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Vizinhança das prisões nunca incomodou habitantes de Alcoentre

Vizinhança das prisões nunca incomodou habitantes de Alcoentre

Reclusos e familiares são clientes do comércio local e foram criados alguns empregos

Habitantes de Alcoentre dizem nunca ter tido problemas com reclusos ou familiares que os visitam e admitem que as prisões ajudaram a evitar a desertificação da vila. Isto numa altura em que está na agenda a polémica sobre a localização de um estabelecimento prisional em Fazendas de Almeirim.

As duas prisões do concelho de Azambuja estão instaladas na freguesia de Alcoentre. A população que vive nos arredores dos estabelecimentos prisionais não tem queixas a fazer e até acha que a presença das prisões ajuda a desenvolver a localidade. José Carvalho tem 80 anos e vive em Alcoentre há mais de quarenta. Sentado numa caixa de fruta, na mesma rua onde se situa a entrada da prisão, diz com naturalidade que nunca teve problemas com ninguém. “Para mim nem foi bom nem foi mau, mas foi bom para os que conseguiram lá emprego”, esclarece. Teve um café durante quatro décadas em Alcoentre e admite que as visitas aos reclusos lhe garantiam mais clientes.“A gente não liga nenhuma a isso”, confirma outra habitante de Alcoentre, Olinda Faria, de 60 anos. “As pessoas que cá vêm visitar não incomodam, seguem a vida deles e nós a nossa”, complementa. A proprietária de uma mercearia confessa que as visitas já significaram maiores rendimentos para o seu negócio, mas agora “vem tudo aviado dos supermercados”. Olinda Faria nunca sentiu receio por ter uma prisão tão perto de casa. Os assaltos que de vez em quando ocorrem na localidade não têm qualquer relação com os reclusos, diz. “A prisão não mudou nada, Alcoentre continua igual ao que era antes da prisão”, analisa.Ermelinda Colaço, 66 anos, tem uma loja ainda mais próxima da prisão e uma opinião ainda mais positiva. “Se não existisse aqui a cadeia, isto era um deserto. Só tenho pena que não venha para cá outra”, afirma. “Ninguém incomoda, as famílias vêm cá ao fim-de- semana e gastam dinheiro cá”, garante. As traseiras do seu quintal estão viradas para o território da prisão mas isso não a incomoda. “Vejo-os a trabalhar no campo e nas oficinas”, conta. A comerciante de electrodomésticos tem a prisão como um dos seus habituais clientes. “De vez em quando vendo para lá televisões e alguns reclusos quando saem passam por aqui para comprarem rádios”, explica. Mais afastada do centro de Alcoentre está a prisão de Vale de Judeus. Na população mais próxima, Tagarro, localizada mesmo no limite do concelho de Azambuja, o espírito é semelhante. “Não tem influência nenhuma”, explica Mário Morgado, 78 anos. “Mesmo quando fugiram alguns, nunca prejudicaram ninguém aqui”, complementa. O morador tem uma propriedade com eucaliptos junto à prisão de Vale de Judeus e não tem qualquer receio em ir para lá. Quando era novo até teve um colega de escola que era recluso. “Convivia com ele, era um amigo normal”, conta.Quem já trabalhou na área administrativa de ambos os estabelecimentos prisionais foi o vice-presidente da Câmara de Azambuja, Luís de Sousa. Para o autarca, nascido em Alcoentre, as duas prisões trouxeram “uma certa vida à terra”. A convivência dos habitantes locais sempre foi saudável, com a prisão e com os próprios reclusos, defende. Para além dos postos de trabalho criados, de que beneficiou toda a região, as prisões chegam a ajudar as instituições da vila, através de trabalhos efectuados pelos reclusos, quando solicitados.Na opinião do autarca, nem quando há a fugas a presença da prisão se revela perigosa para os habitantes de Alcoentre. “Quando fogem o que querem é ir para longe da cadeia, não se escondem no sítio onde sabem que há a presença dos guardas prisionais”, explica. Luís de Sousa está tão habituado à existência das prisões em Alcoentre que garante até ter pena que a nova prisão, prevista para o concelho de Almeirim, não vá também para lá.
Vizinhança das prisões nunca incomodou habitantes de Alcoentre

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