Do lado esquerdo do ringue polidesportivo Joana, nove anos, vai ensaiando alguns passos de Funaná – ritmo musical oriundo de África. Movimenta a anca com ligeireza. O cabelo preto encaracolado a cair pelos ombros confere-lhe um ar exótico. A pele morena faz adivinhar as raízes africanas.Joana foi uma das cerca de duas centenas de crianças da escola primária e jardim-de-infância de Povos (Vila Franca de Xira) presentes no polidesportivo do lugar ribeirinho onde se assinalou o Dia Mundial da Dança na terça-feira, 29 de Abril.À medida que foram chegando, as crianças espalharam-se pelo amplo ringue que ficou pequeno para acolher tantos petizes. As crianças dançaram e cantaram enquanto a professora de Funaná não chegava. Jazz, hip-hop, rock, pop e funk foram alguns dos muitos géneros musicais que levaram os jovens a saltar e dançar uns com os outros.As responsáveis da iniciativa “Poder Escolher”, criada no âmbito do Programa “Escolha” para a integração das minorias étnicas, escolheram o Funaná como forma de celebrar o dia dedicado à dança dado o elevado número de africanos residentes no concelho e também o facto de existirem cada vez mais jovens com dupla nacionalidade.“Queremos que os jovens interajam entre si e tenham contactos com outras culturas diferentes das suas. É muito importante para o seu desenvolvimento perceberem que existem muitas outras coisas além daquilo que já conhecem”, explica Ana Zilda Silva, coordenadora do projecto.A animação aumentou quando Sónia Tavares, membro dos Nhakos – grupo de danças africanas de Povos – chegou com os cd’s de Funaná numa bolsa vermelha. Juntamente com os colegas, Tiago Correia e Wilson, ensina a dançar o Funaná. As crianças foram chamadas aos poucos para aprender a técnica. O Funaná é uma dança sensual. Os rapazes juntam-se numa roda e cumprimentam-se. Desejam boa sorte entre si e vão à procura de par para dançar. A partir daí desenrola-se a dança. O segredo é dançar muito próximo do parceiro e mexer bem a anca.Tiago Correia, 14 anos, não tem mãos a medir com tantos pedidos para divulgar os truques da técnica. A ginga e o olhar atrevido derrete os corações das mais jovens que ficam deslumbradas com os dotes artísticos. O jovem explica muito timidamente que apenas gosta de dançar e não repara se o observam ou não. “Dançar está-me no sangue e quando danço não reparo em mais nada. Apenas sinto a música”, confessa.