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Festas populares cada vez mais caras e menos religiosas

Escassez de voluntariado obriga a criação de novos modelos para continuar a tradição

Os cantores conquistaram espaço aos santos. Os voluntários são menos. As despesas aumentaram e as autarquias foram obrigadas a abrir os cordões à bolsa.

Carlos Falua recorda que há 25 anos as festas do Porto Alto eram ornamentadas com varas de eucalipto onde se colocavam bandeiras e adereços feitos à mão por um conjunto de voluntárias. Hoje a decoração da festa é feita com arcos iluminados, colocados por uma empresa contratada e custa mais de oito mil euros. As tranqueiras que vedam o recinto das largadas de toiros são feitas em madeira tratada e são colocadas pelos funcionários da junta de freguesia. “Antes era a comissão que fazia tudo. Desde cortar as varas no terreno até à montagem de toda a festa. Hoje temos mais ajudas da câmara e da junta”, explica o coordenador das festas daquela localidade, que decorrem de 17 a 21 de Julho. A festa, que apesar de tudo mantém o seu cariz popular e ainda mobiliza meia centena de voluntários, aposta nos concertos com grupos e artistas de topo e nas largadas de toiros. Custa mais de 70 mil euros. A pouco e pouco, as autarquias foram obrigadas a assumir a organização de muitas festas populares, para não as deixarem desaparecer. A falta de tempo e de vocação para o voluntariado obrigou à procura de novos modelos de organização. Festas cuja organização pertença, na totalidade, à chamada sociedade civil, são raras. Ou há subsídio, ou apoio logístico, ou as duas coisas. “Antigamente as pessoas tinham pouco com que se entreter e as comissões de festas eram uma forma de ocupar o tempo. Para as raparigas era a única forma de poderem sair de casa e aproximarem-se dos rapazes para os namoricos”, explica Carlos Falua. As festas foram responsáveis por vários casamentos porque eram uma fonte de aproximação dos jovens.A falta de voluntários é suprida pelo recurso a funcionários municipais. A exigência do público obriga à contratação de artistas caros. A prata da casa já não chega. Festa sem o cantor da moda não é festa. Em Coruche (Nossa Senhora do Castelo), na Chamusca (Semana da Ascensão), na Azambuja (Feira de Maio) e em Vila Franca de Xira (Colete Encarnado), quatro das festas de maior expressão da região são os municípios que suportam todas as despesas. As câmaras envolvem as associações e os populares na organização, mas os voluntários não correrem o risco de ter que responder por eventuais dívidas que fiquem no final dos festejos.Mas não é assim em todo o lado. Em Samora Correia, as festas de 2007, em honra das Nossas Senhoras da Oliveira e de Guadalupe, deixaram um prejuízo de mais de 10 mil euros na tesouraria da Associação Recreativa e Cultural Amigos de Samora (Arcas). A nova comissão, recém-nomeada, está apostada em endireitar as contas e organizar sem sobressaltos as festas que decorrem de 14 a 18 de Agosto. João Gomes, coordenador da comissão, diz que a gestão tem de ser rigorosa porque “não se pode gastar o que não se tem”. A festa vai custar cerca de 75 mil euros, um valor que só é possível graças ao trabalho voluntário de mais de meia centena de pessoas. Os organizadores acreditam que a festa custaria mais do dobro se fosse organizada pelas autarquias.A componente religiosa de algumas festas também foi cedendo terreno. No Porto Alto, as festas são, de há três anos para cá, em honra de Nossa Senhora de Guadalupe, mas o único momento religioso é na tarde de domingo com a homilia seguida de procissão. Em Benfica do Ribatejo, Almeirim, a igreja católica saúda a festa como oportunidade de convívio mas não se envolve na organização há 16 anos. A festa religiosa foi suspensa. Na edição deste ano a única nota religiosa foi dada pela Igreja Evangélica da Assembleia de Deus que ocupou um stand no espaço dedicado às actividades culturais e económicas.

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