uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

“As tradições não podem ser adulteradas”

Sendo um pintor de tradições, choca-lhe ver um campino trajado a rigor a desfilar de óculos escuros e a fumar charuto?Confesso que não gosto de ver desvirtuar o genuíno. As tradições devem ser respeitadas e não podem ser adulteradas. Nesse aspecto, os espanhóis são mais cuidadosos na preservação das suas tradições. Os pormenores tornam as coisas mais dignas.Os campinos são figuras em vias de extinção?Infelizmente corremos o risco de deixar de ter os campinos. É uma figura romântica do Ribatejo que deve ser acarinhada. Pinto muito o campino por devoção e admiração. Cresci numa família ligada aos cavalos e gosto de ver um campino bem montado.Este fenómeno ligado às tradições e à festa brava pode ser um pólo de atracção turística?Esta região tem muita força taurina e tem aspectos únicos que deve aproveitar para criar pólos de atracção turística envolvendo outras componentes ligadas à cultura, à gastronomia e às actividades no campo.As largadas de toiros continuam a vitimar aficionados. Concorda com os toiros em pontas?É uma questão delicada. Um toiro embolado não é a mesma coisa. Retira emoção e é um respeito pelo toiro. Em pontas, o toiro tem mais possibilidade de se defender.É um alentejano radicado no coração do Ribatejo. Como é que gere esta aparente ambiguidade?A pintura é o elo de ligação destas duas regiões onde passo os meus dias. São duas identidades muito diferentes a todos os níveis. As paisagens, as pessoas, as culturas, tudo é diferente.O artista tem de ser boémio e fazer vida social?Hoje não bebo e quase não faço vida social e é na pintura que me expresso.Esse isolamento é natural ou sentiu necessidade de se refugiar no atelier?Sempre gostei de estar só, de contemplar a natureza e de poder pintar num ambiente de tranquilidade. A maior parte das pessoas não desfruta o prazer de ouvir um pássaro a cantar no meio do campo. Vivem isoladas em ambientes saturados e isso é muito mau porque não somos uma ilha e precisamos de comunicar de partilhar emoções e afectos. As suas obras não reflectem o seu espírito crítico em relação ao mundo que o rodeia?Ainda não entrei por aí, mas tenciono pintar para transmitir o meu desconforto e descontentamento em relação à evolução da sociedade.Será um grito de alerta?Não sei se me vão ouvir. Mas um quadro pode passar uma mensagem.A sua pintura actual transmite os seus estados de alma?Um cliente dizia-me outro dia que um quadro que me comprou lhe transmitia uma enorme tranquilidade e eu percebi porque senti isso quando o pintei. A tal ponto que nas costas da tela estava lá o nome do quadro: tranquilidade.Quer fazer escultura. Já tem ideia do que vai fazer?Quero fazer um cavalo…Ainda estou a estudar, mas tenho a certeza que não vai ficar mal.

Mais Notícias

    A carregar...