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As Filarmónicas continuam a ser boas escolas de música

Que conselho dá a um jovem que sonhe vir a ser músico?Está muito difícil, porque nós estamos a educar para uma civilização em mudança. Hoje em dia, ainda abrimos uma porta com uma chave, mas já começam a ser abertas com códigos. Com o advento dos dvd’s, da música por computador, dos mp3, do roubar música por computador e andar com elas nos ouvidos até enlouquecer, tudo isto está a ameaçar a vida do autor, do compositor, do músico. Eu sinto-me um privilegiado por poder ganhar a vida a fazer o que gosto. É muito difícil dar conselhos numa matéria que é muito difícil. Os conselhos que posso deixar são: aprender sempre, sempre. Querer editar à primeira é muito complicado. Amadurecer um projecto, até o projecto ter peso e consequência é outro dos meus conselhos. Em suma, aprender música a fundo e a sério e depois começar a compor e ser suficientemente crítico em relação ao que faz e, por último, não precipitar a carreira.Quais são os melhores sítios do Ribatejo para se aprender música?Há o Conservatório de Santarém e existem várias escolas de música, em Tomar, no Entroncamento. Praticamente em todos os conselhos há uma escola de música. Mas se me permitem dizer isto, quero fazer uma homenagem às velhas filarmónicas, que no fundo se substituem às escolas de músicas, sendo elas próprias grandes alfobres de músicos. Eu conheço de Riachos vários músicos que hoje tocam, ou são mestres de música ou são mestres, e em vários registos e que foram formados pela Sociedade Velha Filarmónica Riachense, que tem 130 anos. A formação nas filarmónicas nunca é negligenciada. Um jovem que queira aprender música e que não tenha uma escola de música por perto, aconselho-o a ter a humildade de ir a uma filarmónica. É uma óptima escola.O seu filho também é músico…Gosta da música que ele faz?Acho que ele é um bom melodista, mas é sobretudo um excelente pianista, muito mal aproveitado, sinceramente…Está-me a dar a opinião de pai ou de critico?Estou-lhe a dar a opinião de crítico. Evidentemente, que amo o meu filho Nuno, como um pai ama um filho. E de que maneira! Tenho muita pena que ele não saia daqui. Já saiu, esteve a estudar em Londres. Gostava muito mais que ele se dedicasse a fazer um trabalho tipo Rick Wakeman. Ele é um compositor muito orelhudo. Como compositor terá que evoluir, mas é um bom músico. Que perspectivas tem em relação à música nacional? Sou uma pessoa pouco indicada para falar sobre isso. Eu frequento um restaurante no bairro da Ajuda, em Lisboa, onde me cruzo, de vez em quando, com o ministro da Cultura e cruzava-me ainda mais com a ex-ministra, Isabel Pires de Lima – uma ministra pires que nós tivemos. Quando a via ali a almoçar, apetecia-me sempre perguntar: “Olhe desculpe, estão ali, no Palácio da Ajuda, 600 funcionários, o que é que vocês estão a fazer?” Eu sou um agente cultural. Ando a lutar, por aí, desde Macau até à ilha do Pico… Sei que vou continuar a ser agente cultural e fabricante de emoções. Seja através do desenho, com o Pedro Chora, da escrita, mas sobretudo da música, como Pedro Barroso. Isto, eu sei. E às vezes faz mais um artista uma hora em cima do palco do que muitos embaixadores e cônsules uma vida inteira. Nós somos muito mais importantes do que, se calhar, eles gostariam que nós fôssemos. Não está muito entusiasmado com o que se passa no campo da música.A chamada música moderna não me entusiasma muito. Aliás, a falta de soluções anda a verificar-se de tal maneira que anda muita gente, inclusivamente do jazz, a ir buscar temas ao Zeca Afonso ou ao António Variações, às canções de resistência, etc… O que só prova, que a capacidade inventiva e criativa anda por baixo. Eu olho para a sociedade e infelizmente vejo poucos autores e criadores para fazerem coisas com peso, com profundidade e poeticamente evoluídas. Existem alguns, mas são poucos. Tenho alguma fé no novo Fado, se não ‘jazzar’ de mais. Tenho fé que o Fado não se distancie da sua matriz e que saiba criar novos caminhos.E as autarquias? Acha que as autarquias fazem o suficiente para promoverem os nossos artistas?O autarca modelo, em Portugal, existirá. Existirão outros que estão preocupados com a requalificação do seu concelho, dos passeios e da iluminação pública, das infra-estruturas. Muitos deles não vêem, aparentemente, o aspecto cultural. Existem outros que fazem um esforço muito grande, com verbas que por vezes não dispõem. Digamos que isso já parte de base, do Ministério da Cultura, que é muito menos dotado de verbas para promover a cultura no próprio país. Isto é um circuito sem grande solução, em que se continua a investir muito em rotundas e pouco em inteligência.

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