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Miguel Cunha o “Menino de Ouro” do Clube Atlético Riachense que o quer continuar a ajudar a crescer

Depois de 25 anos a vestir a camisola do Clube Atlético Riachense, o capitão Miguel Cunha resolveu descalçar as botas. Mas não resistiu ao apelo do associativismo, uma característica da família Cunha, e passou a ser o director desportivo do clube do seu coração. Mas Miguel Cunha é muito mais do que isso. Seguindo as pisadas do seu avô, Fernando Cunha, é agricultor e dirigente associativo muito activo porque garante: “Não me esqueço das lições de solidariedade dadas pelo meu avô e pelo meu pai”.

Começou a jogar futebol no Riachense muito cedo?Comecei a dar uns pontapés na bola aos sete anos, quando com outros amigos, uns mais velhos outros da minha idade vínhamos aqui para o campo, ainda pelado jogar, e por aqui me mantive como jogador durante cerca de 25 anos.Teve convites para jogar noutros clubes. Porque é que nunca saiu?Uma das razões foi porque sempre me senti bem aqui no clube. Fui acarinhado por todos e por isso sair só por sair, nunca valeu a pena. Outra é o facto de Riachos e o Riachense serem a minha terra e o clube no meu coração.Foi esse bairrismo, típico das gentes de Riachos que o fez jogar futebol durante 25 anos no Riachense?Sim, esse bairrismo e o amor que eu tenho a este clube. Lembro-me de uma frase que o meu avô disse antes de falecer, Riachos está condenado a crescer. E eu revejo-me diariamente nessa frase e tento sempre ajudar a que isso aconteça.Ao longo destes anos todos sentiu sempre que as pessoas estiveram consigo?Sim. Senti sempre algum orgulho, no bom sentido, em ouvir as pessoas dizer que o Miguel Cunha é um bom capitão. De resto ficam as pessoas que dizem que eu sou muito mau ou as que dizem que sou muito bom, faço bem a diferença entre uma coisa e outra. E o balanço é francamente positivo.O Miguel Cunha também é conhecido a nível geral, como um homem que vivia o futebol exactamente como um desporto para criar amizades?Gosto de sentir isso! Embora dentro do campo fosse um jogador muito competitivo, orgulho-me de ser leal, respeitador e educado para com todos os meus adversários. Uma das minhas principais características é a humildade, cultivei-a desde que cheguei ao Riachense e é isso que hoje tento transmitir aos mais jovens. Sentirmo-nos reconhecidos e acarinhados é muito importante, faz-nos bem ao ego e faz-nos crescer como homens.Há algum momento que recorde com mais satisfação ou tristeza?Há muitos momentos. Recordo com tristeza o dia em que o meu avô faleceu. Havia jogo e eu fui avisar o meu pai, que de imediato me disse que o meu avô sempre disse que se morresse em dia de jogo queria que eu fosse jogar. Fui e empatámos. Estivemos a perder até muito perto do fim e acabámos por empatar. Os meus colegas correram para mim e num longo abraço ofereceram-me o golo, foi um dia que não mais esqueço.No fim-de-semana seguinte, por ironia do destino, jogámos com o Tomar, ganhámos e eu fiz dois golos. Parecia que estava o meu avô a olhar por mim! E momentos de satisfação?Desses tenho muitos. Recordo-me especialmente de um jogo fantástico com o Rio Maior, quando subimos de divisão, foi o chamado jogo do título, por todo o ambiente que o rodeou.E lesões graves?Tive o momento pior quando parti o tendão de aquiles. Foi um momento muito mau, que consegui vencer. Como foi a recuperação?Tive um acompanhamento brilhante. Tive muita sorte. O médico quando me operou disse-me para eu deixar de jogar futebol, mas mais uma vez aqui o Riachense mostrou que é um clube diferente. Os dirigentes de então colocaram-me a recuperar em Lisboa no melhor recuperador que existe em Portugal. O António Gaspar, que é o fisioterapeuta da Selecção Nacional e de muitos dos grandes jogadores portugueses e estrangeiros, que fez com que passados quatro meses estivesse de novo a jogar futebol. Começou a jogar nos seniores muito novo?Sim, tinha 17 anos. Foi o José Moita que apostou em mim como defesa esquerdo, é um dos treinadores que mais me marcou. Mas aprendi muito com todos os técnicos com que trabalhei ao longo destes anos todos tive sempre uma excelente relação com todos. Foram 25 anos com a camisola do Riachense vestida. Já sente saudades de andar dentro do campo?Muitas saudades mesmo. E com o aproximar da pré-época parece que o nervoso miudinho começa a manifestar-se com mais acuidade. Mas penso que como tudo na vida tem o seu momento de paragem, e eu estou consciente de que tinha chegado a altura de parar. Agora há que ultrapassar esta fase.Qual a parte boa do futebol que guarda com mais carinho?Sem dúvida todas as amizades que ficam entre praticamente todos os adversários que encontrei pelo caminho. Mais do que ganhar a este ou aquele, foi realmente as amizades que deixei.A maior rivalidade existente era com o Torres Novas?Sim. Para quem como eu fez dezenas de derbis desses resta dizer que é um jogo especial. Faz lembrar aqueles jogos da Liga dos Campeões, em menor escala é certo, porque tudo o que se cria à sua volta é extraordinário. E mais ainda quando depois existe uma disputa sã e amiga.Chegou a falar-se em Miguel Cunha sair para o Torres Novas. Isso deu alguma polémica, aconteceu mesmo?Houve apenas uma abordagem ou duas, sempre com grande respeito por mim e pelo Riachense. Na altura empolou-se um pouco a situação. Falou-se demais, eu tenho o direito de poder falar com todas as pessoas.Mas tem que reconhecer que só o facto de se falar em saída já foi uma coisa difícil de entender?Sim reconheço. Mas isso depende da forma como quisessem ver as coisas. Afinal o meu avô foi presidente da Câmara de Torres Novas durante muitos anos, o meu pai jogou no Torres Novas, a minha esposa é de Torres Novas, a minha filha nasceu em Torres Novas, estudei em Torres Novas. Sou de Riachos e gosto muito de ser riachense, mas há muita coisa que me liga a Torres Novas. Contudo volto a dizer que se empolou muito as coisas naquela altura. Um director desportivo que quer ser apenas um amigo.

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