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“Sou inteiramente livre porque faço o que quero quando quero”

“Sou inteiramente livre porque faço o que quero quando quero”

Ana Maria Malta só se dedicou à pintura a partir dos 45 anos

Ana Maria Malta é a artista plástica de Vila Franca de Xira que só se dedicou a tempo inteiro à pintura depois dos 45 anos. Pinta o que gosta e o que quer, de forma livre. Em 2008 veio o reconhecimento. Expôs quadros na Artexpo de Nova Iorque e recebeu um convite para expor quarenta obras em Filadélfia.

Ana Maria Malta diz que foi, é e será sempre uma trabalhadora ao serviço da cultura. Com um atelier em Vila Franca de Xira, dedica intensamente os seus dias à pintura. “Aqui passo os meus dias, medito muito, estudo, faço as minhas experiências e gosto desta forma de estar”, descreve.A artista de 59 anos cresceu rodeada de livros mas só depois dos 45 conseguiu dedicar-se à arte a tempo inteiro. Pelo meio, teve o “privilégio de ter visto as melhores obras dos melhores artistas” ao vivo. “É impressionante estar diante de obra de Monet, Van Gogh, Picasso e Pollock, por exemplo”, partilha.Depois vieram os “grandes mestres”. As aulas que teve com a escultora Stella D’Albuquerque e com o Mestre Óscar de Carvalho deram-lhe técnica para exprimir a sua sensibilidade. “Impressionaram pelo lado artístico mas também humano. Foi uma escola sobre a maneira de estar na vida totalmente diferente”, conta.Ana Maria Malta não encaixa na sociedade “do parecer e não ser”. E assume todo o seu dia-a-dia nas telas que pinta. É uma “mulher da manhã”. Rebelde mas disciplinada, socorre-se da rotina. Levanta-se cedo todas as manhãs e “todos os dias é obrigatório ir ao atelier”. Pinta, lê, medita, cria. Porque, afirma, “arte é sempre”.Considera-se livre. Faz o que quer, pinta o que quer e como quer. Do figurativo ao abstracto, do pastel seco à aguarela, tudo tem lugar no universo artístico da pintora vilafranquense. Apenas uma restrição: “A arte que implique violência choca-me um bocadinho. Compreendo que às vezes seja preciso despertar consciências mas prefiro não o fazer de forma violenta”, esclarece.A acompanhar as obras espalhadas pelo atelier, estão frases literárias semeadas nas paredes e janelas. Uma: “Crio as coisas como penso nelas, não como as vejo”; Outra: “Tenho muitas coisas a provar a mim mesma. Uma delas é que posso viver a minha vida sem medo”. Ana Maria Malta explica porquê: “A literatura dá-nos força para seguir em frente. Procuro interpretar tudo para me ajudar, são muletas. Temos que nos basear no que já foi feito de bom pelos seres humanos”.Na mesa de leitura estão os livros que a ajudam a fazer uma “dieta espiritual”. Obras sobre o trabalho feito a nível mundial sobre a pintura estão na linha da frente. “Gosto de estar a par, são livros que me dão suporte para ir desenvolvendo tudo aquilo que fui acumulando”, explica. E porque “arte é sempre”, procura também na música a inspiração. “Até no hip-hop eles dizem coisas muito acertadas”, diz.Outra fonte de equilíbrio é a vida familiar. Casada há mais de trinta anos, tem um filho e quatro netos, a artista plástica coloca a família com prioridade da sua vida – “só depois vem a pintura”, explica. Se uma não funcionar, a outra também não funciona, esclarece. “Se não tivesse tido a oportunidade de desenvolver este trabalho, não teria aguentado certos desgostos que a vida às vezes nos traz”, conta. E ao contrário: “Se fico uma ou duas semanas sem vir ao atelier fico completamente alterada”.Em casa, inunda a sua família com arte. “Quando estou com os meus netos, falamos de pintura e eles pintam também. Estão habituados a ir a exposições e contactarem com as minhas amizades. Os serões comigo são passados a ler e tento levá-los a todo o lado para lhes despertar a sensibilidade”, conta.Fala-se de arte mas nem pensar pintar em casa. “Seria um desastre”, confessa. “Até porque não consigo, tenho que limpar o pó e arranjar a casa. Faço todo o trabalho doméstico que as mulheres de família fazem, mas não consigo ficar fechada em casa”, esclarece. “Pintei no escritório, quando ajudei na empresa do meu marido, e a minha secretária começou a ser uma anarquia completa, era tinta misturada com números de telefone. Tive que parar de o fazer”, complementa.Ana Maria Malta integrou a geração em que “as mulheres saíram para a rua”. Trabalhou durante 30 anos como analista química numa empresa do concelho e findado o trabalho dedicou-se finalmente à arte. “Pintar é o ar que respiro”, não duvida. A sua primeira exposição individual foi realizada na Escola Alves Redol, em Vila Franca de Xira, há pouco mais de dez anos. E a partir daí não mais parou de pintar e expor pelo mundo. Se lhe pedimos uma definição de arte, a resposta é imediata: “Arte é sempre, sempre!”. É a grande certeza de uma mulher para quem “pintar flores é uma forma de estar”.
“Sou inteiramente livre porque faço o que quero quando quero”

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