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“Os pais não se podem deixar vencer pelo cansaço”

Vereadora diz que ritmo de vida deixa pouco tempo às famílias para acompanhar os filhos

A vereadora da cultura da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira reclama mais autoridade para a escola como instituição. Mas defende que os pais não se devem deixar vencer pelo cansaço no que diz respeito à educação dos filhos. Conceição Santos é uma crítica da selva urbanística do concelho e sonha com cinema ao ar livre e à beira Tejo para devolver a sétima arte ao município.

O concelho de Vila Franca de Xira está associado à multiculturalidade. É uma realidade difícil de gerir em termos educativos?O facto de existir uma multiculturalidade significa que temos que estar atentos àquilo que é a população escolar de cada uma das escolas. Os projectos educativos têm que ser desenhados à medida da população escolar e à medida da comunidade em que as escolas estão inseridas. É a pedra de toque do sucesso e insucesso. O insucesso escolar é um problema no concelho?Dos dados que existem não me parece que este facto seja determinante do insucesso. Aquilo que são factores determinantes são transversais de Norte a Sul. O facto de termos aqui culturas distintas com origens diversas tem dado origem a projectos muito interessantes com vista ao sucesso desses grupos. São desafios muito grandes que têm resultado. Há casos de experiências bem sucedidas.Por exemplo?Em Vialonga que é um território educativo de intervenção prioritária. A multiculturalidade tem lá o seu expoente máximo. Temos outras áreas onde isso também acontece. A Escola Básica 2/3 tem desenhado um conjunto de projectos que tem respondido muito bem àquela população escolar não apenas enquanto população escolar, mas também como comunidade. Há uma ligação fora dos muros da escola. As escolas procuram abrir-se à comunidade porque muitas vezes a comunidade tem dificuldade em organizar-se para ir até à escola. O grande número de alunos no concelho é um problema?Temos cerca de 16 mil alunos do primeiro ciclo até ao secundário. Existem 41 escolas do primeiro ciclo - o que diz bem do parque escolar - , 22 jardins-de-infância, 10 agrupamentos de escolas do 2º e 3º ciclo e cinco escolas secundárias. Há que eliminar os regimes duplos nas escolas do primeiro ciclo. A câmara lançou mãos à obra. A educação está na linha da frente das preocupações do município de Vila Franca. A comprová-lo temos um conjunto de projectos que vão desde a construção de novos edifícios ao alargamento e ampliação de edifícios existentes. Qual é a fatia para a educação no orçamento global da câmara?São 15 por cento do orçamento. Pela primeira vez a câmara municipal contraiu um empréstimo para fazer face à construção de equipamentos escolares. Isto diz bem do volume de obra que nós vamos ter. O volume de construção atinge um nível que não se atingiu durante vários anos.As ementas das escolas tentam compensar o que não há em casa?Já senti mais isso. Hoje em dia a informação sobre alimentação saudável está generalizada. Muitas vezes o facto dos meninos recusarem as sopas e as saladas decorre de os pais terem uma vida muito ocupada. Chegam a casa muito tarde vindos do trabalho e é-lhes difícil cozer legumes, fazer uma salada ou estar junto dos filhos a convencê-los e a negociar para que comam. Isto exige muito tempo e muita paciência que muitos pais não têm. Andam com a rotina pesada. A escola tem um papel a cumprir, mas tem que ser ajudada pela família. Alguns pais demitem-se das suas funções?O que nós temos aqui não são famílias no seu conceito tradicional. Como sabe o conceito tradicional de família deixou de existir. A mãe a partir do momento em que começou a trabalhar deixou algum vazio no acompanhamento dos filhos. Nessa correria muitas vezes as pessoas já estão tão cansadas que o papel de primeiro educador acaba por sair prejudicado exactamente por isso. Não se demitem deliberadamente. Foi criado um conjunto de circunstâncias que levam a que as famílias não possam cumprir o papel de educador que existia há uns anos. Fala também da questão do divórcio.As crianças passam um tempo com um e um tempo com outro e isso reflecte-se invariavelmente nas crianças. Não têm uma linha condutora em termos educativos. Quando mãe e pai não se entendem torna-se muito confuso para as crianças. Têm várias linhas educativas e a escola. É uma confusão. Há situações em que os pais deveriam esforçar-se mais para acompanhar os seus filhos. Podemos chegar a casa absolutamente cansados, mas precisamos de nos lembrar sempre que temos um papel a cumprir nesse dia e em todos os dias. E não podemos deixar-nos vencer pelo cansaço. E isso por vezes não acontece?Muitas vezes o que verificamos na escola é que não chegando a família, por razões diversas a isso, interfere negativamente no papel que a escola tem que cumprir. Eles apercebem-se da desautorização da escola por parte da família. Há uns tempos a expressão não pode traumatizar essa criança era useira e vezeira. Todas as crianças ficavam traumatizadas se lhes chamavam a atenção. É importante que as escolas cumpram o seu papel e cabe aos pais colaborar com a escola. Foi também como desautorização que interpretou o episódio do telemóvel na sala de aula?Acho curioso o episódio do telemóvel porque questões daquele tipo existem há muitos anos. Até já existiam no Estado Novo. Ninguém as conhecia. O facto de aparecer este episódio repetido à exaustão só significa que alguém andou desatento ao longo destes anos. Confirma aquilo que as escolas andaram a dizer ao longo dos anos – é preciso que a autoridade da escola seja reforçada e é preciso que a escola cumpra o seu papel e que os alunos adquiram uma responsabilidade em relação ao trabalho para que de facto tenham sucesso na escola e na vida pessoal e profissional.Mas é uma questão de disciplina.Para mim antes de mais é uma questão de relação pedagógica. O professor não pode entrar com um sorriso de orelha a orelha, tal como não pode entrar com rosto fechado. No primeiro contacto há que marcar o território de trabalho. É decisivo porque os alunos tiram o retrato ao professor. Pode redimir-se, mas não será a mesma coisa.

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