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“Qualquer criança pode usar um desfibrilhador e salvar uma vida”

“Qualquer criança pode usar um desfibrilhador e salvar uma vida”

Professor Fernando Pádua defende a generalização do uso dos DAE automáticos

INEM e Ordem dos Médicos defendem que utilização deve ser restrita a técnicos e actos devem ser supervisionados por especialistas em reanimação. Na região há dezenas de aparelhos encaixotados.

O médico e professor catedrático Fernando Pádua defende a utilização pelos bombeiros, e até pelo cidadão comum, dos aparelhos de Desfibrilhação Automática Externa (DAE) que emitem choques para reanimar doentes em paragem cardíaca. “Qualquer criança de quatro anos pode usar o aparelho e salvar uma vida”, disse o cardiologista que se destacou pela sua luta na prevenção de doenças cardiovasculares. Fernando Pádua falava num seminário que reuniu mais centena e meia de bombeiros e vários médicos e enfermeiros de todo o país no sábado em Samora Correia numa organização dos bombeiros locais. “Onde há um extintor de incêndios deve haver um desfibrilhador automático. Vou tomar posição contra o INEM e contra a Ordem dos Médicos”, alertou o professor. A polémica estava lançada. A representante do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), a médica Isabel Santos, disse que não basta saber carregar num botão, como aludiu o professor, e defendeu que a utilização do DAE não deve ser generalizada.“Não se pode apenas alimentar a venda de aparelhos como se fosse banha da cobra. É preciso criar legislação específica que regulamente a utilização dos aparelhos. O INEM defende que o DAE pode ser autorizado por pessoal não médico desde que exista um controlo e uma auditoria feita por médicos”. Uma posição muito semelhante à da Ordem dos Médicos que esteve representada pela médica Cecília Longo.Neste momento há centenas de aparelhos encaixotados em todo o país. Só nos estádios de futebol do Euro 2004 são dezenas. Na região, há dezenas de DAE espalhados pelas corporações de bombeiros que raramente são usados, apesar das baterias serem carregadas regularmente. Alguns DAE, adquiridos em 2004 por mais de quatro mil euros cada, já estão ultrapassados porque a tecnologia evoluiu.A ausência de utilização não tem a ver com a falta de casos onde desfibrilhar poderia ter como significado salvar. Só no concelho de Abrantes registaram-se 22 paragens cardíacas em 2007, em Ourém 18, em Almeirim 13 e em Santarém 10 doentes entraram em paragem. A maioria destes doentes morreu, mas podia ter sido salva se houvesse um DAE que actuasse nos primeiros quatro minutos após a paragem e se a restante cadeia de sobrevivência tivesse funcionado.Nelson Baptista, formador da Escola Nacional de Bombeiros, questionou se não será um crime deixar morrer uma pessoa quando se tem à mão um aparelho que a pode salvar. “Enquanto estamos aqui a falar, já morreu alguém que podia ser salvo com um simples DAE”, explicou. “Não é uma questão legal, é uma questão ética”, adiantou.Na véspera de Natal do ano passado, um homem morreu enquanto esperava ser atendido no Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria (Vila Franca de Xira). A unidade não possuía desfibrilhador, mas a ambulância de emergência dos bombeiros da Póvoa, que foi chamada ao local, tinha o equipamento. Um dos operacionais tinha formação, mas não o pode usar, tal como está convencionado.“Não podemos ter um médico em cada sítio”“No caso da desfibrilhação automática externa, pode ser delegada a sua utilização em não médicos desde que: enquadrada em organização que normalmente responda a situações de emergência e onde exista um médico responsável com reconhecida experiência na área; a necessária formação seja supervisionada por médicos e existam registos de todas as utilizações (do aparelho) e que possuem características que permitam ulterior análise desses registos”, lê-se numa nota da Ordem dos Médicos.A representante da Ordem no seminário, Cecília Longo, defendeu a título pessoal que é preciso criar condições para que a desfibrilhação seja feita em qualquer local e também por pessoal não médico. “Não podemos ter um médico em cada sítio e o DAE é de fácil utilização”, referiu.Os vários especialistas intervenientes nos debates, moderados pela enfermeira Carla Munhoz e pelo cirurgião Paulo Cintra, que fazem serviço no INEM, reconheceram que o DAE envolve um erro mínimo. Nos Estados Unidos e em Inglaterra há desfibrilhadores nas paragens dos autocarros, nos centros comerciais e nos estádios de futebol. Curiosamente foi no Estádio José de Alvalade que se usou o aparelho pela primeira vez em Portugal. O espectador que entrou em paragem cardíaca foi salvo porque recebeu o primeiro choque três minutos depois da paragem.
“Qualquer criança pode usar um desfibrilhador e salvar uma vida”

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