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Dado como morto há cinquenta anos continua vivo e de boa saúde

Dado como morto há cinquenta anos continua vivo e de boa saúde

Amigo de Manuel Matança chegou a contactar agência funerária para preparar o enterro

Os médicos consideraram que foi um caso raro de sobrevivência. Hoje, aos 75 anos de idade, Manuel Matança tem uma vida activa e todos os dias vende promessas de fortuna aos clientes da sua tabacaria.

Há 50 anos, Manuel dos Reis Gonçalves sofreu um grave acidente de viação que o deixou em estado de coma. O amigo que o transportou para o Hospital de São José em Lisboa teve a informação de que não teria resistido aos ferimentos e contactou um agente funerário para lhe fazer o funeral, mas Manuel Matança, como é conhecido, ‘ressuscitou’ e meio século depois está vivo e de boa saúde. “Já lá vão 50 anos e graças a Deus estou vivo e ainda faço a minha vida. Eu não gosto de falar nisto porque as pessoas já cá não estão e eu estava inconsciente e não me lembro de nada”, explica.A história de Manuel Matança, 75 anos, é conhecida da maioria das pessoas da sua geração em Samora Correia, onde o comerciante está estabelecido há mais de 50 anos. Na altura foi dito que o corpo de Manuel já estaria na morgue quando o agente funerário se apercebeu de que ainda respirava, mas o “morto vivo” nunca conseguiu contactar com o homem que lhe terá salvo a vida para confirmar esta versão. “Não posso afiançar que estivesse na morgue porque não falei com o senhor. Sei que estive muito mal, como morto porque a família e os médicos me disseram depois”, adianta, sentado numa das mesas da sua loja onde vende promessas de fortuna em formato de Euromilhões, Totoloto e Lotaria.A esposa, Mariana, explica que o marido sofreu várias lesões graves, incluindo uma fractura do crânio. Foi assistido por um médico da terra e levado para o hospital em Lisboa em estado grave. “Estava em coma profundo. Não conhecia ninguém, não falava, estava como morto”, recorda a companheira há mais de 50 anos.No acidente que quase roubou a vida a Manuel ‘Matança’, morreram dois agentes da GNR de Benavente que o acompanhavam. Os militares não sobreviveram e acabaram por falecer dias depois na sequência das lesões causadas. “Eram meus amigos. Foi uma tragédia”, referiu.O acidente aconteceu na estrada nacional 118, junto às bombas de gasolina de Samora Correia. Manuel Matança diz que os pormenores se afastaram da sua memória. Após o acidente ficou em coma e só recuperou a normalidade nove meses depois. “O médico disse-me que tive muito sorte. Tinha uma fractura grave no crânio e em mil escapa um. Fui eu”, diz com emoção. Quando ficou estabilizado, o doente foi para casa para estar perto da família que foi fundamental na sua recuperação. “Foi aqui que recuperei. Eles ajudaram-me muito. Graças a Deus”.Com 75 anos, Manuel faz uma vida normal, apesar das consequências que as lesões lhe deixaram. Trabalha no estabelecimento, vende jogo na rua, dá todas as voltas necessárias para tratar do negócio e ainda cuida da horta que é o seu escape junto ao Belo Jardim. A netinha é a menina dos seus olhos e preenche um espaço importante na vida do comerciante.Na vila de Samora Correia, o antigo café do Matança, junto ao largo da igreja é uma referência e na rua ninguém passa sem um cumprimento simpático de Manuel. “Bom dia menino como está”, é uma expressão que utiliza para saudar mesmo os “meninos” da sua idade.Manuel Matança nasceu em Marinhais, Salvaterra de Magos e foi daí que trouxe a alcunha da qual desconhece a verdadeira origem. “Dizem que era porque uns rapazes de Marinhais andavam sempre à briga e chamavam-lhe os matanças e como eu vim de Marinhais baptizaram-me assim. Não sei se será por isso”, esclarece. Uma alcunha que não se adequa ao homem pacífico e respeitado que 50 anos depois de ter sido dado como morto distribui felicidade aos clientes contemplados com prémios nos jogos que vende. “Que Deus lhe dê sorte”, diz repetidamente aos jogadores.
Dado como morto há cinquenta anos continua vivo e de boa saúde

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