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As vilãs da novela das oito, as outras mulheres e os telemóveis

As vilãs da novela das oito, as outras mulheres e os telemóveis

O MIRANTE foi assistir ao Congresso Feminista que decorreu em Lisboa

As mulheres chegaram ao século XXI com telemóveis e cursos superiores. Mas ainda há um longo caminho a percorrer. Que passa por mudar a imagem estereotipada da novela das oito. “Não somos só bunda e peito”, gritam as activistas do Brasil.

A vilã é normalmente uma mulher seca, azeda, bem sucedida. Heroína que se preze é mãe de família, talhada para a maternidade, e não é livre para viver a sexualidade em pleno. A novela – o produto mais exportado do Brasil que tem em Portugal um grande cliente – existe há quarenta anos, mas continua a viver do mesmo formato anacrónico. Quem o diz é Mercedes Lima, mestre em Direito, professora e advogada brasileira, líder de um movimento de defesa da mulher em São Paulo. “Não sei quais as novelas que estão a passar cá em Portugal, mas de certeza que têm estes ingredientes”, atira a activista num discurso colorido e solto que arranca sorrisos na plateia. Na sala 1 da Fundação Calouste Gulbenkian, na tarde de quinta-feira, 26 de Junho, discute-se o tema “Mulheres e media” no âmbito do Congresso Feminista. As novelas passam a imagem de que as mulheres não trabalham e raramente se retrata a realidade de quem permanece horas a fio atrás de um balcão de supermercado. De vez em quando as produtoras arriscam um laivo de irreverência. “A actriz Regina Duarte vai vestir a pele de médica que trabalha. Mas os filhos da Maria do Carmo – aqueles muito jeitosos – aparecem sempre trabalhando. Porquê só os homens?”.“A televisão é a janela do mundo para os pobres”, diz Mercedes Lima. E num país em que muitos não têm possibilidade de ir ao cinema, ao teatro ou comprar uma revista o pequeno ecrã é a única referência que possuem.As feministas do Brasil já enfrentaram a tranquilidade instalada e partiram para tribunal insatisfeitas com a imagem que a televisão projecta da mulher. Argumentam que a televisão cria estereótipos que podem incentivar à violência doméstica e à submissão da mulher. Além de não ter em conta a diversidade. Não estão contra as novelas, mas contra o uso que se faz da mulher na produção televisiva. “Há 40 anos que as famílias que dominam os media no Brasil passam determinada imagem da mulher com a maior cara de pau e sem que ninguém diga nada”, acusa.Neste aspecto há ainda um longo caminho a percorrer em Portugal, reconhece a jornalista Diana Andringa convidada a comentar o painel e ainda a recuperar do choque de falar depois de duas brasileiras. “Os portugueses são tristes e enfadonhos a falar e eu ainda por cima não vejo telenovelas e não conheço estes personagens”.O público que assiste ao Congresso Feminista é maioritariamente feminino. Desde a fotógrafa oficial passando pela mulher que limpa a sala antes dos trabalhos e acabando na técnica que capta a imagem. As duas oradoras feministas brasileiras vêm vestidas de roxo. É a nova cor do movimento, diz quem está por dentro do assunto.Ao contrário do que defendeu a investigadora Carla Gamito, os telemóveis das mulheres não são cor-de-rosa. E a “Mobilidade no feminino. O telemóvel como lugar da construção de identidade” está mais perto da utopia que da realidade, considera Diana Andringa que acredita que a tecnologia só ajudou a intensificar a dupla exploração. “É uma forma das mulheres estarem a trabalhar, mas irem já dando indicações para pôr a sopa ao lume e começar a descascar as cebolas”, ironiza a antiga presidente do Sindicato dos Jornalistas.
As vilãs da novela das oito, as outras mulheres e os telemóveis

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