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Casal de relojoeiros trabalha por amor a uma arte que consideram pouco valorizada

Casal de relojoeiros trabalha por amor a uma arte que consideram pouco valorizada

Família Miranda tem uma ourivesaria há mais de quatro décadas em Vialonga

Trabalho exige muita perícia, paciência e uma boa visão. O conserto de um relógio, por mais simples que seja, pode demorar horas.

Augusta Miranda recebe-nos com um sorriso aberto. Conta que se tornou relojoeira por influência do marido com quem casou há mais de três décadas. Mas garante ter escolhido a profissão certa e não se imagina a fazer outra coisa. Augusta Miranda, 66 anos, e o marido, José Miranda, 72 anos, são os proprietários da Ourivesaria Miranda que funciona há mais de 40 anos, em Vialonga, concelho de Vila Franca de Xira.José Miranda veio de Varziela, uma aldeia do concelho de Cantanhede, distrito de Coimbra, com 15 anos, para trabalhar como vendedor ambulante de ouro e relógios. Um negócio de família ao qual decidiu dar continuidade. Como tinha alguns familiares na zona de Loures resolveu vir à procura de uma vida melhor. Não se arrependeu da decisão tomada.Depois de uns anos a vender ouro e relógios de porta em porta decidiu fixar-se em Vialonga e abrir uma ourivesaria. Para os proprietários da ourivesaria Miranda consertar peças de ouro é mais fácil do que consertar um relógio. As peças muito pequenas dificultam o trabalho que tem que ser muito minucioso. Quer seja um relógio pequeno de pulso ou um relógio antigo de parede. É necessário ter um bom par de olhos e o auxílio de uma lupa. E muita paciência. O conserto de um relógio, por mais simples que seja, pode demorar horas.“Costumo dizer que ser relojoeiro é uma arte que não está ao alcance de qualquer pessoa. É um trabalho que exige muita perícia e paciência. Um conserto tanto pode sair bem à primeira como não funcionar após o primeiro arranjo e ter que se desmontar tudo e fazer de novo até descobrir o problema do relógio. É pena que as pessoas não dêem o devido valor a esta arte”, explica Augusta Miranda.Para Augusta e José Miranda, ser relojoeiro nos dias que correm é muito diferente de há 50 anos quando começaram na profissão. Actualmente, já existem máquinas que vêm calibradas da fábrica. O que facilita muito o trabalho. Antes tinha-se que consertar tudo ao mínimo pormenor com as ferramentas que existiam. Ferramentas essas que Augusta e José ainda hoje utilizam. Pinças, alicate de pontas, chave de fendas, lupa, pinça de garras, suportes para levantar e uma cravadeira que serve para retirar peças que se partem e necessitam de ser substituídas, são alguns dos utensílios necessários para a profissão de relojoeiro.Profissão que, na opinião de Augusta Miranda, já conheceu melhores dias. “A Ourivesaria Miranda é uma das poucas casas do concelho de Vila Franca de Xira que ainda permanece no activo. Os mais jovens não se interessam por esta profissão. A verdade é que esta sempre foi uma profissão muito mal paga. O negócio já não estava bom e desde que a crise financeira se instalou em Portugal que o negócio está a diminuir”, lamenta a relojoeira, admitindo que este é um negócio sem futuro.A pouca concorrência que existe não os assusta. Sabem o que valem e que o seu trabalho e os seus produtos são de qualidade. Prova disso são os clientes que há vários anos vêem propositadamente de Lisboa, e de vários pontos do país, à ourivesaria Miranda, em Vialonga. “O único problema do facto de Vialonga estar muito próxima geograficamente da capital nota-se ao nível das vendas, uma vez que quem não nos conhece opta pelas lojas em Lisboa. Quem já nos conhece faz questão de continuar connosco. Esse é o maior reconhecimento pelo nosso trabalho”, refere o casal.A melhor altura do ano continua a ser a época do Natal. Vende mais ouro do que relógios mas não compensa o investimento. José Miranda já pensou em desistir da profissão. Continuam de portas abertas por insistência da esposa e para estar entretido. O facto de terem uma casa que vende coisas valiosas desperta a atenção dos amigos do alheio. A ourivesaria Miranda já foi assaltada pelo menos três vezes. A primeira há cerca de 20 anos. “Limparam-me a loja em cinco minutos. Nem tive tempo de reagir. Estava com o meu filho, bateram-nos e ainda fui parar ao hospital”, recorda.
Casal de relojoeiros trabalha por amor a uma arte que consideram pouco valorizada

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