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Os pagadores de promessas

Fé e emoção invadiram cerimónias religiosas em Samora Correia

Quando toda a esperança parece perdida muitos viram-se para a fé e esperam ajuda nos momentos de aflição. Todos os anos dezenas de pagadores de promessas rumam à procissão de Nossa Senhora de Oliveira e de Guadalupe em Samora Correia

Na tarde de domingo o povo saiu à rua e encheu o largo em frente à igreja matriz de Samora Correia, concelho de Benavente. A maioria é da terra, mas também estão por lá muitos turistas, emigrantes e convidados. Todos se juntaram para ver passar a procissão em honra de Nossa Senhora de Oliveira e de Guadalupe. A banda está pronta e impaciente. Os populares também. No interior do templo está fresco, ao contrário do calor abrasador que se sente na rua. Ainda assim, ninguém desgruda para não perder o melhor sítio. Dentro da igreja estão os santos, ladeados de flores e algumas notas de euros. Atrás estão sentados os pagadores de promessas. Pessoas que acreditam que a fé move montanhas. Sente-se a emoção dos novos e velhos que, juntos, seguram na mão velas da sua altura, ramos de flores, fotografias de entes queridos e alguns objectos pessoais. Outros optam por vir descalços ou de joelhos. A alma está ao alto e pedem ajuda ao divino para lhes dar força para enfrentar os problemas que a vida lhes atira.“O meu marido está muito mal e os médicos não acreditam que vá conseguir… como se diz… viver mais tempo…”, balbucia Cidália Lima, 63 anos, com as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara. No Natal de 2005 foi diagnosticado ao marido, Rui, um cancro no estômago. Está em casa e não pôde vir. “O ano passado pedi mais tempo com ele e Nossa Senhora deu-me. Estou cá a cumprir a minha promessa e a fazer uma nova”, conta-nos Cidália, que vai transportar o andor descalça, tal como prometera.Entre os pagadores de promessas encontramos Alfredo Cruz, emigrante na Suiça. Há quatro anos prometeu a Nossa Senhora de Guadalupe que, se encontrasse um emprego bom na Suiça, voltaria todos os anos, descalço e com duas velas nas mãos. “A minha fé é grande e a minha devoção ainda maior. A minha vida estava um caos e a fé salvou-me. Todas as pessoas deviam experimentar”, conta-nos. Alfredo visita Samora Correia todos os anos, em Agosto, e caminha sempre descalço atrás do andor. “Não me importa o que as pessoas pensem, desde que eu esteja em sintonia com Nossa Senhora”, remata.Porém, nem todos conseguem lidar com a exposição. “Vim pedir a Nossa Senhora que me ajude, porque estou desempregada, tenho dois filhos e a vida não está nada fácil”, conta-nos Aurora Dias, que cumpre a sua promessa de forma mais recatada. “Sei a fé que tenho e acredito em Deus. Ir descalço ou calçado é, para mim, irrelevante. O importante é que se acredite”, conta Aurora, que começa a caminhar atrás de um dos andores.Zelar por um filho, de 23 anos, que foi trabalhar para o estrangeiro, auxiliar a recuperação de uma menina tetraplégica ou até ajudar uma estudante a entrar para a faculdade de medicina. Os pedidos variam e a emoção cresce a cada passo. Na recta final da procissão os populares batem palmas e os pagadores de promessas despedem-se da sua santa. “Por favor, não me ignores!”, sussurra Cidália Lima, ainda lavada em lágrimas e de joelhos, junto da imagem. Rezou durante uns minutos e afastou-se. Cidália foi das poucas pagadoras de promessas que esteve sozinha na cerimónia. Para o ano há mais.Ver Vídeo: http://www.omirante.pt/omirantetv/noticia.asp?idgrupo=2&IdEdicao=51&idSeccao=514&id=23787&Action=noticia

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