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Capela do Hospital da Flamenga vai ser emparedada para evitar vandalismo

Capela do Hospital da Flamenga vai ser emparedada para evitar vandalismo

Presidente da Junta de Vialonga quer salvaguardar o que ainda resta do património

O presidente da Junta de Freguesia de Vialonga vai mandar emparedar a capela do século XVII que integra o Hospital da Flamenga. Um edifício fechado há uma década que continua a ser alvo de vandalismo.

A capela que integra o Hospital da Flamenga, em Vialonga, concelho de Vila Franca de Xira, vai ser emparedada por iniciativa da junta de freguesia local. O edifício é propriedade da Administração Regional de Lisboa (ARS), mas o presidente da Junta de Freguesia de Vialonga está farto de ver o edifício – que foi fechado há uma década - ser constantemente vandalizado.“Emparedar o hospital e a capela é um acto ilegal e a junta não devia fazê-lo uma vez que não tem autoridade sobre o edifício, mas se ninguém se mexe, mexemo-nos nós. Não quero é que me roubem tudo o que ainda está dentro da capela e do hospital. Não podemos permitir que roubem o que é património de todos”, afirma Manuel Valente (CDU). A capela data do século XVII.Os vândalos saltam, durante a noite, o portão das traseiras do hospital e alcançam o interior do edifício através de uma janela partida. O autarca diz que vai tomar medidas drásticas para evitar que desapareçam mais objectos valiosos do interior da capela como aconteceu com imagens de santos e pedra mármore. “Só não levaram o altar-mor porque não o conseguem desmontar”, afirma Manuel Valente.Segundo o autarca, o Ministério da Saúde pretendia entregar o espaço para vender. Junta de freguesia, câmara e Comissão de Utentes de Saúde de Vialonga opuseram-se à ideia. Há cerca de dois anos a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira propôs que o espaço fosse entregue à autarquia ou colocado ao serviço da população.A Administração Regional de Saúde nunca chegou a dar uma resposta e a situação foi-se agravando. “Foram gastos 350 mil euros com a recuperação da ala poente e foi tudo destruído e vandalizado. Alumínios, portas, vidros duplos. Partiram tudo. Por isso decidimos emparedar o hospital. E, brevemente, vamos emparedar também a capela para não nos roubarem mais nada”, garante o presidente da Junta. Até ao fecho desta edição não foi possível obter uma reacção da Administração Regional de Saúde de Lisboa. População revoltadaA população de Vialonga não esconde a revolta por ver o estado de degradação e abandono a que o Hospital está votado. Fernanda Reis, 53 anos, um dos elementos da Comissão de Utentes de Saúde de Vialonga, não consegue perceber por que é que a ARS investiu tanto dinheiro no edifício e deixou-o degradar-se novamente. “Quando investiram na requalificação parcial do hospital havia um segurança que protegia o edifício toda a noite. Assim que o mandaram embora começaram logo os actos de vandalismo. É muito triste saber como o hospital era e naquilo que se tornou. E o problema é que os responsáveis políticos não se interessam pelo assunto”, acusa.Para Manuel Pereira, 70 anos, residente em Vialonga há mais de quatro décadas, o problema foi ter-se fechado o hospital logo a primeira vez. Para o reformado é chocante ver no que se tornou uma das unidades mais bonitas do país. “O hospital era digno de se ver, muito bonito. Custa a acreditar que os políticos e o executivo municipal não se interessem por recuperar um espaço imponente como este”, afirma.Fernanda Reis afirma que a população tem feito tudo para não deixar morrer este assunto e defende a reabertura. “É um crime ter um hospital destes fechado com tantos problemas de saúde no concelho. Numa altura em que sabemos que o Hospital de Vila Franca de Xira está a transbordar, é muito mau que este hospital não esteja em funcionamento”, diz.Dez anos de vandalismo no antigo sanatórioARS investiu cerca de 350 mil euros na requalificação do edifícioPortas e vidros partidos. Paredes estragadas e equipamento sanitário espalhado no meio das salas. Garrafas partidas e muito lixo. O Hospital da Flamenga - fechado há uma década - continua a ser alvo de vandalismo. O edifício imponente de dois andares já foi emparedado, mas os intrusos continuam a ter acesso ao espaço através da capela (ver texto ao lado). No pátio do hospital as ervas têm mais de meio metro. Resta uma fonte e a sala de fisioterapia onde ainda é possível ver o varão de apoio para os doentes. Na sala ao lado encontram-se, espalhados, os arquivos do Hospital da Flamenga.No final da década de 90 a Administração Regional de Saúde (ARS) investiu cerca de 350 mil euros na requalificação parcial do edifício e em equipamentos de saúde que não chegaram a ser utilizados e não resistiram aos actos de vandalismo.Situado num antigo palácio senhorial, o Hospital da Flamenga já foi também um sanatório durante vários anos, ainda no regime de Salazar, e antes da revolução dos cravos esteve fechado durante muito tempo. Já após o 25 de Abril, foi alvo de um bem sucedido movimento popular, com vista à sua abertura, mas alguns anos depois voltou a encerrar. Mais recentemente, funcionou como unidade de retaguarda do Hospital Reynaldo dos Santos de Vila Franca de Xira até 1998, data em que encerrou para obras sem que tenha voltado a abrir as portas. A reabertura esteve prevista para 1999 mas foi consecutivamente adiada. Em 2003, esteve em cima da mesa um protocolo com entidades privadas que se mostravam interessadas no hospital, mas a possibilidade também foi abortada. Três anos depois, a ARS anunciava que o Hospital da Flamenga não seria reconvertido para unidade de saúde por falta de condições e que o imóvel seria entregue à Direcção Geral do Património. Em Abril deste ano cerca de 250 pessoas caminharam reclamando a melhoria das condições de saúde em Vialonga. A Comissão de Utentes quer ver reaberto o Hospital da Flamenga e recorda que há na vila três mil pessoas sem médico de família.
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