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O poder da palavra e as recordações de BB

O poder da palavra e as recordações de BB

Baptista-Bastos - prosador do mundo, exposição biobliográfica em Vila Franca de Xira

É um dos maiores escritores do nosso tempo e um jornalista com mais de meio século de actividade que passou pelas redacções dos principais jornais portugueses. O Museu do Neo-Realismo dedica-lhe uma exposição que é uma viagem ao universo das principais referências da cultura portuguesa do seculo XX.

A máquina de escrever, o papilon, livros, muitas capas de livros que Baptista Bastos (BB) escreveu ao longo dos anos, dezenas de fotos e vários recortes de jornais, recordações e documentos que fazem a história de um homem para sempre ligado ao jornalismo, ao romance, ao cinema e a todas as causas que marcaram o último século e que diferenciam os homens de acção e pensamento dos homens de regime ou funcionários cansados. Uma máquina de escrever de 1952 e, na mesma vitrina, um exemplar da Bíblia, aberta nas páginas onde se inicia o capitulo dedicado ao Levitico, e se explica o ritual dos sacrifícios. A legenda sobre cada objecto explica que o jornalista e escritor fêz-se acompanhar da Bíblia por todos os lugares do mundo para onde viajou em trabalho. E foram muitos ao longo de mais de meio século.Uma carta de José Saramago, outras, muitas outras de escritores e amigos que ajudaram BB a crescer como homem e como jornalista e romancista. Dezenas de fotos com Manuel da Fonseca, Saramago, Vinicius, Afonso Praça, Urbano Tavares Rodrigues, Álvaro Guerra, Joaquim Namorado, entre muitos outros.Aos jornais como O Diário, Diário de Lisboa, a Bola, JL, O Ponto, DN e o Jornal, o organizador da exposição foi recolher entrevistas, depoimentos, escritos que marcam a presença de BB no jornalismo e na história da literatura portuguesa deste último meio século.“Escrever é moral em acção” aparece escrito ao fundo da sala por baixo de uma imagem gigante de BB que enche o espaço onde as memórias do escritor ganham vida outra vez e nos remetem para tempos ainda recentes quando escrever era uma luta contra o tempo e contra a ditadura.Retratos e caricaturas do autor assinadas por João Abel Manta, Vasco e Jorge Colombo. Algures no meio de capas de livros e recortes de jornais a carteira número seis de jornalista profissional que Baptista Bastos já entregou mas que não o impede de continuar a escrever quase todos os dias nas páginas de alguns jornais.São cerca de 180 objectos pessoais que compõem o espólio da exposição sobre Baptista-Bastos- prosador do mundo, inaugurada na tarde de sábado no museu do neo-realismo em Vila Franca de Xira. São 180 mas poderiam ser o triplo, explicou o responsável pela exposição, David Santos, tentando dar a perceber que não foi fácil escolher entre tantos objectos da arca de BB. Muita gente no dia da inauguração. Conhecidos e gente anónima que aproveitou para conviver com o escritor que se fazia acompanhar da mulher e dos seus três filhos. Momentos de convívio aproveitados para Baptista Bastos autografar um livro editado pelo Museu que é uma segunda homenagem ao autor de O Secreto Adeus, Colina de Cristal, O Passo da Serpente, Cão Velho Entre Flores, Um Homem Parado no Inverno, As Palavras dos Outros, e o mais recente, As Bicicletas em Setembro, entre muitos títulos que marcam a literatura portuguesa deste último meio século.Maria da Luz Rosinha escreveu no prefácio ao livro-catálogo da exposição que BB sempre encontrou espaço na sua obra romanesca “para uma ficção feita de homens e mulheres com alma”.O escritor e jornalista agradeceu a homenagem e recordou alguns nomes de escritores que marcaram a sua vida pessoal e profissional. “Venho de uma época onde se falava e escrevia baixinho. A tirania, porém, nunca conseguiu nenhuma vitória real sobre as palavras. «Não há machado que corte a raiz ao pensamento», escreveu Carlos de Oliveira, meu camarada inesquecível. Na década em que nasci, a percentagem de analfabetos em Portugal ultrapassava os 80 por cento, e o fascismo estruturava a sua ofensiva terrorista. Nem por isso os escritores portugueses deixaram de escrever, e escreveram-se obras magnas, de autores que deram à pátria a fisionomia da esperança.No sombrio panorama actual, onde tudo é ambíguo e, simultaneamente, tudo parece convincente, continuo a acreditar no poder da palavra - e a defender a herança admirável que nos foi transmitida, esse bragal de uma civilização linguística que deu forma e conteúdo à nossa maneira de ser”. ( ver texto ao lado). A exposição está patente no museu do neo-realismo até 19 de Outubro de 2008. Uma boa oportunidade conhecer de perto um grande jornalista e escritor, um homem que marca o nosso tempo com a palavra da solidariedade humana e do génio criativo.
O poder da palavra e as recordações de BB

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