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Barretes dos campinos vêm de Castanheira de Pêra

Chineses também fabricam o símbolo do Ribatejo e a preços imbatíveis

Os tradicionais barretes verdes dos campinos do Ribatejo, que também são usados pelos forcados que pegam toiros, são feitos na serra da Lousã numa pequena fábrica localizada na zona industrial do Safrujo, em Castanheira de Pêra (distrito de Leiria), mas a concorrência asiática está a quebrar a tradição.

Maria Antónia trabalha há mais de três décadas na Casa dos Bibes, em Santarém. Além de batas, aventais e de algumas rendas, vende também os tradicionais barretes de campino. Por 10 euros cada. Diz que os vai buscar ao Armazém José Pinto, na cidade escalabitana. Mas é de bem mais longe que eles chegam. Os barretes símbolo do Ribatejo, feitos em pura lã de ovelha e com o forro em algodão, são fabricados numa pequena indústria têxtil do Parque Industrial do Safrujo, na vila de Castanheira de Pêra (distrito de Leiria). Curiosamente, o barrete verde, debruado a vermelho, que é usado por forcados e campinos, não serve de ex-libris apenas ao Ribatejo. Castanheira de Pêra também o escolheu como símbolo. E a câmara municipal oferece-o como recordação a visitantes ilustres, como aconteceu, por exemplo, com Jorge Sampaio e Ramalho Eanes. “Hoje vendemos os barretes de Norte a Sul do país, mas com os campinos em vias de extinção, são sobretudo as lojas de artigos tradicionais que nos fazem as encomendas”, afirma o actual proprietário da Fiortêxtil, José Tavares, mais conhecido em Castanheira de Pêra, por Zé dos Barretes.A FiorTêxtil é a única fábrica no país, que se conhece, a produzir estes adornos do tradicional traje ribatejano. No entanto, a pouca procura por parte dos campinos e dos forcados e a concorrência estrangeira (muito particularmente a asiática), já começaram a afectar o negócio. “Como qualquer fabricante, tenho muito receio dos asiáticos. Para ter uma ideia temos capacidade para fazer 500 barretes por dia, mas hoje já ninguém nos encomenda isso”, comenta José Tavares.Em Junho passado, foram 18.000 os barretes de campino que a Fábrica Licor Beirão encomendou a uma indústria no Bangladesh, para oferecer aos apoiantes da selecção portuguesa de futebol durante o Euro2008. Em Porto Alto (Benavente) O MIRANTE encontrou um armazém asiático que comercializa barretes verdes e vermelhos por três euros. Vêm da China e são feitos em algodão. A centenária fábrica do Sabrujo passou por vários donos, mas a feitura dos barretes tenta manter a tradição. Depois de fabricada a malha é devidamente tratada, recortada e colocada em formas de sol, onde se obtém o seu formato e ao fim de algumas horas de secagem, o restante acabamento é totalmente artesanal, mantendo assim a tradição na sua produção. No início do século passado, existiam em Castanheira de Pêra mais sete fabricantes de barretes. Não se sabe ao certo, quando é que a primeira fábrica de barretes foi fundada. O certo é que hoje, só a centenária Fiortêxtil, resiste à economia global. E, resistindo vai fabricando para além dos barretes, peúgas de homem e senhora. Resta saber até quando.

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