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O susto com um toiro e a ameaça de um agricultor mal disposto

Fotografa toiros bravos e já apanhou alguns sustos…Numa entrada de toiros aqui em Samora Correia, estava tão entusiasmado para apanhar os toiros, os cabrestos e os campinos de frente e não dei a devida distância. O toiro investiu cheio de força e quase fui colhido. Tive de saltar a tranqueira e caí estatelado do outro lado, mas não me magoei. Tinha duas máquinas fotográficas ao pescoço e um saco do material, mas não se estragou nada. Mas tive outros sustos.Quais?Já me quiseram bater no campo por estar a fotografar senhoras a trabalhar em Salvaterra de Magos. Tinha pedido autorização às mulheres, mas o patrão não gostou e dirigiu-se a mim com dureza pedindo os rolos. Não os dei.Gosta muito de pintar os camponeses e as ceifeiras?Para mim os trabalhadores do campo são heróis esquecidos porque foram eles que deram de comer a este país e ninguém quer saber deles.Segue uma linha emocional na sua pintura. Também faz trabalhos por encomenda?Nunca pintei uma encomenda. O que pode acontecer é um cliente dizer que quer uma campinagem e eu faço a meu gosto e ponho à consideração do cliente. Nunca tive quadros rejeitados, mas estou sempre aberto a críticas.Recusa trabalhar com prazos apertados?Não gosto de ter pressão porque pintar não é a mesma coisa que fazer outro tipo de trabalho. Gosto de pintar ao meu ritmo. Quando me pedem com prazos fixos porque querem oferecer em determinada data, já tem corrido mal. Os seus quadros são bem pagos?Ganho o suficiente para viver. Nunca pintei por dinheiro e já me têm dito que deveria valorizar mais os meus quadros. Já vendi quadros em que, se contasse as horas de trabalho, tinha perdido dinheiro. Não faço pintura comercial.Pinta sempre por gosto ou já pintou por dinheiro?Quando estou com falta de dinheiro tenho de pintar com a ideia de vender rapidamente. O pintor não vive do ar e precisa de dinheiro.É possível viver só da pintura?Para quem souber gerir a carreira é fácil viver da pintura. Eu confesso que não sei lidar com o aspecto da promoção e da venda das obras. Vou ao sabor das oportunidades que aparecem, mas não procuro nada. Para viver bem teria de avançar para Barcelona, para Madrid, para Paris e para Milão. Não é aqui em Samora que se ganha dinheiro.Recentemente uma galeria levou obras suas a uma exposição internacional em várias cidades do Canadá, mas o senhor não esteve lá…Não tenho espírito para estar nesses acontecimentos. Sou um pintor sem vocação para ser relações públicas. Reconheço que o artista tem de aparecer, tem de conviver, mas eu prefiro estar no meu canto e não estou interessado em ser celebridade ou ganhar muito dinheiro.Mas isso penaliza a sua carreira.Sinto isso, mas não é importante. Raramente vai à inauguração das suas exposições?Os galeristas ou os organizadores das exposições nas câmaras e noutros locais convidam-me sempre. Geralmente fujo às inaugurações. Não é por falta de respeito pelas pessoas é porque não me sinto bem. Não gosta de dialogar com os visitantes?Sei que à partida as críticas são sempre positivas por uma questão de delicadeza e isso mexe comigo. Já ouvi rasgados elogios a obras que não estavam perfeitas e percebi que quem elogiava não percebia nada de pintura.Costuma ler os comentários deixados nos livros de honra das exposições?Normalmente nem coloco livro de honra. Quando existe, por vezes, passo os olhos nos comentários e há opiniões muito simpáticas e muitas análises descabidas por desconhecimento.“Há críticos que pedem quadros aos pintores que depois elogiam”Há bons críticos de arte em Portugal?Conheço poucos ou nenhuns, mas creio que não há muitos e a qualidade também deixa muito a desejar.Não valoriza a crítica?Não acredito na crítica de arte porque há críticos que pedem quadros aos artistas que depois elogiam.Já lhe aconteceu?…(risos) Infelizmente já e fiquei desiludido. Por isso não me preocupo com a crítica. Quero é pintar cada vez melhor e continuar a merecer a confiança das pessoas. A crítica sincera é aquela que vem de grandes pintores que fazem uma análise crítica do quadro com precisão. Tem contactos com outros pintores?Muito poucos. Falo mais vezes com o João Mário e o Edmundo Cruz.Quem é o seu ídolo na pintura?Admiro mais os quadros que os pintores. Não tenho nenhuma referência. Gosto muito do Soroya, um grande impressionista espanhol. Os pintores espanhóis usam muita luz, muito movimento e eu aprecio.Tem quadros seus em casa?Não tenho nenhum quadro meu em casa. A minha mulher fica zangada comigo porque nunca tenho tempo para pintar para a família.Quem são os seus clientes?Não conheço a maioria dos clientes. Tenho alguns amigos que me compram quadros, mas trabalho com galerias e são eles que vendem as obras aos seus clientes.

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