Ela diz: “Sou a presidente, mas não sou a presidente. Sou da cozinha, do balcão, sou de todo o lado”. E ele: “Um dia deram-me um chapéu para eu fazer de capataz [numa peça de teatro] e desde que o enfiei na cabeça, só me apetecia cantar. Ainda hoje é assim, sempre que uso o chapéu canto tudo, Emanuel, José Alberto Reis… várias canções”. Ela é Sisaltina Brissos, de 74 anos, e assumiu a presidência há sete. Ele é Francisco Ruela, de 69 anos, vice-presidente. Constituem o núcleo duro da direcção da Comissão Unitária de Reformados, Pensionistas e Idosos de Vila Franca de Xira (CURPI).Dos momentos passados ao leme da instituição, recordam com nostalgia as tardes de baile, que chegavam a juntar cerca de duzentas pessoas. Há já quase um ano que o salão parece um túmulo. Nem música nem passos de dança. A vizinha de cima não queria barulho e proibiu-os. Mas no espaço de convívio resiste ainda o entusiasmo dos homens a jogarem às cartas – “fazem um barulho que nem fazem ideia”, diz ela – e há um baralho inteiro de histórias para contar. “Até se dizia por aí que aqui se arranjavam casamentos”. E não se arranjam? “Aconteceu uma vez, e ainda bem que aconteceu, mas o objectivo nunca foi arranjar casamentos para ninguém”, defende Francisco Ruela.Quem passa na Rua Doutor Miguel Bombarda, também conhecida como Rua Direita, não fica indiferente à peculiaridade do balcão da CURPI. Lá dentro, uma colectividade que aos 26 anos de idade recebeu a promessa de ter casa nova ainda antes de chegar aos 27. Uma instituição com cerca de 180 associados que organiza passeios, aulas de ginástica e que já organizou bailes, teatros e pratos para apresentar em festivais de gastronomia. Ela: “Gosto mais de dançar a valsa”. Ele: “Adoro ver caras novas e bonitas”. Sílvio Leal Mendes