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Quarenta anos à procura da sorte grande

Quarenta anos à procura da sorte grande

António Morganheira vende jogo e lotaria há quatro décadas em Vila Franca de Xira

Já deu vários prémios, mas nunca ganhou nenhum. Diz que joga sempre com o mesmo número e que não pensa desistir da profissão que abraçou. Nem do sonho de um dia vir a ganhar a sorte grande.

“De vender a sorte grande/confesso, não tenho pena/que a roda ande ou desande/eu tenho sempre a pequena”. Os versos do poeta António Aleixo assentam que nem uma luva a António Morganheira, nascido em Montemor-o-Novo (Alentejo) e que aos 20 anos foi trabalhar para Vila Franca de Xira. Em 60 anos de vida, 40 passou-os a vender cautelas. Mas nunca foi cauteleiro de rua. Começou a vender cautelas, atrás do balcão da antiga Loja Neves. “Na altura era o único sítio em Vila Franca onde se vendia cautelas”, relembra. Está há 15 anos no seu próprio balcão, O Cantinho do António, no largo da Câmara Municipal em Vila Franca de Xira. É um dos representantes oficiais da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. António Morganheira podia definir sorte como fortuna, acaso, maré de felicidade, ventura ou primeiro prémio na lotaria, mas prefere dizer apenas que a sorte se procura e que pode bater à porta de qualquer um. “Temos é de fazer por isso”, acrescenta. Quanto à lotaria, define como “um passaporte para a sorte ou para a falta dela”. Há 40 anos António Morganheira só vendia o Totobola. “Era o único jogo de apostas que existia na altura”, conta. Hoje, vende para além do totobola, o Totoloto, o Euromilhões, a Lotaria Instantânea (conhecida por Raspadinha), a Lotaria Popular e a Clássica. “É difícil dizer o que vendo mais, mas acho que o que tem mais saída é a lotaria clássica e o Euromilhões”. Morganheira diz que a sorte não escolhe idades nem sexos. “As boas apostas batem à porta de homens e mulheres. Já dei prémios aos dois”. Prémios, todas as semanas os dá, mas grandes prémios só aconteceu três vezes. Deu dois primeiros prémios na lotaria Clássica e um segundo prémio na lotaria de Natal. Este último saiu há cerca de quatro anos e foram distribuídos 400 mil euros. “Houve vários vencedores. Vendi este prémio a pessoas desde Azambuja até Alhandra”, conta. António Morganheira, mais conhecido em Vila Franca por “Sr. António”, chega a vender mais de mil cautelas por semana. Vende a sorte grande a novos, menos novos, ricos, remediados e pobres. Ouve muitos choradinhos. “Quando os clientes se vêm lamentar da falta de sorte mando-os sempre jogar outra vez. É o que faço também”, conta. Quanto à crise, que começou a agravar-se há cerca de dois anos, o cauteleiro diz que afecta todos: “Hoje joga-se mais, mas as apostas são muito menores”. Todas as semanas António Morganheira joga no Euromilhões e no Totoloto. Nas suas apostas, usa sempre os mesmos números. Tem uma chave fixa. Diz que os números são secretos e que por isso prefere não revelar, não vão os leitores de O MIRANTE roubar-lhe o eventual golpe de sorte. “Ainda não tive a felicidade de ganhar o primeiro prémio, mas ainda não perdi a esperança. Olhe, mais vale tarde que nunca”, desabafa o cauteleiro. É às sextas-feiras que António Morganheira enche a casa e no Natal que esgota as lotarias. Tem um familiar que o ajuda no negócio. Além das cautelas, vende também revistas e jornais, nomeadamente O MIRANTE, que diz ter uma “boa aceitação na região”. Mas apesar de os vender, Morganheira não lê jornais. “É que infelizmente não tenho vagar para leituras. Isto é sempre uma correria”. Diz que a sua profissão é rentável, mas que para isso tem de trabalhar 13 horas por dia, sete dias por semana, feriados inclusive. “Tem de ser assim e não se pode desistir, senão não valeria a pena”.O que mais gosta na profissão é do convívio com as pessoas, que o vêem como um agente da sorte. No entanto, raros foram aqueles clientes que ganharam a sorte grande e que lhe deram uma palavra de agradecimento. O Sr. António das cautelas gosta daquilo que faz e não pensa em reformar-se tão cedo. “Vou continuar até poder”, diz.
Quarenta anos à procura da sorte grande

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