Assim que abrimos a porta de acesso aos bastidores encontramos o clima agitado e ansioso dos actores minutos antes de entrarem em palco. Sentados no chão, encostados às paredes do corredor, os jovens aproveitam para recordar os papéis e transmitirem palavras de incentivo uns aos outros. Os nervos sobem quando se percebe que o outro grupo de teatro terminou a sua actuação. Soltam-se pequenos gritos para afastar o nervoso miudinho. Há abraços e palavras carinhosas para os menos seguros. A maioria dos jovens, juntamente com as professoras, confessam sentir borboletas no estômago devido aos nervos.A Escola Básica 2/3 Aristides de Sousa Mendes, da Póvoa de Santa Iria, foi uma das 11 escolas do concelho de Vila Franca de Xira a participar na 13ª edição de “Aprendizes do Fingir” que decorreu sexta-feira e sábado. Uma iniciativa organizada anualmente pela câmara em conjunto com as escolas e que decorreu na Sociedade Filarmónica Recreio Alverquense (SFRA) em Alverca.Durante o intervalo das peças de teatro que vão passando pelo palco da SFRA, as centenas de jovens que enchem as cadeiras do auditório divertem-se com a música de discoteca que se vai ouvindo e com as luzes psicadélicas que apontam para o palco. A animação é enorme e os jovens da plateia aguardam com curiosidade as actuações dos amigos e colegas. Já com o vestido branco e azul que vai utilizar na peça, Joana Nunes, 15 anos, não consegue esconder o nervosismo. Anda de um lado para o outro dos camarins com ar apreensivo. E num momento de maior ansiedade não consegue evitar algumas lágrimas. Os colegas abraçam-na e garantem que tudo vai correr bem. Os ensaios demonstraram que Joana sabe o seu papel e só tem que demonstrá-lo no palco.O papel principal da peça “A Bela e o Monstro”, escrita pelos irmãos Grimm, fazem-na sentir-se mais intimidada. “Já participei em outras peças de teatro, mas nunca fiz o personagem principal. É uma responsabilidade muito grande, por isso, estava tão nervosa”, explicou a O MIRANTE já depois da peça ter terminado.A jovem garante que o seu sonho é ser actriz e vai lutar por esse objectivo. Joana sabe que ainda tem muito que trabalhar. Mas não desanima. O primeiro passo já foi dado ao inscrever-se no núcleo de teatro da EB 2,3 Aristides de Sousa Mendes, na Póvoa de Santa Iria. “Adorava fazer todo o género de representação”, diz, timidamente.Sonho idêntico tem Jéssica Lopes, colega no núcleo de teatro. Quem a vê em palco a representar Gaston, um homem apaixonado por Bela, nem percebe que na realidade é uma rapariga que veste a pele do vilão da história. A voz colocada e os gestos masculinos foram muito bem conseguidos. “Quando fiz a primeira audição foi para um papel feminino e realmente não tinha jeito nenhum. Propuseram-me interpretar um personagem masculino. E na verdade correu muito bem. Sinto-me muito mais à vontade”, conta acrescentando ainda que a entrada no teatro foi uma feliz coincidência uma vez que, ao início, não achava grande piada a esta arte.Vestido de preto, com uma capa azul escura por cima da roupa e uma barba postiça preta, João Graça, 15 anos, interpreta o Monstro. Antes de subir ao palco brinca com algumas colegas já encarnando o seu personagem. O tom de voz fica mais grave e a expressão do rosto fecha-se. O jovem confessa gostar da experiência da representação, mas garante não querer fazer disto uma profissão. Prefere seguir o curso de engenharia civil e consolidar o seu projecto de banda de garagem iniciado recentemente. “É preciso ser-se muito bom e dedicar-nos quase em exclusivo a esta arte e acho que não sou suficientemente bom para fazer disto carreira”, afirma modestamente.