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Grupo de teatro amador é a alma de Cem Soldos

Grupo de teatro amador é a alma de Cem Soldos

Sete pessoas fazem de tudo para dinamizar a vida da pequena aldeia do concelho de Tomar

ULTIMaCTO é a designação do grupo composto por sete amigos que faz teatro por amor à arte e à camisola.

É domingo mas no edifício da antiga Casa do Povo de Cem Soldos, Tomar, trabalha-se com afinco. Pintam-se paredes, arrumam-se mesas e cadeiras, limpam-se os espelhos, monta-se o palco. O tempo urge porque vem aí a XII Mostra de Teatro da aldeia - tem início a 17 de Maio e termina a 1 de Junho - organizada pelo grupo de teatro amador ULTIMaCTO do Sport Club Operário de Cem Soldos (SCOCS). Têm idades compreendidas entre os 19 e 40 anos e são apenas sete. Dividem-se entre os que pisam o palco (António José Clemente, António Craveiro e Luis Tomaz) e os que preferem o trabalho de bastidores (Francisca Costa, Sofia Craveiro, Bruno Cartaxo e Joel César). E porque, neste caso, há muito amor à camisola, todos os elementos fazem de tudo um pouco para manter a dinâmica do grupo acesa.“Em Cem Soldos já há teatro há muitos anos, mesmo antes do 25 de Abril, embora com outras condições”, diz António José Clemente, um dos membros mais antigos do grupo, professor do 1.º ciclo que deixou para trás o sonho de ser actor profissional. “Não me faz diferença nem é por isso que me sinto frustrado. Todos temos actividades profissionais ou estudos e fazemos isto por prazer”, salienta.O grupo ULTIMaCTO surgiu em 1989, celebrando para o ano 20 anos de existência. Começou por se designar como Grupo de Teatro de Sport Club Operário de Cem Soldos mas, por volta de 1997, surgiu a necessidade de dar nome próprio ao bando. “Escolhemos este nome porque, na altura, fizemos como que um ultimato às pessoas para virem assistir ao teatro”, explica Luis Tomaz, que entrou para o grupo em 1994, acrescentando que também se pode fazer um trocadilho com o nome. Mas esta trupe tem muita vontade de fazer acontecer por isso está muito longe de protagonizar o seu último acto. “O nome é só para enganar. É sempre para continuar”, aponta o actor amador que trabalha no Museu Ferroviário no Entroncamento. A família, muitas vezes, fica relegada para segundo plano, admitem em uníssono. “Começámos com a peça ‘A vizinha do lado’. Depois do espectáculo, chegámos à conclusão que não percebíamos nada disto e fizemos várias acções de formação no auditório do Instituto da Juventude em Santarém, cordenadas por Paulo Cruz”, conta António José Clemente a rir. Boa disposição é presença habitual sempre que o grupo se reúne. O que acontece consoante a disponibilidade de uns e outros. “Não temos um dia certo, marcamos de um ensaio para outro”, explica. Quando se encontram a preparar uma peça nova tentam encontrar-se mais vezes. Ocasionalmente, deslocam-se aos fins de semana a outras terras do país para fazerem espectáculos a convite de outros grupos. Tondela e Pontével foram as últimas saídas. Padre invade palcoPelo grupo de teatro ULTIMaCTO já passou muita gente. Uns ficam, outros acabam por sair por qualquer motivo ou porque, simplesmente, não conseguem conciliar. “As pessoas vão aparecendo, mostram vontade de trabalhar e entram para o grupo. Temos tido malta que quer entrar mas não quer palco, prefere fazer parte da técnica”, explica.António José Craveiro, vendedor, é um dos que está no grupo desde o início. Devido ao reduzido número de actores, as peças, normalmente adapatações de obras, têm que ser reajustadas aos elementos. “Muitas vezes temos que trocar de roupa constantemente e fazer o papel de homem e mulher ao mesmo tempo”, explica António Craveiro. Na aldeia o grupo é visto de forma positiva como elemento dinamizador de iniciativas que trazem muita gente de fora. “Trazemos aqui muita gente de outros lugares e também levamos o nome de Tomar a muito lado, uma vez que somos um bocadinho do concelho sempre que fazemos um espectáculo”, aponta Luis Tomaz. Os elementos do grupo não recebem qualquer tipo de proveitos, uma vez que fazem parte do SCOCS, mas também não têm despesas com água ou luz. A recompensa acaba por ser a memória de todas as peripécias que vivem enquanto elementos de um grupo de teatro. Como aquela que viveram na ilha de São Miguel, nos Açores, e que António Clemente recorda entre gargalhadas. “Estávamos a meio da representação de uma peça, no átrio de uma igreja. A certa altura ouve-se o sino. Poucos minutos depois o pároco entra no palco e diz-me ao ouvido que tínhamos que acabar porque a missa ia começar. A minha reacção foi dizer ao senhor que tinha que falar ao microfone para que as pessoas ouvissem. Mas ele foi-se embora e nós terminamos, na mesma, a actuação”.
Grupo de teatro amador é a alma de Cem Soldos

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