem toda a gente podia ir à escola mas pelo menos o nome tinha que saber assinar. Ainda hoje, na minha terra, me falam nisso. Com o trabalho dos outros não se brinca. Um dia fui vender um televisor a um cliente. Instalei-lhe a antena e pus o aparelho a trabalhar correctamente. No fim, o cliente volta-se para mim e oferece-me cerca de metade do preço acordado. Nem lhe respondi. Comecei a arrancar os fios da parede, agarrei no televisor, meti-me no carro e não abri a boca. Levei aquilo muito a peito. Fui para Angola com 13 anos, mais os meus pais. Foi lá que tirei o curso de técnico de reparações electrónicas. Foi uma opção minha. Cheguei a ser chefe de serviços técnicos da Phillips, em Nova Lisboa. Estive 20 anos em África. Voltei depois do 25 de Abril. Fui para o Porto, para trabalhar nos serviços técnicos da Siemens. Foi uma empresa que me apoiou muito. Na altura tinha três filhos pequenos, de 7, 10 e 11 anos. Fui ao BPA pedir um empréstimo e dei como garantia dois braços para trabalhar. Emprestarem-me cem contos. Há 30 anos já era dinheiro. Foi assim que me estabeleci por minha conta. A Siemens deu-me a representação da marca. Só passados dez anos senti que a minha vida estava estabilizada. Tenho esta casa aberta porque consegui controlar o meu negócio. Mas de há cinco anos para cá sinto que existe uma grande crise. E não vejo nenhuma luz ao fundo do túnel. Estive cinco anos sem férias para poder cumprir os meus compromissos. Aos sábados, domingos e feriados ia a casa dos clientes instalar as televisões e fazia reparações em electrodomésticos. Também vendia ao domicílio. Em cada cliente tinha um amigo. Por causa do trabalho, tinha pouco tempo para a família. Faltei ao crisma de um filho porque nesse dia tive que ir trabalhar. Não me esqueço disto. Tenho uma história de amor muito bonita. Conheci a minha mulher, Maria Celeste, numa viagem de barco, o Vera Cruz. Tinha vindo a Portugal fazer um estágio e regressava a Nova Lisboa, onde estava um emprego à minha espera. Calhou ficarmos na mesma mesa. A viagem durou uma semana e, no final, trocámos as direcções. Ela ia para uma cidade vizinha da minha. Pouco tempo depois arranjou trabalho em Nova Lisboa. Foi assim que começamos a namorar. Estamos casados há 43 anos. Ela tem sido o meu braço direito neste negócio. É uma mulher muito competente e que sabe cativar os clientes.
Manuel Arruda

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