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“A arte de pintar é uma magia”

“A arte de pintar é uma magia”

Maria Filomena D’Alhandra tem 73 anos e é uma apaixonada pelo Tejo

Maria Filomena D'Alhandra é uma "amante do Tejo" e da vila onde vive. Pinta sobretudo paisagens naturais do país, com especial destaque para o Ribatejo e a temática taurina. Impressionista, paisagista e figurativa, assume com 73 anos a vontade de nunca parar de pintar. É uma entusiasta da pintura de rua e a actividade já lhe rendeu prémios por todo o país. Começou a assinar exposições individuais em 1990 e hoje só não lhes dá continuidade por culpa de um problema no ombro que a impede de pintar tanto quanto desejaria.

Maria Filomena D'Alhandra gosta de pintar grandes paisagens, com grandes distâncias e fundos muito longos. Essa característica da sua pintura levou a que tenha sido comparada com Cézanne, um dos artistas da sua eleição, numa altura em que a pintora ainda não conhecia a sua obra. Dá total primazia ao figurativo, ao impressionista e ao paisagista.Mais do que obras de arte, considera que as suas obras são documentos. Como a paisagem de Vila Franca de Xira que pintou e inclui a antiga fábrica de arroz. "Vai desaparecer daqui a pouco tempo, isto é um documento histórico, não tenha dúvida nenhuma", advoga. "Gosto sobretudo de pintar o meu país, representá-lo". Paisagem e natureza são as palavras-chave do seu trabalho enquanto pintora. O Ribatejo, o Tejo e os motivos taurinos estão na linha da frente dos temas mais representados nas suas obras.Para além de Cézanne, Maria Filomena D'Alhandra não resiste à obra de Renoir. Goya e Picasso (na sua fase figurativa) são os outros nomes que não esquece quando lhe perguntamos pelas maiores referências da pintura mundial. Dentro de portas, destaca o trabalho do Mestre João Mário (detentor de um museu em Alenquer) e de Alfredo Keil.A arte é para a pintora "um motivo de vida". Só os netos e a família valem mais que a pintura. "Mais que tudo, aliás", reforça. E a "arte de pintar é uma magia". "Na minha pintura, o que é branco nunca se pode pintar de branco e o que é preto não se pode pintar de preto. As cores que a gente vê não são as cores que se põem na tela", explica a artista plástica.Os conceitos e a prática foram desenvolvidos com os ensinamentos do Mestre Alfredo dos Santos Vieira - que lhe abriu as portas para a sua primeira exposição individual, em 1990 -, de Gabriela Mota e do Mestre João Mário, de Alenquer. "É considerado um dos melhores 32 pintores da Europa e que exerceu uma grande influência sobre mim", assume.Da arte, guarda o efeito terapêutico que teve sobre a sua vida. "Conheci pessoas maravilhosas que me ajudaram, apoiaram e incentivaram. E conheci o melhor do meu país e das suas gentes", conta a pintora que é uma entusiasta da pintura de rua. Na escola, os colegas de turma já aproveitavam o seu talento para lhe "encomendarem" capas de trabalhos e pedidos semelhantes, mas a artista alhandrense nunca pensou que pudesse enveredar pelo mundo da pintura. "O meu falecido marido queria muito que eu fosse aprender pintura para Lisboa, mas com filhos, marido e uma profissão não era nada fácil. Até porque eu nunca me capacitei que era capaz de pintar", conta.Com a viuvez precoce, em 1986, e depois de terem sido precisos quatro anos para conseguir sair de uma situação difícil, Maria Filomena D'Alhandra entendeu que não era a dormir e a tomar comprimidos que superava a situação e decidiu procurar mestres de pintura. Nascia em 1990 a artista que tanto pinta Alhandra - quadros que não tem para mostrar porque os vende todos mal os termina - e o Tejo, quando era criança, vivia numa casa em que quando a maré enchia, as águas no rio batiam na parede do seu quarto. E também daí pode vir a sua paixão inexplicável pelo Tejo. "Aquilo era um paraíso. Eu, a partir do muro de minha casa, via os golfinhos e os peixes a saltarem. Os golfinhos aproximavam-se e saltavam em fila, era um encanto", recorda. "O meu Tejo dava-me tudo: imagem, comida e beleza", complementa. Sensibilidade, autocrítica, capacidade de observação e disciplina são as características que Maria Filomena D'Alhandra considera fundamentais em qualquer artista. Como Mozart e Bach, que idolatra enquanto compositores, e como Cesário Verde, autor de um soneto que deu origem a uma pintura sua. Poesia que a artista considera como sendo "a arte que mais se aproxima da pintura". "A poesia escrita por alguns poetas é uma verdadeira aguarela", defende.Aos 73 anos de idade, Maria Filomena D'Alhandra pinta em casa, na sua vila do coração, mas tem reduzido a produção. O investimento de tempo na educação dos netos e um problema físico que tem no ombro impedem-na de pintar mais. "Tenho até convites para exposições individuais em grandes galerias, mas não posso aceitar. Não posso pintar mais de uma hora seguida que o meu ombro começa logo a queixar-se", conta. "Mas espero viver muitos anos para pintar muito mais e deixar mais ricos os que gostam de mim", conclui.
“A arte de pintar é uma magia”

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